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Crise do setor financeiro afeta bancos na Europa

Neusa Soliz2 de agosto de 2002

Falências de grandes empresas, escândalos de balancetes forjados nos EUA e a queda das bolsas prejudicaram o balanço dos bancos europeus no 1º semestre. Vários aumentaram as reservas de risco para a Argentina.

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Sedes do Dresdner Bank (d) e Deutsche Bank (e), em FrankfurtFoto: AP

O Dresdner Bank anunciou em Frankfurt, na quinta-feira (01), o corte de mais 3.000 empregos. O apertão no cinto vai resultar na supressão total de 11 mil postos de trabalho, dos atuais 50.900. O terceiro banco alemão, que agora pertence à seguradora Allianz, teve um prejuízo de 350 milhões de euros no segundo trimestre. O Deutsche Bank, maior banco da Europa, foi o único a nadar contra a corrente e aumentar seu lucro antes do pagamento de impostos em 35% para 2,2 bilhões de euros no segundo trimestre, e em 37% para 3,5 bilhões de euros no primeiro semestre.

Deutsche Bank vende participações

"Podemos nos orgulhar desse resultado", disse seu presidente, Josef Ackermann, sobretudo considerando-se "a situação sombria do setor". Ele atribuiu o êxito à redução de custos e ao corte de cerca de 14.500 empregos, que diminuirá o pessoal até 2003 para 84 mil funcionários em todo o mundo. No entanto, também aliviou o balanço o alto lucro com a venda de várias participações em empresas, entre elas nas seguradoras Munich Re e Allianz, que representaram cerca de 2 bilhões de euros. A operação equivale a "vender a prata da casa" em época de crise. Por isso, o lucro operacional de 900 milhões de euros do Deutsche Bank foi questionado pelos analistas de outros institutos de crédito.

O balancete dos concorrentes na França também não deixou margem a muita confiança no futuro. O francês BNP Paribas teve seus lucros diminuídos em 13% (um bilhão de euros), em relação ao segundo trimestre de 2001 e não conta com uma melhora dos mercados nos próximos meses. As reservas de risco foram aumentadas em 6,5% para 328 milhões de euros. Já o Societé Générale está em melhor situação, mas mesmo assim anunciou uma queda de 41% do lucro líquido, o que atribui, principalmente, a um aumento de 59% de suas reservas de risco.

Quanto à Espanha, os analistas diminuíram suas previsões de dividendos das ações dos principais bancos, que tradicionalmente tinham um forte engajamento na Argentina e são credores de aproximadamente 25 bilhões de dólares da dívida externa brasileira.

Bancos alemães: liderança com baixo lucro

O que os quatro maiores bancos alemães - Deutsche Bank, Dresdner Bank, HypoVereinsbank e Commerzbank - têm em comum é que seus custos e número de funcionários continuam altos, enquanto os lucros diminuem. Os bancos alemães são os líderes do mercado europeu, segundo um estudo recente da federação do setor. Sua fatia no mercado é de 35%, tomando-se por base o número de institutos, filiais, funcionários e o balanço geral. A participação dos franceses é de 22%, dos italianos, 10%, e dos espanhóis, de 7%. Em matéria de rentabilidade do capital próprio, porém, o Deutsche Bank, HypoVereinsbank e Commerzbank ocupam os três últimos lugares na lista dos 35 maiores bancos europeus.

O que caracteriza a crise é que acabaram as fusões e lançamentos lucrativos na bolsa. Por outro lado, reduziu-se propositadamente o volume de crédito às empresas, a fim de conter os riscos de calote por falências e concordatas. Mesmo assim, é preciso elevar as reservas de risco e, por último, os investidores não querem mais saber de comprar títulos e ações, após as baixas espetaculares dos últimos tempos.

Não obstante as graves dificuldades que enfrentam a Sociedade de Bancos de Berlim, o SchmidtBank e Gontard & Metallbank, a situação não é tão dramática na Alemanha e na Europa como no Japão. Aos banqueiros que se referem a 2002 como "o pior ano para os bancos desde o fim da Segunda Guerra Mundial", o presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, costuma responder que "não se deve pintar o diabo pior do que ele é".

Riscos futuros

Não obstante, o termo crise bancária corre não apenas por Frankfurt, mas também por Paris, Milão, Madri e Londres, e não se vê ainda luz no fim do túnel. "Nós vemos cinco riscos principais para os bancos nos próximos tempos", define Piers Brown, analista do Commerzbank Securities: prejuízos com créditos, baixa nos mercados de títulos de valores, seguros, oscilações de câmbio e a conjuntura econômica". Esse rol demonstra que os bancos têm várias possibilidades de serem afetados pelo desaquecimento da conjuntura e as turbulências nos mercados financeiros. A falência de grandes impérios - como a construtura Holzmann - não são problemas específicos da Alemanha. Entre os credores da WolrdCom estava o holandês ABN Amro, assim como o Deutsche Bank, mas o maior prejuízo foi de bancos americanos.

Os efeitos da crise argentina

No caso da crise argentina o Dresdner Bank não é único prejudicado, pois os bancos espanhóis e o Barclays britânico também arcam com o ônus da América Latina. Quarto maior banco da Inglaterra, o Barclays anunciou nesta quinta-feira (01/08) que aumentaram 43% os casos de créditos não honrados no primeiro semestre. Segundo os analistas, a bancarrota da Argentina pesou bastante para o Barclays.

O Dresdner Bank, por sua vez, também tomou medidas para reduzir seu prejuízo no setor de Empresas e Mercados. Nas Américas do Norte e do Sul só concederá créditos a clientes alemães para quem faz outros tipos de negócios, cancelando a carteira de créditos para empresas e exportadores nacionais. Isto estaria de acordo com o processo de reestruturação do banco e a nova estratégia de concentrar os negócios na Alemanha e Europa, como expôs à Deutsche Welle o porta-voz do Dresdner Bank, Karl-Frierich Brenner.