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EsporteCatar

Como a Copa pode impulsionar a economia do país vencedor

Arthur Sullivan
19 de dezembro de 2022

Campeonatos anteriores ao Mundial do Catar mostram que a conquista traz ganhos além dos gramados para nações que levam a taça. Argentina poderia se beneficiar com exportações, há décadas mergulhada em crise econômica.

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Imagem em telão montado no parque Intendente Seeber em Buenos Aires mostra torcedores acompanhando a festa da vitória transmitida a partir do Catar, durante a qual o jogador Lionel Messi beija a Copa do Mundo enquanto segura o troféu de melhor do torneio internacional.
Torcedores diante de telão em Buenos Aires veem Messi beijar a taça do Mundial de futebol: esperança de crescimento do PIB com a vitória da Copa?Foto: Diego Radames/AA/picture alliance

Durante quatro semanas, a Copa do Mundo do Catar atraiu a atenção do mundo e, depois da final neste domingo (18/12) o torneio chegou ao fim. Mas o Catar, de longe o menor país a sediar uma Copa do Mundo, será confrontado com olegado do torneio pelas próximas décadas.

Vários estudos já foram publicados nos últimos anos sobre o impacto econômico de sediar grandes torneios esportivos, como a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos. Em geral, os efeitos foram considerados pequenos ou de curta duração.

Para o país que vence o torneio, os efeitos ainda são pouco conhecidos. Mas esse fator único de bem-estar e alegria pode ser convertido em um bônus econômico tangível?

Ganhos além da Copa

Nos últimos 30 anos, cinco países venceram as sete Copas do Mundo realizadas neste período: Brasil (1994 e 2002), França (1998 e 2018), Itália (2006), Espanha (2010) e Alemanha (2014).

Em seis destas sete nações, o país registrou um aumento na taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano da conquista em relação aos dois anos anteriores e posteriores.

Em 1994, o Brasil registrou uma taxa de crescimento de 5,9%, muito maior do que nos dois anos anteriores e seguintes. O mesmo aconteceu em 2002, quando a taxa de crescimento de 3,1% superou o 1,4% e 1,1% registrados em 2001 e 2003, respectivamente.

Imagem aérea mostra centenas de milhares de torcedores argentinos ao redor do Obelisco, na Praça da República, em Buenos Aires, ocupando a longa Avenida 9 de Julio e as ruas adjacentes para comemorar a vitória no Mundial de Futebol de 2022, no Catar, após final histórica.
Centenas de milhares de torcedores celebram o título de tricampeão mundial da Argentina em Buenos Aires, após final históricaFoto: Rodrigo Abd/AP Photo/picture alliance

Esta é a quarta vez em que a França disputa uma final nos últimos 30 anos. Em 1998, quando conquistou sua primeira Copa do Mundo, a economia do país, que também sediou o evento, cresceu 3,6% – mais do que em 1997 e 1999. Os franceses voltaram a vencer em 2018, mas desta vez o crescimento do PIB caiu de 2,3% para 1,9% em comparação com o ano anterior.

A Itália venceu a Copa de 2006, ano em que sua economia cresceu 1,8% e superou as taxas de 0,8% e 1,5% registradas em 2005 e 2007, respectivamente. A Alemanha teve sucesso semelhante em seu ano de glória, 2014. A economia alemã cresceu 2,2%, bem acima dos 0,4% de 2013, e do 1,5% de 2015.

Até a Espanha, que venceu o campeonato em 2010 em meio a uma grande recessão global decorrente de uma crise financeira, aparentemente se beneficiou do bônus da Copa do Mundo: sua economia cresceu 0,2% naquele ano, 4 pontos percentuais a mais que no ano anterior e 1 ponto percentual a mais do em 2011.

Mas a vitória na Copa do Mundo seria a verdadeira razão para esse crescimento ou seria apenas uma coincidência?

Logotipo da FIFA
Nos últimos 30 anos, cinco países diferentes venceram as sete Copas do Mundo realizadasFoto: Ozan Kose/AFP/Getty Images

Efeito provocado ou 'somente' economia?

Na época da Copa do Mundo de 2014, o colunista da Forbes Allen St. John escreveu: "Nos meses que se seguem a uma vitória na Copa parece haver um aumento de produtividade de curta duração." 

No entanto, acrescentou: "Pense nisso como o equivalente nacional do efeito de comer um doce, com um pico de energia de curta duração seguido por um esgotamento dessa energia."

Certamente, é fácil imaginar esse efeito. Bares e restaurantes lotados por dias e semanas após a vitória. Empresários tentando canalizar a confiança e o brio dos jogadores lançando metas audaciosas que talvez não fariam antes.

No entanto, os poucos dados acadêmicos que existem sobre o tema apontam em outra direção. Uma pesquisa realizada antes do Mundial deste ano pela Universidade de Surrey, no Reino Unido, descobriu que os saltos do PIB após a vitória na Copa são atribuídos a um aumento nas exportações, e não ao consumo interno ou investimento.

Seleção da Espanha celebra vitória da Copa de 2010, na África do Sul
Seleção da Espanha celebra vitória da Copa de 2010, na África do SulFoto: AP

O estudo mostrou que há um aumento do PIB nos primeiros dois trimestres após a vitória, quando a força da marca do país vencedor aumenta significativamente a popularidade de suas exportações.

"As evidências reforçam a ideia de que o sucesso em uma das competições esportivas internacionais mais vistas e prestigiadas tem o potencial de afetar o ciclo de negócios", conclui Marco Mello, autor do estudo.

A pesquisa comparou os dados de crescimento dos países vencedores com os dos perdedores.

A realidade de 2022

Para os dois países finalistas deste domingo, um impulso econômico associado a uma vitória seria bem-vindo, principalmente para a Argentina, agora tricampeã mundial.

O país está atolado num caos econômico há décadas. A expectativa é que a inflação chegue a 100% este ano, enquanto a enorme pilha de dívidas continua aumentando. Embora o sucesso no Catar tenha contribuído para melhorar o moral dos cidadãos, os problemas econômicos da Argentina são muito graves e enraizados para que uma vitória tenha qualquer impacto significativo.

Em relação ao Catar, o impacto econômico da Copa será mais profundo. Estima-se que o país gastou entre 200 e 300 bilhões de dólares no evento, para a construção de estádios e infraestrutura. O ganho com o turismo, por mais empolgantes que tenham sido as últimas quatro semanas em Doha, obviamente não preencherá essa lacuna.

No entanto, especialistas afirmaram diversas vezes que o Catar sediou o torneio para tentar obter prestígio no cenário global, e não qualquer tipo de impulso econômico.

"Está claro que esta Copa do Mundo não é uma questão de viabilidade econômica para o Catar", afirma Dan Plumley, da Universidade Sheffield Hallam, em entrevista à DW. "A Copa do Mundo de 2022 provavelmente será deficitária em termos comerciais."

"Os principais ganhos que o Catar busca não são comerciais. As relações internacionais são a principal motivação para sediar o torneio e também se trata de soft power como estratégia de defesa e segurança. Dinheiro claramente não é problema para o Catar. O país com certeza pode se dar ao luxo de sediar uma Copa e está disposto a absorver essas perdas".