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'Cúpula automobilística'

Andreas Main (rw)28 de outubro de 2008

Férias coletivas forçadas, retração nas vendas e ameaça de demissões forçam UE a convocar reunião de lideranças do setor. Em entrevista à DW, comissário europeu da Indústria rejeita subsídios e estatização.

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Montadoras européias, como Daimler, irão parar produção em dezembroFoto: AP

Há duas semanas, os chefes de Estado e de governo da União Européia encarregaram a Comissão Européia de apresentar, até dezembro, sugestões para resguardar a competitividade da indústria do bloco. Na ocasião, foi destacada a necessidade de proteger indústrias-chave, como a automobilística.

Entre os efeitos de curto prazo da crise, a retração no consumo está sendo usada como argumento das montadoras para frear a produção já em dezembro. Especialistas advertem também para os efeitos entre as fornecedoras. Ferdinand Dudenhöffer, perito no setor, disse ao jornal Bild que a crise financeira poderá custar até 50 mil postos de trabalho entre os fabricantes de componentes para automóveis. Ele sugere um programa de crédito do governo para impulsionar as compras e reativar o setor.

Crédito ao desenvolvimento de carros econômicos

A Associação dos Construtores Europeus de Veículos (Acea) havia solicitado à Comissão Européia, algumas semanas atrás, um crédito de 40 bilhões euros para o desenvolvimento de veículos mais econômicos. Os conglomerados europeus se baseiam em ajudas semelhantes previstas para a concorrência norte-americana, no montante de 25 bilhões de dólares.

O comissário europeu da Indústria, Günter Verheugen, e o presidente da Acea, Christian Streiff, pretendem tomar uma posição sobre estas questões numa reunião de cúpula marcada para esta quarta-feira (29/10) em Bruxelas. Verheugen considera a situação "extraordinariamente ameaçadora" para a indústria automobilística.

Exigências ao setor político

Günther Verheugen
Verheugen convocou cúpula em BruxelasFoto: picture-alliance/ dpa

O setor necessita de "nosso apoio e de uma ajuda bem concreta para impulsionar as vendas de carros novos", salientou o comissário alemão, que exclui a concessão de subsídios. Para ele, não é só a crise o fator responsável pela retração dos consumidores: "Clientes e fabricantes estão inseguros porque a política não tem uma clara linha em relação ao tema CO2".

Ao comprar um automóvel hoje, ninguém sabe que limites de emissões devem ser obedecidos, nem que impostos pagar, reclamou Verheugen em entrevista à Deutsche Welle. Para acabar com esta insegurança, ele exige providências do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu.


Deutsche Welle: Após ajudar os bancos, a Europa agora terá de ajudar a indústria automobilística com recursos públicos?

Günter Verheugen: Convoquei para quarta-feira uma cúpula automobilística em Bruxelas. Presidentes de grandes empresas, ministros da Economia dos principais países fabricantes de veículos, sindicatos e outros deverão se reunir para falar sobre o que deve acontecer.

Sobre subsídios, no sentido convencional do termo, certamente não será discutido. Temos de falar, em primeiro lugar, sobre como eliminar o mais rapidamente possível a insegurança legal na qual se encontra a indústria automobilística. As montadoras precisam saber o que os legisladores querem delas. Já está demorando demais o fato de não saberem qual é, afinal, o tipo de carro que devem construir.

Em segundo lugar, devem ser criados incentivos para que os proprietários de veículos se desfaçam de carros velhos e comprem veículos novos mais econômicos.

E, em terceiro lugar, caso haja restrições na concessão de créditos aos fabricantes ou fornecedoras, se poderia pensar em disponibilizar créditos do Banco Europeu de Investimentos, cujos juros poderiam ser baixos, mas que tivessem o claro objetivo de desenvolver carros econômicos e de baixo consumo.

Sem claras subvenções?

Não.

Como o senhor explicaria isso aos desempregados do setor? Os bancos recebem ajuda e os fabricantes de veículos, não?

Temos uma política bem clara na Europa: não ajudar os setores econômicos através de subsídios. Eles têm de se impor através da concorrência. E, no que se refere aos bancos, trata-se de fianças e garantias legais disponibilizadas até certo limite, mas não está claro se serão usadas.

Aqui, as coisas são bem diferentes: o sistema financeiro ameaçou entrar em colapso e foi absolutamente necessário tomar providências para garantir que ele continuasse cumprindo sua função de fornecer créditos à economia real.

A indústria automotiva não está pedindo subsídios. O que realmente está sendo reivindicado é a criação de condições claras para que ela saiba em que situação se encontra e, se for o caso, tenha acesso a créditos baratos do Banco Europeu de Investimentos.

Fala-se no perigo de que investidores do Extremo Oriente ou dos Estados ricos em petróleo se aproveitem do baixo preço de ações para assumir empresas européias de forma hostil. Como o senhor vê este perigo?

A questão é: trata-se realmente de uma ameaça? Até agora, sempre dissemos na Europa que pretendemos ser um mercado atraente para investidores de outras partes do mundo. Sempre foi nossa política dizer que quem pretende investir aqui é bem-vindo. Não conheço nenhum caso de alguém que tenha investido na Europa para nos prejudicar ou fazer mal a si próprio. Gente que investe aqui quer ganhar dinheiro, e não desperdiçá-lo.

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Sarkozy sugeriu estatizações parciais para proteger indústriaFoto: AP

Mesmo assim, podemos imaginar que há empresas que não se quer ver em poder de determinados grupos financeiros. Neste caso, as empresas têm de tomar providências. Nacionalizar não é a solução. Vivenciamos por muito tempo a estatização em grande parte da Europa. Não precisamos repetir esta experiência.

O senhor reage de forma alérgica à sugestão do presidente do Conselho Europeu, Nicolas Sarkozy, de proteger a indústria através de estatizações parciais!

Não de forma alérgica! Ele nem pediu a nacionalização. Ele falou justamente o mesmo que eu disse: isto é, a preocupação em disponibilizar financiamentos acessíveis se as instituições de crédito não puderem mais fazer isso.

Em segundo lugar, que é preciso analisar como proteger importantes indústrias européias de incorporações. A maioria dos países europeus já dispõe de regulamentações próprias que lhes permitem evitar tais incorporações em setores estratégicos.

Não é preciso reavaliar esta política?

Não vejo razão.

A crise pode ser crucial para o senhor no posto de comissário da Indústria. A ajuda correta no momento certo pode impulsionar a Europa na concorrência internacional. Como o senhor aproveitará esta oportunidade?

Eu não vejo a indústria na crise que você parece ver. Temos esta forte retração nas vendas da indústria automobilística. As razões disso são diversas. O motivo principal é a hesitação dos clientes em potencial e isso se deve à insegurança econômica, que leva as pessoas a não gastar muito dinheiro. Elas também não estão comprando imóveis nem televisores caros.

Aliás, a indústria tem o mesmo problema na Europa toda e no mundo. Temos que contar com um índice de crescimento econômico menor. O melhor que podemos fazer é praticar a política que já defendo há muito tempo: criar as melhores condições possíveis para a nossa indústria, mas não se intrometer em decisões que ela própria tem de tomar.