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Desaceleração faz China repensar modelo econômico

Thomas Kohlmann (av)6 de março de 2015

Após décadas de crescimento de dois dígitos, segunda maior economia do mundo diminui ritmo. Reformas estruturais são necessárias, e governo acena com maior foco no consumo interno e menor dependência de matérias-primas.

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Foto: Reuters

Depois de mais de duas décadas de voo, como vai ser a aterrissagem da economia chinesa no terreno da realidade: suave, dura ou acidentada? Economistas se colocam atualmente essa questão não só na China, mas em todo o mundo. Pois, no momento, os chineses estão no posto de segunda maior economia do planeta, e um pouso duro teria consequências globais.

À primeira vista, parece impressionante a meta de crescimento de 6,9% a 7,1% estabelecida oficialmente pelos dirigentes de Pequim – comparada à dinâmica mais fraca das nações industriais ocidentais. Mas só à primeira vista.

Está claro que um país emergente, com urgentes demandas acumuladas, como a China, depende de taxas de crescimento econômico maiores do que um país plenamente industrializado, como a Alemanha, para criar suficientes postos de trabalho e garantir a paz social. Os economistas situam essa faixa crítica já entre 6 a 8%. A China está correndo o perigo de resvalar para fora desse "corredor de estabilidade".

Firmar-se antes de reformar

A liderança estatal e partidária chinesa estabeleceu uma meta de crescimento mais baixa e pretende reformar a economia nacional. Em vez de investir em mais fábricas cujos produtos são exportados para todo o mundo, o consumo interno é que deverá ser impulsionado.

Como aponta o economista americano Nouriel Roubini, há algum tempo o governo de Xi Jinping reconheceu que não é sustentável o modelo de crescimento adotado até então, de muita poupança e investimentos excessivos, exigindo grande volume de capital. Tal reorientação encontra resistência, naturalmente, e não é algo que possa ser implementado da noite para o dia.

China Nationaler Volkskongress 2013 Xi Jinping & Li Keqiang
Presidente Xi Jinping (esq.) e primeiro-ministro Li KeqiangFoto: Reuters

"É provável que o presidente Xi queira antes consolidar o próprio poder político. Ele está indo de encontro aos grupos de interesses que se beneficiavam do antigo modelo de crescimento: empresas estatais, governos de província, o Exército de Libertação Popular e o setor estatal", enumera Roubini.

Segundo ele, assim que Xi tenha estabelecido sua dominância, poderão ser introduzidas reformas profundas. De fato, muitas das reformas prometidas ainda são aguardadas.

Diferente de outras economias

As empresas alemãs saúdam o fortalecimento da demanda interna e o reposicionamento da economia chinesa numa faixa de qualidade superior, enfatiza Alexandra Voss, diretora-gerente da Câmara Alemã de Comércio e Indústria (AHK) em Pequim.

No entanto, ressalva, também é importante a forma como seja aplicado o programa de reformas do governo chinês. Isso inclui o acesso justo ao mercado, o desbaste da burocracia e o respeito ao Estado de direito. Voss observa que "um ano depois, os detalhes sobre as medidas [de Pequim] continuam relativamente vagos".

Uma olhada para a Alemanha e os Estados Unidos mostra o quanto a economia chinesa se distingue das demais grandes economias nacionais. Na Alemanha, em 2013, a participação dos investimentos no PIB ficou em cerca de 17%, enquanto o consumo privado foi responsável por 60% – nos EUA, essas percentagens são de 19% e 70%, respectivamente. Na China, os investimentos totalizaram 50% do PIB no mesmo ano, contra 35% para o consumo privado.

Entretanto, ressalva Nouriel Roubini, distribuir a renda entre os cidadãos, a fim de aumentar o consumo privado e reduzir os investimentos, resulta em menos crescimento.

"Se isso coincide com uma redução da população e seu envelhecimento, o crescimento terá que se desacelerar, pois o setor de prestação de serviços vai ser menos produtivo do que o setor de produção, que existe grande capital", afirma. Por isso, prossegue, a China deve contar com uma taxa de crescimento entre 5 e 6% nos próximos anos.

China People's Bank of China in Peking
Sede do Banco Central da China em PequimFoto: Teh Eng Koon/AFP/Getty Images

O superciclo das matérias-primas

"No momento, o que mais puxa a conjuntura para baixo é o mercado imobiliário. Enquanto a situação econômica total melhorou um pouco, desde o fim de setembro, os investimentos em imóveis vão continuar se retraindo neste ano. Também os gastos estatais vão cair, de forma que a situação econômica interna chinesa comprometerá o crescimento", avalia Michael Spencer, economista-chefe do Deutsche Bank para a Ásia-Pacífico.

Em entrevista à Bloomberg TV no fim de fevereiro, Spencer previu que o Banco Central da China reagiria à situação reduzindo os juros em março e maio. Parte de suas predições já se concretizou: em 1º de março a instituição bancária baixou diversas taxas de juro importantes, a fim de impulsionar a conjuntura debilitada. A justificativa oficial foi a pressão deflacionária crescente e a queda dos preços das matérias-primas.

O mais tardar desde que os preços do petróleo caíram pela metade em escala global, também os consumidores médios estão percebendo aquilo que os economistas denominam "fim do superciclo da matéria-prima". Há anos cai a demanda de matérias-primas, os preços despencaram, e os produtores estão com seus estoques estagnados.

Symbolbild China Industrie Produktion
Siderúrgicas chinesas geral excedentes de produçãoFoto: picture-alliance/dpa

A indústria chinesa vem gerando excedentes de produção de dimensões até então inéditas. Por exemplo, no setor siderúrgico: em 2013, quando os preços do aço já estavam caindo em todo o mundo, 20 novos altos fornos entraram em funcionamento na China. O resultado foi uma superoferta ainda maior e o agravamento da queda de preços até um recorde negativo histórico.

Segundo o site SteelHome, no fim de novembro de 2014, o país tinha quase 110 milhões de toneladas encalhadas de minério de ferro. Isso se reproduz aproximadamente nos estaleiros ou nos setores de cimento e alumínio – apesar de Pequim já ter congelado no primeiro trimestre de 2014 todos os projetos de construção de novas fundições de alumínio.

Negative Preisentwicklung auf dem Wohnungsmarkt in China 18.11.2014 Peking
Corretora de imóveis de luxo em Pequim: vazia de clientesFoto: Reuters/K. Kyung-Hoon

Dívidas e reservas astronômicas

Além disso, segundo um estudo atual da firma de consultoria empresarial McKinsey, as dívidas chinesas se multiplicaram nos últimos sete anos, alcançando mais de 28 trilhões de dólares. Os autores do estudo consideram como riscos centrais o shadow banking, com suas instituições financeiras semiclandestinas e quase não regulamentadas, e o endividamento excessivo de numerosos governos regionais.

Cerca de 50% de todos os créditos da China fluíram para o ramo imobiliário, embora cresça o número de novos projetos de construção praticamente vazios. Ao mesmo tempo, a McKinsey registra um crescimento do setor dos "bancos das sombras" de mais de 30% ao ano.

O economista Nouriel Roubini vê a esperança de que o presidente Xi Jinping aja como seu antecessor Deng Xiaoping (1978-1992), que primeiro consolidou seu poder antes de empregá-lo na implementação agressiva de reformas estruturais: "Ainda assim, cabe aguardar se Xi vai usar esse poder para uma boa finalidade ou apenas para preservar a estabilidade do atual sistema e regime."

Michael Spencer, do Deutsche Bank, lembra que a China dispõe de gigantescas reservas de divisas, com as quais não só poderia intervir a qualquer momento nos mercados de divisas, mas que também constituem uma boa arma contra outros tipos de ameaças. "A China acumulou 3,8 trilhões de dólares em divisas. Ela pode comprar dólares por 10, 12 anos ou pode vendê-lo por 10, 12 anos, se quiser."