Combate à crise
10 de novembro de 2009Eu seu primeiro discurso no Parlamento alemão após ser reeleita, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse nesta terça-feira (10/11) que a superação da crise terá prioridade em seu governo. Ao apresentar o programa do novo gabinete, prometeu para os próximos quatro anos uma "política da liberdade e da responsabilidade".
"Quero guiar a Alemanha a um novo fortalecimento", disse a chefe de governo, que prometeu uma "análise acurada" da situação do país. "Não podemos fechar os olhos à realidade", acrescentou. Merkel citou cinco pontos principais para o trabalho do governo.
São eles a superação da crise, a melhoria do relacionamento entre cidadãos e Estado, a superação do desafio representado pelo envelhecimento da população, a preservação dos recursos naturais e o equilíbrio na relação entre liberdade e segurança interna frente às novas ameaças internacionais.
A prioridade, entretanto, será a superação da crise financeira e econômica. A nova coalizão de governo, formada pelos democrata-cristãos da CDU/CSU e pelos liberal-democratas do FDP, quer, nas palavras da chefe de governo, "fortalecer a Alemanha e estreitar os laços de união do país".
Crescimento e reformas
Para superar a crise, Merkel prometeu uma política de crescimento e reformas, da qual farão parte também as controversas reduções de impostos. Entretanto, ela não detalhou pontos concretos da nova política tributária, limitando-se a anunciar que haverá mais reduções fiscais a partir de 2011. A coalizão planeja a redução de impostos da ordem de 22 bilhões de euros.
A nova coalizão de governo pretende aumentar provisoriamente o endividamento público e aliviar o bolso dos contribuintes. "Sem crescimento não há investimento, sem crescimento não há empregos, sem crescimento não há dinheiro para a educação, sem crescimento não há dinheiro para os mais fracos", disse Merkel em seu discurso de quase uma hora, acompanhado de vaias e gritos da oposição.
"Por isso, queremos dar outro impulso de crescimento também em 2011 na forma de alívios no imposto de renda", anunciou. Merkel deixou em aberto até que ponto o governo executará a reforma radical do sistema tributário reivindicada pelos liberal-democratas, partido menor da coalizão governamental. Ela apenas anunciou que o sistema tributário deverá se tornar "simples, reduzido e justo".
O programa do novo governo prevê, ainda, a criação de um plano complementar para a assistência social e médica em caso de invalidez ou velhice, sustentado através de seguros privados. Esse plano deverá contar com fortes resistências, devido aos custos cada vez mais altos na área.
O princípio da solidariedade não será, porém, abandonado, assegurou a chanceler. No sistema previdenciário e de saúde pública, a coalizão de governo pretende aliviar os empregadores dos gastos cada dia maiores do sistema de saúde.
General Motors e Opel
No pronunciamento diante do Bundestag, a chanceler afirmou ainda que a General Motors (GM) deve pagar de seu próprio caixa os gastos principais com o saneamento da Opel, sua filial europeia. E afirmou que espera que a GM apresente um conceito viável.
"Lamento profundamente a decisão da GM. Mas os trabalhadores precisam de mais do que nosso lamento. Eles precisam de uma solução concreta." Ela pediu à empresa americana que devolva o empréstimo ponte e que se engaje por sua filial europeia.
Em sua estreia na oposição, o líder da bancada dos social-democratas, Frank-Walter Steinmeier, acusou o novo governo de dividir a sociedade. "Vocês querem construir pontes, mas na realidade estão cavando covas", disparou o político, que até o mês passado ainda ocupava o cargo de vice-chanceler e ministro do Exterior da Alemanha.
Em um discurso inflamado, Steinmeier afirmou que Merkel faz política de clientelismo e disse que quem lucrará com as reduções de impostos não serão os mais fracos e sim os mais ricos.
Ele acusou o governo de favorecer as empresas e deixar os trabalhadores em desvantagem, quebrando com o princípio de solidariedade do sistema de saúde. Já as planejadas reduções tributárias irão levar o Estado ao endividamento recorde, salientou.
Frieza social
O líder dos verdes, Jürgen Trittin, afirmou que a política social da nova coalizão de governo favorece as famílias com renda mais alta, se esquecendo de desempregados e beneficiários de ajuda social. "Isso é uma política da frieza social, sem coração", acusou. Já o líder do partido A Esquerda, Oskar Lafontaine, acusou o governo de não dispor de soluções para combater as causas da crise.
A política de energia do novo mandato também foi motivo de críticas. A líder do FDP no Parlamento, Birgit Homburger, provocou protestos ao defender a construção de mais usinas de carvão e o prolongamento do tempo de funcionamento das usinas atômicas. Os três líderes da oposição são contra um afrouxamento da renúncia à energia atômica na Alemanha.
MD/dpa/rtrd/ap
Revisão: Roselaine Wandscheer