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Como humanos, pandas escolhem parceiros

Brigitte Osterath (ca)16 de dezembro de 2015

Estudo mostra que os pandas-gigantes também preferem selecionar seus parceiros sexuais. Isso resulta em mais acasalamentos e mais filhotes. A informação é importante para programas de reprodução da espécie.

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Foto: picture-alliance/dpa/S. Morrison

Nem todos os animais são humanos, mas os seres humanos são animais. E esses, por sua vez, se comportam de forma mais parecida com o homem do que se pensava. Como os pandas-gigantes, quando se trata de sexo.

Basta imaginar alguém escolhendo o parceiro sexual para uma pessoa, o melhor que ele ou ela poderia conseguir – ao menos no tocante à mistura genética e à prole que ambos gerariam. A opção então seria ou ir para a cama com esse parceiro, ou esquecer o sexo de vez.

Que chato, não? Um panda-gigante provavelmente pensa da mesma forma.

Em zoológicos ou outros centros de criação de pandas-gigantes, geralmente um criador organiza os pares para o acasalamento. Seu objetivo é minimizar a consanguinidade e maximizar as taxas de reprodução.

Isso tudo tem a ver com os genes: as preferências individuais de cada urso ficam fora do processo. Mas deveriam ser consideradas, aconselham Meghan Martin-Wintle, do Zoológico de San Diego, e seus colegas pesquisadores, na revista especializada Nature Communications.

Pandas atraídos

Os cientistas reuniram os pandas-gigantes que viviam no Centro de Pesquisa e Conservação Bifengxia, com os da província chinesa de Sichuan, na China, e documentaram que pares de machos e fêmeas pareciam se entender, quais não.

Os sinais de agrado mútuo incluíam deixar marcas olfativas, brincar na água, rolar, urinar e interagir com o sexo oposto, explicam Martin-Wintle e colegas. Outros indicativos óbvios eram masturbação e ereção do pênis.

A antipatia, por outro lado, ficou demonstrada em agressões físicas, falta de interesse, lamúrias, bramidos e rosnados.

Depois de ter registrado os ursos que se agradavam mutuamente e quais obviamente não se entendiam, os pesquisadores juntaram os pares para acasalamento, de acordo com a melhor mistura genética – como geralmente é feito. E ficaram observando o que acontecia, em seguida.

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Pandas-gigantes têm em média somente um filhoteFoto: San Diego Zoo/M. Martin-Wintle

Mais sexo, mais filhotes

Os casais de pandas-gigantes que se gostavam tiveram duas vezes mais relações sexuais do que aqueles que não se entendiam. Aquilo que os pesquisadores chamam de "intromissões bem-sucedidas" – significando "sexo". Os pares preferidos se acasalaram em 72% dos casos; os demais, em somente um terço. Muitos optaram por não cruzar em absoluto.

Os pandas-gigantes que se gostavam tiveram cerca de uma vez e meia mais filhotes do que os outros. O amor entre pandas se traduzia em 1,4 filhote por acasalamento, em vez da média usual de apenas um filhote.

Normalmente, as fêmeas de pandas-gigantes têm uma ou duas crias. Se os pares não se acasalam e não produzem filhotes, a média geral de nascimentos diminui.

"Se os criadores incorporassem as preferências de acasalamento na gestão de reprodução, a geração de descendentes de pandas-gigantes nos programas de reintrodução da China poderia ser muito acelerada", conclui o estudo.

Livre arbítrio

Quando os criadores tentaram acasalar pandas que pareciam se odiar, em um terço dos casos os espécimes cruzaram mesmo assim, gerando crias. Isso poderia levar à suposição de que a preferência pessoal não é tão importante na vida sexual de um panda-gigante.

Para os programas de reprodução, é crucial acasalar animais geneticamente compatíveis, a fim de evitar doenças hereditárias em espécies tão raras. O programa de reprodução do panda-gigante da China tem como objetivo gerar uma quantidade suficiente de indivíduos para serem reintroduzidos nas áreas selvagens, restabelecendo ou complementando as populações fora de cativeiro. Eles têm que ser absolutamente saudáveis.

A sugestão dos pesquisadores: determinar que parceiros são geneticamente compatíveis – depois disso reunir os animais e deixar os pandas escolherem. Isso possibilitaria "ter o melhor dos dois mundos". Segundo os cientistas, a pesquisa não é aplicável só aos pandas-gigantes: ela também vai ajudar programas de reprodução de outras espécies ameaçadas.

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Filhotes gerados em cativeiros deverão ser reintroduzidos no ambiente naturalFoto: picture alliance/dpa/Chinafotopress/Li Wei

Reputação de preguiçoso

Uma pesquisa recente estimou em 1.864 o número de pandas-gigantes vivendo em áreas selvagens. Felizmente a cifra é crescente e equivale a 268 animais a mais do que na última pesquisa, divulgada cerca de uma década atrás. Mesmo assim, o número ainda é preocupantemente baixo.

Costuma-se dizer que os pandas-gigantes se reproduzem lentamente demais, sendo preguiçosos em termos de acasalamento. "Isso é apenas uma lenda", afirmou em entrevista à DW Arnulf Köhncke, do WWF. "Pandas-gigantes não se reproduzem de forma menos eficaz do que outros ursos."

Especialistas atribuem a persistência do mito ao fato de a reprodução do animal em cativeiro ser muito difícil. Além de não aceitarem qualquer macho, as pandas fêmeas só são férteis por cerca de 36 horas, a cada ano. Isso só dá aos zoológicos um dia e meio para apresentar à fêmea a seu futuro parceiro de acasalamento.

Se o processo não funciona, a inseminação artificial é a única alternativa – um procedimento caro e bastante sem graça para os ursos. Mais uma razão para permitir que os pandas-gigantes façam suas próprias opções sexuais.