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Confiante, Hillary Clinton luta para representar democratas

Spencer Kimball (ca)13 de abril de 2015

Com experiência política, ex-secretária de Estado não parece preocupada com correligionários que pretendem participar da corrida à Casa Branca. Mas favoritismo não é garantia de vitória nas prévias do partido.

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Foto: Reuters/Munoz

Esta é a segunda vez que ela tenta se tornar a primeira presidente da história americana. Mas, desta vez, Hillary Rodham Clinton carrega a experiência de ter fracassado numa eleição primária.

Num país em que a política é marcada cada vez mais pela desigualdade social, a ex-secretária de Estado irá focar sua retórica na expansão das oportunidades econômicas para famílias da classe média e classes menos privilegiadas.

"Os americanos conseguiram reencontrar o caminho do crescimento em meio a duros tempos econômicos, mas a situação ainda se encontra a favor dos que estão por cima", disse Clinton num vídeo postado no seu site, em que anunciou sua pré-candidatura à Presidência neste fim de semana.

"Todos os dias os americanos precisam de um campeão, e eu quero ser essa campeã. Então, você pode fazer mais do que apenas sobreviver. Você pode chegar à frente e permanecer à frente", acrescentou a política americana.

Nas próximas semanas, Clinton deverá se reunir com eleitores de Iowa e New Hampshire, os dois primeiros estados no processo de eleição primária. Ainda que não haja certeza quanto a sua nomeação, ela é a única democrata que já anunciou oficialmente a candidatura às prévias, e suas chances parecem ser boas quando comparada à de outros membros do partido que cogitam concorrer.

"Desde a campanha de 2008 [quando perdeu as prévias para Barack Obama], especialmente desde que deixou o cargo de secretária de Estado, ela tem feito de tudo para chegar perto de definir a nomeação antes de as primárias terem realmente começado", afirma Chris Galdieri, professor de Ciências Políticas no Saint Anselm College, em New Hampshire.

Aparando arestas

Em 2008, muitos observadores também acreditavam que Clinton seria a mais provável candidata democrata em meio a uma longa de lista de concorrentes, que incluía o então senador Obama, Joe Biden e John Edwards. Diante de um eleitorado cansado de ver sangue americano ser derramado no Iraque e nervoso frente a uma economia à beira do colapso, naquela época, a candidatura de Clinton foi enfraquecida por seu apoio à guerra em 2003 e pela percepção de que ela estaria alinhada aos interesses de grandes empresas.

Obama, que na ocasião ainda era um novato de Illinois, conseguiu atuar como um contraponto aos pontos fracos de Clinton. Ele havia feito oposição à guerra no Iraque e prometeu inaugurar um novo país, que celebraria a diversidade cultural, a justiça social e a prosperidade econômica.

Hillary Clinton Barack Obama 2007
Barack Obama ofuscou candidatura de Hillary Clinton em 2008Foto: Reuters/Larry Downing

Mais importante ainda foi o fato de ele não possuir uma trajetória sobre a qual pudesse falar e de servir como uma folha em branco sobre a qual os eleitores podiam projetar seus sonhos para o futuro. Com esses pontos fortes e uma campanha de base altamente organizada, ele venceu a primeira eleição primária no estado de Iowa, o que fez dele um sério concorrente.

Enquanto outros candidatos eram eliminados e a disputa foi reduzida a Obama e Clinton, a retórica se acirrou. O partido se dividiu entre aqueles que queriam a mudança, representada por Obama, e aqueles que valorizavam a experiência, representada por Clinton. O lema da mudança ganhou a eleição.

Mas, segundo Galdieri, Clinton e Obama percorreram um longo caminho desde 2008, fazendo alianças e aparando arestas pelo bem do Partido Democrata. "Quem apoiou Obama em 2008 viu, após a eleição, Clinton participar do governo de Obama e apoiar as metas do presidente e viu o presidente Obama falando muito bem dela", aponta o cientista político.

Falta de alternativas

Dentro do partido, a principal base de apoio de Clinton vem da classe trabalhadora branca, sindicalistas e do grupo de moderados e conservadores em regiões como o centro histórico industrial americano, conhecido como Rust Belt (Cinturão da Ferrugem) no nordeste do país, bem como o sul e a região dos Montes Apalaches.

E para os jovens eleitores, liberais pacifistas, afro-americanos e latino-americanos, que formaram a base eleitoral de Obama e que o ajudaram a chegar à vitória, não há simplesmente, no momento, alternativa viável a Clinton no Partido Democrata.

Embora tenha havido esforços para recrutar a senadora Elizabeth Warren – ex-professora de Direito de Massachusetts, que desenvolveu uma trajetória de desafio à corrupção e à manipulação do processo democrático –, ela afirmou repetidamente que não vai concorrer.

Todos os outros políticos que estão considerando abertamente se candidatar têm os próprios pontos fracos. O senador Bernie Sanders, de Vermont, é um autoproclamado socialista independente num país em que essa palavra é normalmente proferida como um insulto. Martin O'Malley, ex-governador de Maryland, tem poucas diferenças políticas reais em relação a Clinton. E Jim Webb, um antigo senador pelo estado de Virgínia, possui posições à direita de Clinton em muitas questões.

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Uso de conta pessoal de e-mail como secretária de Estado rendeu críticas a ClintonFoto: Reuters/K. Lamarque

"Eles são sérios candidatos, mas Clinton não parece estar muito preocupada", diz Donna Hoffman, professora de Ciências Políticas na Universidade de Norte de Iowa. "Os demais democratas que talvez tenham cogitado concorrer têm colocado na balança o que Clinton vai ou não fazer."

Potenciais controvérsias

Clinton tem uma longa trajetória política, que remete à década de 1990, quando seu marido foi presidente por oito anos e ela foi primeira-dama. Depois, veio o mandato de senadora pelo estado de Nova York, entre 2001 e 2009, e, por fim, seu mais recente cargo, de secretária de Estado. Esse histórico pode servir tanto como ponto forte, demonstrando experiência, quanto como fraqueza, devido a algumas controvérsias em torno dela.

Ela sofreu duras críticas de republicanos conservadores por sua atuação como secretária de Estado durante o ataque ao consulado americano em Bengasi, na Líbia, em 2012. O embaixador dos EUA Christopher Stevens e três outros americanos morreram no atentado.

Alguns republicanos acusaram Clinton e a administração Obama de não terem garantido a segurança das instalações, respondendo lentamente e fazendo com que o ataque premeditado de islamistas desencadeasse um protesto violento. Em novembro último, no entanto, uma comissão parlamentar bipartidária constatou que não houve nenhuma tentativa por parte da administração Obama de encobrir o que aconteceu em Bengasi.

Uma nova polêmica surgiu agora envolvendo os e-mails de Clinton da época em que era chefe da diplomacia americana. Ela optou por usar o e-mail pessoal em vez da conta governamental, levantando dúvidas sobre a segurança de suas mensagens e se ela respeitou o protocolo para o arquivamento de sua correspondência eletrônica.

Clinton forneceu ao Departamento de Estado 55 mil páginas de e-mails dos tempos de secretária de Estado. Mas ela deletou e-mails que considerava pessoais, levantando dúvidas sobre a integridade da correspondência de relevância pública.

No entanto, de acordo com Galdieri, é improvável que outros candidatos às prévias do partido ataquem Clinton quanto a essas controvérsias, que muitos democratas acreditam estar sendo exageradas publicamente pelos republicanos. Mas quando chegarem as eleições gerais, mesmo que o candidato republicano levante essas questões, o público não deverá estar mais particularmente interessado nelas.

"Isso deverá vir à tona, provavelmente, na eleição geral", afirma Galdieri. "Mas, geralmente, em eleições presidenciais, uma vez que os candidatos foram indicados, 90% da situação já está definida. Provavelmente, essa eleição não girará em torno dos e-mails de Hillary Clinton, mas da conjuntura econômica e mundial."