Conhecer para proteger: um projeto alemão na floresta africana
5 de dezembro de 2005Quando a etnóloga alemã Annika Wieckhorst chegou ao pequeno povoado de Pehunco, no norte do Benin, os curandeiros locais já haviam se unido e lançado os fundamentos do projeto de preservação ambiental.
Todos eles, feiticeiros, benzedeiros, mandingueiros, têm o mesmo problema: as plantas, seus instrumentos de trabalho, tornam-se cada vez mais raras. Annika Wieckhorst está no pequeno país do oeste africano para ajudar no Biota, um projeto que tem o apoio do Ministério alemão da Pesquisa.
Coletar, classificar e preservar Para Wieckhorst, o projeto é uma excelente oportunidade para reunir informações passadas de geração a geração pelos nativos. "Os curandeiros da tribo Bariba dizem, por exemplo, que plantas que crescem sobre ninhos de cupins têm enorme poder medicinal. Seu argumento é que, se resistem aos cupins, têm de ser fortes", explica.
Esta teoria tem comprovação bioquímica: as atividades das formigas brancas africanas em seus ninhos facilitam a absorção de água e nutrientes pelas plantas, o que aumenta seu poder medicinal, conta a cientista. Um ninho de cupim africano pode ter 15 metros de circunferência na base e quase oito metros de altura, considerando as torres e picos.
Tão importante quanto a pesquisa é a transmissão dos conhecimentos às gerações jovens. No momento em que reconhecem a importância de animais e plantas na floresta, os respeitam e protegem, dizem os pesquisadores.
Agricultores, donas-de-casa e estudantes são convidados a passear nos jardins de ervas medicinais. Além disso, os curandeiros têm um programa diário no rádio. O sucesso foi tanto que iniciativas locais criaram mais quatro jardins deste tipo na região.
Primeiro classificar, depois preservar Um projeto semelhante está sendo desenvolvido no Congo. A região pesquisada pela alemã Barbara Fruth tem 800 mil m² de floresta tropical, em grande parte inexplorada. Por isso, a primeira tarefa da bióloga Fruth foi descobrir o que proteger. Para isso, começou a coletar as plantas e classificá-las.
Tanto no Congo como em Benin a tradição oral é imprescindível. Esta parte do projeto é feita por pesquisadores da capital congolesa, Kinshasa. Enquanto, por um lado, aprendem com a população, de outro, despertam nela a consciência sobre a riqueza a sua volta. Assim, esperam redespertar nos jovens o interesse pela secular tradição da coleta e conter a destruição do meio ambiente.
Hortos florestais como proteção Entre os que descobriram a importância da preservação está Caleb Amalo. Com um grupo de amigos, ele cuida da floresta de Kakagema, ao norte do Lago Vitória, no Quênia.
"Tentamos esclarecer às pessoas que elas terão mais proveito se mantiverem a mata do que se a derrubarem", diz, ao mesmo em que explica: "Temos de entender o significado da floresta para a manutenção do clima, pois é ela que nos traz a chuva e abriga, por exemplo, os insetos que polinizam nossas culturas e destroem os parasitas".
Às margens da mata, a iniciativa de Amalo – com financiamento do projeto Biota – abriu hortos florestais, onde cultivam árvores de rápido crescimento. Estas árvores são vendidas ou distribuídas à população, para cobrir, primordialmente, a necessidade de lenha, seja para fazer fogo ou como material de construção.
Aproveitando-se do interesse da população e para não deixar morrer esta cultura, Amalo também comercializa plantas medicinais.