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Esporte

Costa Rica, entre o respeito e a esperança

José Pablo Alfaro *
21 de junho de 2018

Para costarriquenhos, jogo com Brasil é como um sonho, ainda que a vitória seja vista como algo distante: após o desempenho histórico no Mundial de 2014, ele chegaram em baixa à Rússia. E a eliminação não seria surpresa.

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O meia David Guzmán é um dos motores da seleção costarriquenha, que entra pressionada após derrota para a SérviaFoto: picture-alliance/dpa/M. Voskresenskiy

"É provável que, se enfrentarmos o Brasil 20 vezes, eles nos vencerão em 19", confessa Bryan Ruiz, o camisa 10 da Costa Rica e o coração do setor ofensivo. Bryan é para os Ticos, como é chamada a seleção costarriquenha, o que Neymar significa para a Canarinha: é o talento.

O nome de Bryan ecoou fortemente no Brasil há poucos dias, quando foi ventilado que ele iria assinar com o Santos após a Copa do Mundo, exatamente quando termina seu contrato com o Sporting, de Portugal.

Assim como Neymar, Bryan chegou um pouco ressentido fisicamente ao Mundial. Na Costa Rica, duvidava-se de seu rendimento devido aos problemas nas costas que o obrigaram a ficar em tratamento intensivo até o dia da estreia contra a Sérvia – os Ticos perderam por 1 a 0.

Bryan é sincero. Ele reconhece que derrotar o Brasil seria uma façanha, ainda mais quando repassado o histórico. A derrota para a seleção sérvia obriga os Ticos a conseguir um resultado positivo frente à equipe de Tite, algo que não foi alcançado na Copa do Mundo de 1990, na Itália, nem no Mundial na Coreia do Sul e no Japão, em 2002.

Por alguma razão, a seleção pentacampeã mundial sempre cruza o caminho da Costa Rica. A primeira potência que a Costa Rica enfrentou numa Copa do Mundo foi o Brasil, em 1990, com Careca e Dunga e os 11 costarriquenhos em campo completamente retraídos.

Fußball WM 2018 Gruppe E Costa Rica - Serbien
Celso Borges, filho do ex-jogador brasileiro Alexandre Guimarães, foi um dos destaques da Costa Rica em 2014Foto: Reuters/D. Gray

Em 2002, foi a vez de enfrentar a grande Seleção com Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. Naquela oportunidade, levou uma goleada de 5 a 2, mas a Costa Rica foi a única seleção que marcou dois gols na equipe que mais tarde levantou o troféu de campeão mundial.

Na Copa no Brasil, os Ticos se sentiram como em casa – instalaram-se em Santos e contaram com o apoio de centenas de torcedores brasileiros. Uma festa em que conseguiram a melhor participação de toda a sua história, eliminados somente nas quartas pela Holanda, nos pênaltis.

Agora na Rússia, ambas a seleções estão novamente frente a frente. O cenário é nebuloso para a Costa Rica, coberto por uma nuvem de dúvidas depois de estrear no Mundial com uma derrota contra a Sérvia, num jogo em que mostrou pouco poder ofensivo.

Desde a fase preparatória, os Ticos deram sinais de que viriam fragilizados. No último amistoso, perderam por 4 a 1 contra a Bélgica e depois confirmaram contra os sérvios que são uma equipe com dificuldades para chegar com perigo ao ataque.

A equipe comandada por Óscar Ramírez, ex-volante dos Ticos na Copa do Mundo de 1990, tem sido fortemente criticada, principalmente por falta de clareza da seleção costarriquenha em criar chances de gol.

O destaque da equipe é o pilar do eixo defensivo – Keylor Navas, amigo próximo do lateral brasileiro Marcelo e goleiro do Real Madrid. Navas é a bandeira da nação centro-americana desde o dia que assinou com o time espanhol, onde conquistou três títulos consecutivos da Liga dos Campeões.

Rápido, com reflexos felinos e excelente ao dar o bote nos atacantes quando no mano a mano, Navas é visto como um dos melhores goleiros do mundo. Atualmente, circula na imprensa espanhola que ele poderia ter que disputar com Alisson a titularidade no Real Madrid na próxima temporada. Especula-se que o goleiro brasileiro é pretendido pelos merengues, e Navas já manifestou publicamente seu desejo de continuar no clube espanhol.

Na Costa Rica, Navas é a exceção à regra. Embora o plantel mantenha a base de jogadores que alcançou o feito histórico no Brasil há quatro anos, o desempenho de muitas figuras-chave caiu.

Como, por exemplo, o rendimento do meia de origem brasileira Celso Borges, que se destacou no Mundial de 2014 por ter sido o jogador que mais quilômetros correu em campo.

Celso é filho de Alexandre Guimarães, ex-jogador nascido em Alagoas e que disputou a Copa do Mundo de 1990 pela Costa Rica. Como treinador, Guimarães liderou a seleção costarriquenha em dois Mundiais: na Coreia do Sul e no Japão, em 2002, e na Alemanha, em 2006.

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Com três títulos da Liga dos Campeões pelo Real Madrid, Keylor Navas é o grande nome da seleção costarriquenhaFoto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda

A Costa Rica tem sentido o baixo rendimento de Celso e o baixo volume ofensivo gerado pela equipe quando tenta ir para frente, a ponto de, em média, criar apenas três chances de gol por jogo.

É muito provável que os Ticos decidam não tomar a iniciativa e recuar, com o objetivo de manter o zero no placar e buscar algo em contra-ataques. Bryan avisou que o objetivo principal é "pontuar" e que por isso considera positivo empatar com o Brasil.

Obviamente, seria um alívio na Costa Rica se Neymar não se recuperasse a tempo de sua lesão, embora isso não altere a estratégia. O Brasil tem a obrigação de vencer depois de empatar com a Suíça na estreia, e os Ticos querem continuar vivos.

Nas ruas da Costa Rica há pouco otimismo em relação ao duelo e a possibilidade de conseguir alcançar algo favorável, apesar do fato de que, no vestiário costarriquenho, se vislumbre a esperança desta nova oportunidade de fazer história.

"Eu sonho em jogar esta partida", afirma Bryan Ruiz.

Muito próximos

Os dois países tem uma relação muito próxima. Basta olhar para a situação atual na Costa Rica para perceber a influência que o Brasil tem no país centro-americano.

Dezenas de jogadores brasileiros jogaram em clubes costarriquenhos, como, por exemplo, Henrique Moura, um defensor que acabou de conquistar o título nacional com o Saprissa e se casou com uma apresentadora local de TV.

A maioria dos jogadores que se aventuram na Costa Rica vem das segunda e terceira divisões do Brasil ou de alguma liga regional brasileira. Na capital São José há um pequeno bairro chamado "Brasil de Mora", além de várias academias de língua portuguesa, que focam no ensino de cultura, espalhadas pelo país.

Há pouco tempo, a fruta açaí chegou à Costa Rica, e algumas lojas já vendem o produto que se popularizou entre os costarriquenhos. Também é comum encontrar nas praias brasileiros que gostam de surfar e de aproveitar o calor das regiões litorâneas. 

De um jeito ou de outro, há um elo entre Brasil e Costa Rica, que é acentuado pelas constantes batalhas nos campos de futebol.

Na sexta-feira, quando for dado o pontapé inicial em São Petersburgo, o país mais feliz do mundo tentará deixar para trás o passado para abrir outro capítulo, em busca de uma vitória histórica contra o Brasil.

Provável escalação da Costa Rica:
Keylor Navas (Real Madrid); Christian Gamboa (Celtic), Giancarlo González (Bologna), Johnny Acosta (Águilas Doradas) e Óscar Duarte (Espanyol); Bryan Oviedo (Sunderland), David Guzmán (Portland Timbers), Celso Borges (Deportivo La Coruña), Bryan Ruiz (Sporting) e Johan Venegas (Saprissa); Marco Ureña (Los Angeles FC). Técnico: Óscar Ramírez.

*José Pablo Alfaro é jornalista esportivo do jornal La Nación na Costa Rica. Ele tem 29 anos e há 10 anos acompanha de perto a seleção costarriquenha. Alfaro acompanhou os Ticos na Copa do Mundo de 2014 e na recente Copa América Centenário.

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