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'Street art'

24 de maio de 2010

Mostra em Berlim reúne a obra de 30 artistas latino-americanos e espanhóis, que tratam em suas obras do bicentenário de independência de diversos países da América Latina.

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A arte das ruas é levada à galeriaFoto: Strychnin Gallery

Alguns desses artistas são representantes da street art, arte callejera, ou seja, das ruas, e clandestina, fenômeno presente em diversas cidades do mundo, resultado de trabalhos feitos na calada da noite e à margem da lei.

Muitos desses artistas escondem suas verdadeiras identidades, pois volta e meia são procurados pela polícia, acusados de provocar danos em propriedades públicas ou privadas. Eles são sucessores dos grafiteiros, que deixam mensagens indecifráveis nas paredes dos edifícios, e dos pichadores brasileiros, que não hesitam em escalar um arranha-céu, a fim de deixar uma assinatura pessoal no ponto mais alto de um prédio.

Os callejeros não produzem a arte apenas pela embriaguez e adrenalina do trabalho ilegal, mas também porque, pela ousadia de suas aventuras, acabam adquirindo maior celebridade.

"Veneno na pele"

Desde que as pinturas da street art se disseminaram pelas grandes cidades, principalmente a partir dos anos 1970, o gênero tem se mantido presente em várias metrópoles do mundo, fazendo agora parte da mostra de artistas latino-americanos na Galeria Strychnin, em Berlim, aberta até o próximo 6 de junho.

Ausstellung Conquistadores in Berlin Flash-galerie
Lesivo: crítica aos estereótipos da sociedade machistaFoto: DW

Entre as obras expostas está Veneno na pele, de Lesivo, artista colombiano. Sua obra alude a uma canção de mesmo título, que fala sobre uma menina que tinha veneno na pele e, por isso, conseguia atrair quem tocava. O artista critica na obra o estereótipo de beleza imposto por uma sociedade patriarcal e machista, cujo lema propagado é o de que "os homens são, na realidade, como lobos em busca de uma loira muito atraente".

Lesivo explica que se inspira, para criar, em dicionários ilustrados e na publicidade dos anos 1960, alterando o sentido original das mensagens ali contidas para abordar temas como a oposição ao militarismo ou a rejeição à violência. O artista, que trabalha desde 2004 nas ruas de Bogotá, procura descentralizar sua obra, pois acredita que "a arte deve ser plural e chegar a todos".

Arte emergente latino-americana

Com obras hoje categorizadas como "arte emergente", muitos artistas callejeros da América Latina estão sendo festejados no cenário internacional de artes. "Há uma grande demanda de arte latino-americana, mas pouca oferta, porque acaba sendo muito oneroso trazer as obras para a Europa", diz o argentino Maximiliano Ruiz, curador da mostra e dono de uma galeria especializada em arte latino-americana, inaugurada há um ano em Barcelona.

"O caminho da conquista"

Entre as obras expostas em Berlim encontra-se ainda O caminho da conquista, do artista valenciano Dulk, que mistura colagem e outras técnicas, num trabalho que convida à reflexão, com ironia, sobre a conquista das Américas. Outro destaque é ainda Malice, de Dixon, artista venezuelano.

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'Corceles de Fuego' (Saner), MéxicoFoto: DW

Vários dos artistas com obras expostas na galeria berlinense possuem uma trajetória anterior como ilustradores e a maioria deles não teve uma formação acadêmica formal. A escola de muitos deles têm sido as ruas: "Eles são autodidatas, que mesmo que não tenham tido uma formação profissional estão arrebatando com força o cenário internacional das artes", diz Ruiz.

Muros em vista

"Até minha mãe me chama de Rodez", diz o artista colombiano, conhecido apenas por este pseudônimo. Rodez explica que trabalha há oito anos na elaboração de uma zoologia fantástica. Quando o convidaram para participar da mostra berlinense, ele logo pensou em criar três animais fantásticos, que formam um tríptico intitulado Pinta la niña Santa María, obra que ocupa o centro da mostra na capital alemã.

São três caravelas, que chegaram para conquistar Berlim. Rodez diz que antes de retornar a Bogotá ele quer pintar "uns três ou quatro muros" na cidade. Ele deve procurá-los "à noite", conta, ao revelar que já tem um em vista.

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'Malice' (Dixon), Venezuela, e 'El camino a la conquista' (Dulk)Foto: DW

O artista prefere que os muros em questão já tenham sofrido intervenções anteriores e confessa sua predileção pelo lado oriental da cidade, onde há na arquitetura resquícios do período de regime comunista e influência soviética. Essa região, segundo ele, "é mais rica em texturas e a qualidade do cimento e do tijolo é muito diferente daquela que conheço na Colômbia", diz.

Berlim, meca da street art

Rodez confessa que prefere fazer a maior parte do trabalho nas ruas de Berlim de forma legal, embora com uma "pitadinha de ilegalidade". Segundo ele, Berlim é uma das mecas da street art, com lugares como o bairro de Friedrichshain, por exemplo, repletos de arte nas ruas.

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Rodez: predileção pelo lado oriental de BerlimFoto: DW

Os artistas que pintam ruas nas imediações da praça Boxhagener Platz, por exemplo, não ficam esperando serem descobertos pelas galerias, mas se apropriam sem problemas do espaço público e se mantêm há anos em atividade. "E hoje começam a ser celebrados como estrelas em ascensão", conclui a colombiana Patricia Dávila.

Autora: Eva Usi (sv)

Revisão: Roselaine Wandscheer