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ThyssenKrupp e o pior negócio da história da indústria alemã

24 de fevereiro de 2017

Irregularidades ambientais e trabalhistas e mudanças na conjuntura econômica levaram multinacional alemã a ter um prejuízo bilionário com siderúrgicas construídas no Rio de Janeiro e nos EUA.

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Chaminés da usina CSA em Sepetiba
Já em 2012 a empresa havia anunciado a intenção de vender a unidade brasileiraFoto: picture-alliance/dpa

Quando começaram as obras do maior investimento já realizado pela ThyssenKrupp, em 2006, a empresa não poderia imaginar que a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio de Janeiro, se tornaria um dos piores negócios da história da indústria alemã.

A CSA integrava o chamado projeto Steel Americas, que previa também a construção de uma siderúrgica no Alabama, nos Estados Unidos. A ideia da ThyssenKrupp era exportar as placas de aço produzidas na usina brasileira para serem finalizadas nas unidades americana e alemãs.

Leia também: Livro denuncia atividades de empresas alemãs no Brasil

"Em decorrência do aumento dos custos de construção, de diversos problemas técnicos e de mudanças significativas no ambiente macroeconômico, as expectativas iniciais do projeto não foram atendidas", afirmou à DW Brasil Giovanni Pozzoli, diretor geral interino da ThyssenKrupp para a América do Sul.

A expectativa de lucro se transformou então num enorme prejuízo. O projeto Steel Americas causou um rombo de 8 bilhões de euros nos cofres da empresa e prejuízo ambiental para o Brasil.

Desastres ambientais

Os problemas na usina brasileira apareceram já no início do projeto. O primeiro golpe veio em 2007 e gerou protestos de pescadores da baía de Sepetiba. A drenagem no local teria espalhado metais pesados que estavam sedimentados no fundo da baía há uma década.

No mesmo ano, a obra foi embargada pelo Ibama devido ao desmatamento ilegal de uma área de dois hectares de mangue. Além do embargo, a ThyssenKrupp recebeu uma multa de 100 mil reais. Com a contaminação da água e a destruição do mangue, a pesca foi prejudicada na região, o que causou indignação na Alemanha.

Em 2008, a obra foi novamente interditada. Desta vez pelo Ministério Público do Trabalho devido a irregularidades, como ausência de sistemas coletivos de segurança.

Depósito de minérios da usina de Sepetiba
Empresa eraqueria produzir placas de aço no Brasil por um preço baixoFoto: picture-alliance/dpa

Chuva de prata

A siderúrgica foi inaugurada em grande estilo em junho de 2010, com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, pouco tempo após o início das operações, ocorreu o grande desastre: "chuvas de prata" começaram a atingir a região em volta da usina.

A poluição atmosférica foi causada por pó de grafite que vazou da siderúrgica. Moradores da área afetada relataram que o fenômeno desencadeou problemas respiratórios e dermatológicos.

O problema teve origem na unidade de coque. Na tentativa de reduzir os custos do projeto, a ThyssenKrupp deixou a construção desse setor nas mãos de uma empresa chinesa, em vez de trabalhar com uma subsidiária da própria multinacional alemã.

O barato saiu caro: além das multas ambientais e compensações milionárias, milhões de euros tiveram que ser investidos para consertar a falha na unidade de coque e em fornos da siderúrgica.

Conjuntura econômica

Além dos problemas estruturais, a empresa enfrentou mudanças no mercado que não estavam previstas. A ideia inicial da empresa era produzir placas de aço no Brasil por um preço baixo. O acabamento seria feito na usina do Alabama. "Os custos trabalhistas no Brasil aumentaram na última década, o que impactou a vantagem que buscávamos com a produção de placas de aço no país", explicou Pozzoli.

Além destes custos, o encarecimento do minério de ferro, a queda no preço do aço, com aumento da produção na Ásia, e a alta volatilidade do câmbio acabaram dificultando o projeto. A crise financeira internacional de 2008 contribuiu ainda mais para o cenário negativo.

"Quando um mercado está fraco, as empresas não podem cometer erros, pois esses erros não serão compensados rapidamente", avaliou Martin Gornig, do Instituto Alemão para Pesquisa em Economia (DIW).

Pouco menos de dois anos após a inauguração, em 2012, a multinacional anunciou a intenção de vender a CSA. O negócio foi concluído esta semana, quando a ThyssenKrupp  vendeu da siderúrgica brasileira para o conglomerado argentino Ternium por 1,5 bilhão de euros, incluindo uma dívida de 300 milhões com o BNDES.

Com a venda, a empresa quer encerar o que chamou de "deficitário capítulo América". A usina do Alabama, que também apresentou problemas técnicos, foi vendida em 2014. Em todo o projeto Steel Américas, o grupo investiu mais de 12 bilhões de euros.