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Cisão na aliança militar entre Europa e Estados Unidos

(pc)26 de fevereiro de 2002

As crescentes críticas dos Estados Unidos à Europa e as reservas européias à política internacional americana estão se cristalizando na primeira verdadeira crise da história da OTAN, a aliança militar do Ocidente.

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Mapa dos países da OTAN (em azul)

O abismo entre a Europa e os Estados Unidos tornou-se uma realidade, desde o conflito do Afeganistão. A aliança militar da OTAN dividiu-se em uma super-superpotência agindo isolada - os Estados Unidos com suas tropas, força aérea e marinha -, e uma aliança solta de ajudantes europeus, desempenhando funções de polícia militar em Cabul. Esta discrepância tem implicações políticas negativas na Europa, segundo analisa Lothar Rühl, ex-assessor do Ministério alemão da Defesa, num artigo publicado na terça-feira (26) pelo jornal suíço Neue Zürcher Zeitung.

Europeus são "contribuintes deficitários"

A retórica de Washington na "Guerra contra o Terror" reflete esta realidade. Em setembro de 2001 o presidente Bush afirmava contar com dois aliados europeus, Grã-Bretanha e Alemanha, ao lado da Austrália, Canadá, Paquistão e Turquia. Hoje, da Europa só sobrou a Grã-Bretanha. Na escala de valores da coalização internacional os países da União Européia estão em baixo. No Pentágono eles são qualificados de "contribuintes deficitários" (deficit contributors).

As crescentes críticas dos governos europeus à política dos Estados Unidos contribuem para aumentar a tensão. Na Conferência sobre Segurança Internacional, em Munique, o vice-secretário da Defesa americana Paul Wolfowitz deixou claro que os Estados Unidos agirão sozinhos, sem os europeus, para defender seus interesses globais. Wolfowitz mencionou a possibilidade de os Estados Unidos realizar ataques preventivos contra países que produzam ou adquiram armas de destruição em massa ou planejem atacar interesses americanos.

Ceticismo americano.

Dentro dessa perspectiva, a aliança militar do Ocidente continuaria sob a hegemonia dos Estados Unidos, mas funcionaria de acordo com as condições ditadas pelos americanos. Em 1999, a União Européia decidiu criar uma força de intervenção rápida para agir em situações de crise, a fim de ganhar mais autonomia. Mas, até agora, os governos europeus não destinaram recursos suplementares para concretizar este projeto, o que faz aumentar ainda mais o ceticismo dos americanos.

As deficiências das Forças Armadas dos países europeus, como a França e a Alemanha, por exemplo, limitam a possibilidade de cooperação com os americanos em operações fora do território europeu, como é o caso do Afeganistão. Essas deficiências são evidentes nas estruturas de reconhecimento, no transporte aéreo e marítimo de longa distância, logística, defesa anti-aérea móvel, reabastecimento etc. Sem uma maciça presença militar dos Estados Unidos a OTAN não é capaz de operar fora da Europa

Orçamento e motivação

Um exemplo desta deficiência foi a recusa alemã em assumir a liderança das forças internacionais de segurança no Afeganistão, embora isto pudesse reforçar a posição da Alemanha na coalizão internacional. Segundo cálculos do Ministério da Defesa, esse papel de liderança aumentaria os custos da operação alemã no Afeganistão, atualmente orçados entre 650 e 700 milhões de euros, para 1,6 bilhão de euros.

Para concretizar o projeto de reformas das Forças Armadas alemãs faltam no orçamento de Defesa 7,5 bilhões de euros até o ano 2006. Os exemplos negativos da França e da Holanda mostram que a profissionalização das Forças Armadas, uma das hipóteses em debate, não é realmente uma solução. Um exército de voluntários custa mais caro que um exército de recrutas e os voluntários se fazem raros numa sociedade de bem-estar como a européia.

Se as Forças Armadas alemãs forem reduzidas para um efetivo entre 80.000 e 150.000 soldados, conforme se propõe, elas se transformariam num puro exército de intervenção. Este só teria sentido se fosse acionado com freqüência e utilizado como instrumento da política de segurança alemã e européia.

Mas a existência deste exército de profissionais colocaria a Alemanha, assim como os demais países europeus, a serviço da ONU e dos interesses dos Estados Unidos. Este papel modificaria ainda mais radicalmente o caráter da aliança do Ocidente. A OTAN viraria um espécie de reservatório de soldados e material militar para os objetivos americanos, assim como durante a Guerra do Golfo (1990-91), quando os depósitos de munição alemães foram esvaziados pelas tropas americanas.