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Copa da Cultura leva fotografia brasileira a Berlim

Geraldo Hoffmann13 de janeiro de 2006

Exposição na capital alemã mostra pluralidade da arte fotográfica brasileira contemporânea em busca da superação do fotojornalismo. Curador alemão diz que Brasil tem nível internacional nessa área.

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Red, Blue and Green: obra de Miguel Rio BrancoFoto: Museu de Arte Moderna, RJ

Enquanto a Alemanha espera os "artistas da bola", que disputarão os jogos do Mundial 2006, uma seleção canarinho da área cultural já desembarcou em Berlim. São os organizadores da exposição Arte Fotográfica Brasileira Contemporânea, aberta nesta sexta-feira (13/01), na associação Neuer Berliner Kunstverein, dentro do programa da Copa da Cultura.

Em vez de dribles e "embaixadas" de onze jogadores em campo, o que se vê são os trabalhos de 12 representes de uma arte em fase de expansão no Brasil. Promovida pelo Ministério brasileiro da Cultura e o Instituto Goethe, a exposição pretende "construir uma ponte estética entre o momentâneo e seus significados silenciosos, entre o registro de fragmentos do tempo e a duração da vida humana".

Um dos curadores da mostra, o diretor do Instituto Goethe no Rio de Janeiro, Alfons Hug, diz que, neste caso, não há um vínculo direto entre futebol e arte. A mostra integra o programa cultural da Copa, que abrange mais de 200 eventos, nem todos relacionados ao esporte, a serem realizados nos próximos seis meses em Berlim e outras cidades alemãs, explica. Até o final de outubro, a exposição ainda passará por Sindelfingen, Halle e Kiel.

Pluralidade

Zeitgenössische Fotokunst aus Brasilien
Rufo, de Caio ReisewitzFoto: Galeria Brito Cimino, SP

A "seleção" de artistas do primeiro grande evento da Copa da Cultura é formada por Emmanuel Nassar, Thiago Rocha Pitta, Caio Reisewitz, Rochelle Costi, Sara Ramo, Miguel Rio Branco, Rosângela Rennó, Rogério Canella, Marcos Chaves, Franz Manata, Pedro Motta e Mauro Restiffe.

Segundo o co-curador Fernando Cocchiarale, diretor do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, "a mostra expressa, em certa medida, a pluralidade que é o próprio país. Temos fotografias de várias tendências e partidos, de paisagens, de interiores, outras mais de conceitos e pessoas. Não há um tema comum costurando a exposição inteira".

Na avaliação de Hug, que foi duas vezes curador da Bienal de São Paulo, a arte fotográfica brasileira faz parte de um forte movimento contemporâneo e é cada vez mais reconhecida internacionalmente, como prova a crescente participação do país em grandes feiras mundiais. "Mas, no próprio país, os colecionadores ainda têm uma certa resistência à fotografia, eles preferem a pintura e a escultura. Nesse ponto, a situação ainda pode melhorar."

Também Cocchiarale destaca que, nos últimos dez anos, a arte fotográfica no Brasil atingiu um nível comparável ao de muitos outros países, sendo que "sua especificidade passa muito mais pela realidade retratada do que por um estilo peculiar de fotografia".

Escola Paulista

Natinga, Schule für Flüchtlinge im Sudan
Arte fotográfica difere do fotojornalismo de Sebastião SalgadoFoto: Salgado

Apesar dos avanços, à exceção de nomes como Sebastião Salgado ou Mário Cravo Neto, ainda são poucos os fotógrafos brasileiros conhecidos na Alemanha. Isso é atribuído, em parte, à própria situação histórica e social do Brasil no século passado. Somente com a modernização dos anos 50, a arte brasileira passou por uma profunda renovação e a fotografia conseguiu se estabelecer como forma de expressão própria, através da Escola Paulista.

Seus integrantes foram os primeiros brasileiros a ingressar no campo da fotografia experimental, ainda que inicialmente influenciados pelo fotojornalismo. "A atual arte fotográfica brasileira movimenta-se entre a superação da tradição do fotojornalismo e a crise do sujeito no presente. E esse foi o pano de fundo para a escolha das fotografias expostas em Berlim", explica Cocchiarale.

Ele presume também que Salgado ou Cravo Neto, "a despeito da qualidade de seus trabalhos, talvez correspondam mais às expectativas que o Primeiro Mundo tem do Brasil, um país exótico, com problemas sociais graves. O Brasil também é isso, mas não só. É um país complexo, e temos desde a fotografia da moda mais sofisticada até a fotografia social".

Nicho da fotografia analógica

Cocchiarale ressalta que as obras expostas em Berlim não são fotografias convencionais. "São trabalhos de artistas contemporâneos, que usam a fotografia, eventualmente ao lado de outras técnicas, para se expressar. Mesmo que só trabalhem com fotografia, não estão numa perspectiva que é a do Sebastião Salgado, que é a do fotojornalismo. Muitos artistas plásticos brasileiros hoje não pintam mais, usam a fotografia. Então, esta exposição é de arte contemporânea feita com fotografia."

Em termos de tecnologia, Hug explica que a fotografia de arte ainda é, majoritariamente, analógica e não tende à digitalização. "Não conheço nenhum artista na Alemanha ou no Brasil que trabalhe com câmera digital. Eles usam slides ou negativos ou câmeras de formato grande, que trabalham com filmes planos, as chapas individuais, bem à moda antiga."

Calendário da exposição:
13 de janeiro a 26 de fevereiro: Neuer Berliner Kunstverein - Berlim
09 de abril a 11 de junho: Galeria Municipal de Sindelfingen
25 de junho a 30 de junlho: Hallescher Kunstverein, em Halle
25 de agosto a 29 de outubro: Galeria Municipal de Kiel