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Corte parcial da dívida

18 de julho de 2011

Segundo a imprensa alemã, uma das opções mais debatidas em Bruxelas é a compra de títulos da dívida grega pelo preço de mercado, hoje em torno de metade do valor original.

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Foto: picture alliance/dpa

O corte de parte da dívida grega – por meio da recompra de títulos no mercado financeiro por um valor inferior ao nominal– é uma das opções mais debatidas em Bruxelas e ganha cada vez mais adeptos na Alemanha, maior economia europeia. Nem mesmo a chanceler federal alemã, Angela Merkel, descarta mais a reestruturação da dívida como solução para o problema da Grécia.

Neste domingo (17/07), em entrevista à emissora alemã ARD, Merkel disse não trabalhar a favor dessa opção e argumentou que uma reestruturação teria o "efeito negativo" de que os países beneficiados "talvez não se esforçassem mais" para sanear seu orçamento. Ela evitou, porém, descartar categoricamente a opção.

Na entrevista, Merkel voltou a defender a participação dos credores privados no segundo pacote de ajuda à Grécia, estimado em 120 bilhões de euros. O primeiro pacote, disponibilizado em maio de 2010, era de 110 bilhões de euros. A dívida grega gira em torno de 350 bilhões de euros.

Recompra de títulos

O jornal Süddeutsche Zeitung e a revista Der Spiegel informam que os países europeus estão considerando a compra de títulos gregos no mercado financeiro. Por esse modelo – em torno do qual existe mais consenso em Bruxelas, escreve o diário alemão – os títulos seriam comprados com um elevado abatimento sobre o valor nominal. Na prática, a medida significaria um corte da dívida.

Segundo um dos modelos em discussão, o fundo europeu para a estabilização do euro disponibilizaria dinheiro para o governo grego, que agiria no mercado para recomprar os seus títulos dos investidores, incluindo os privados. Não está claro, porém, como convencer os investidores a revender seus papéis por um valor inferior ao que pagaram.

A Spiegel informa que funcionários do Ministério alemão das Finanças calculam que essa opção diminuiria a dívida grega em 20 bilhões de euros. Títulos da dívida do país estão sendo negociados no mercado pela metade do valor original. A opção seria interessante para investidores que já compraram títulos no mercado a valores inferiores ao de face.

Também é debatida a hipótese de o próprio fundo de estabilização comprar os títulos no mercado. Não há, porém, base legal para essa possibilidade.

Riscos do default

Uma incógnita para os europeus é a posição das agências de classificação de risco diante da recompra de títulos por valor inferior ao nominal. Há o temor de que elas qualifiquem essa medida de default (incapacidade de pagar suas contas), baixando ainda mais a nota da Grécia.

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, voltou a alertar para os riscos de a Grécia ser considerada em default pelas agências de rating. Segundo Trichet, se um país estiver nessa situação, o BCE não poderá mais aceitar os títulos emitidos por esse país na hora de garantir liquidez aos bancos. Isso poderia levar ao colapso do sistema bancário grego.

"Nesse caso, os governos teriam de agir e corrigir isso. Isso seria dever deles", afirmou Trichet ao jornal alemão Financial Times Deutschland.

Defensores do corte parcial

O corte da dívida é defendido por diversos economistas alemães, como o presidente do instituto Ifo, Hans-Werner Sinn, o ex-assessor do governo alemão Bert Rürup e o diretor do instituto HWWI, Thomas Straubhaar. Também a Confederação da Indústria Alemã (BDI) defende o corte da dívida grega para um nível sustentável.

O ex-ministro alemão das Finanças Peer Steinbrück, do SPD, também defendeu um corte na dívida grega, entre 40% e 50% do atual valor. O risco de "infecção" para outros países é maior do que nunca, afirmou.

Um claro alerta em sentido contrário veio do presidente do Banco Central alemão, Jens Weidmann, para quem o simples corte da dívida não resolve os problemas da Grécia. "O país consome muito mais do que produz e o orçamento mostra elevados déficits", declarou ao jornal Bild am Sonntag. "Enquanto isso não mudar, nem mesmo um corte da dívida vai trazer melhoras reais."

Outra opção em debate, segundo o jornal Die Welt, seria a criação de um imposto para o setor bancário. Defensores da medida argumentam que, assim, o setor privado também estaria envolvido na solução do problema da dívida grega. Críticos dizem, porém, que também bancos que não investiram em títulos da Grécia seriam obrigados a colaborar.

Os líderes dos 17 países da zona do euro reúnem-se nesta quinta-feira em Bruxelas para debater a crise grega.

AS/rtr/dpa/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer