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Com mais de 200 anos de tradição, ThyssenKrupp luta pela sobrevivência

Klaus Deuse (md)16 de janeiro de 2014

Conglomerado alemão continua a sofrer prejuízos bilionários. Usinas deficitárias no Brasil e nos EUA e negócios na área de aço inoxidável dificultam recuperação. Acionistas esperam explicações da direção.

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Foto: Reuters

Uma empresa de grande tradição luta pelo seu futuro. Sobretudo decisões erradas pesam sobre a ThyssenKrupp. Elas provocaram prejuízos de 1,5 bilhão de euros no ano passado. No ano anterior, foram mais de 5 bilhões de euros em perdas. Agora, os acionistas da companhia, já sabendo que não receberão dividendos, esperam que, pelo menos, o diretor-presidente do grupo alemão, Heinrich Hiesinger, explique como pretende colocar o grupo novamente nos trilhos. A próxima assembleia de acionistas está agendada para sexta-feira (17/01).

Quando Hiesinger assumiu o comando da ThyssenKrupp, há três anos, a empresa já não ia bem das pernas. Desde então, o valor das ações do grupo caiu cerca de 40%. Desde o início, ele pediu paciência a funcionários e investidores, frisando várias vezes serem necessários anos para que a empresa se recupere.

A multinacional emprega um total 157 mil funcionários, 58 mil deles na Alemanha. Mas mesmo agora já é previsto um corte de 3 mil postos de trabalho na administração da empresa em todo o mundo. Só na Alemanha, o corte deve atingir metade dos postos nessa área. Além disso, o setor siderúrgico sofrerá uma redução de 2 mil postos de trabalho.

Necessidade de novos investimentos

Por um lado, o grupo é forçado a economizar, já que os passivos, incluindo dívidas com aposentadorias, somam pelo menos 30 bilhões de euros. Por outro, o caminho da reestruturação escolhido por Hiesinger não pode continuar sem investimento e aquisição de empresas em segmentos de negócios promissores e rentáveis, como elevadores ou construção de instalações industriais. Isso tudo custa dinheiro. Mas é uma mudança da qual depende o futuro do conglomerado.

Por isso, a gestão da empresa tem como prioridades se desfazer de fardos como as siderúrgicas nos EUA e no Brasil, que já consumiram cerca de 13 bilhões de euros. A usina de aço no estado americano do Alabama, por exemplo, foi vendida à Arcelor-Mittal e à Nippon Steel por 1,1 bilhão de euros. Sem a pressão da dívida, o dinheiro arrecadado poderia ter sido maior. Mas as instalações no Brasil ainda continuam a pesar no balanço da empresa.

No setor de aço inoxidável, a ordem continua a ser minimizar os danos. Até agora, a Krupp tinha quase 30% de participação na líder mundial finlandesa Outokumpu e havia vendido a ela a divisão de aço inoxidável na Alemanha, entre outros, juntamente com a fábrica em Bochum.

Heinrich Hiesinger
Hiesinger assumiu comando da empresa há três anosFoto: picture-alliance/dpa

O negócio teve que ser desfeito, pois uma falência iminente dos finlandeses teria causado à ThyssenKrupp uma depreciação de centenas de milhões de euros. Mesmo assim, o encerramento desse negócio custará alguns milhões ao grupo alemão – uma siderúrgica italiana deficitária que pertencia à Outukumpu agora está nas mãos da Thyssen-Krupp, sem que haja o mínimo sinal de interessados em comprar a unidade.

Acusações de cartelização

A esses problemas se somam os vários escândalos de corrupção, que fizeram com que a ThyssenKrupp tivesse que desembolsar mais de meio bilhão de euros para pagamento de multas e indenizações. Como se já não bastasse, autoridades antitruste alemãs estão investigando o grupo desde o ano passado por suspeita de acordos de fixação de preços na venda de aço.

Enquanto isso, a grande limpeza na área de pessoal já começou por trás dos panos. Hiesinger quer imprimir uma nova filosofia e, por isso, até uma das figuras de proa do grupo, o presidente do conselho de supervisão, Gerhard Cromme, teve de se despedir da companhia.

Financeiramente, a empresa conseguiu respirar um pouco depois que um aumento de capital por meio da emissão de novas ações possibilitou uma injeção de cerca de 900 milhões de euros. Só resta saber se a medida vai agilizar o grupo da forma que Hiesinger quer. Pois mais de 60% das ações foram adquiridas pela administradora de fundos de investimento sueca Cevian, que aumentou sua participação para 10,96% e pode, portanto, reivindicar o direito a um assento no conselho de administração. A Cevian é considerada um investidor ativo, que interfere nas estratégias da direção das empresas onde tem participação.

Brasilien Deutschland ThyssenKrupp-Stahlwerk bei Rio de Janeiro
Instalações no Brasil estão entre os maiores fardos da empresaFoto: picture-alliance/dpa

Ano de 2014 será decisivo

Hiesinger segue não querendo saber de bravatas, mas continua perseguindo persistentemente a meta almejada. Seu contrato vai até setembro de 2015. Ele quer convencer os acionistas com números que podem parecer modestos à primeira vista. Ele conseguiu levar até mesmo a divisão de aço, economicamente uma das mais sensíveis, a um lucro de 143 milhões de euros (deduzido de impostos e juros).

Melhores ainda estão áreas como a de soluções industriais e de elevadores, com lucros de 640 milhões e 675 milhões de euros, respectivamente. São divisões que Hiesinger pretende expandir ainda mais, visando aumentar os lucros. O diretor da companhia sempre frisa que 2014 será um ano decisivo pois, segundo ele, os investidores vão abandonar o barco caso não sejam apresentados progressos nos resultados. Um desmembramento da tradicional empresa alemã, com mais de 200 anos de história seria, então, inevitável.