1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Cinema a céu aberto

Petra Füchsel / sv13 de julho de 2003

As noites quentes do verão europeu convidam os cinéfilos a permanecer ao ar livre. Recicla-se até mesmo a relíquia histórica do "drive-in". A tendência nostálgica é um não ao universo estéril dos anônimos Multiplex.

https://p.dw.com/p/3qK5
Primeira projeção no drive-in de Gravenbruch, em abril de 1960Foto: AP

Todo ano, a cena se repete: os distribuidores alemães procuram descobrir alternativas que vão além das convencionais salas de cinema. Aí, dá-se vazão à fantasia: as opções vão da ressurreição do antigo drive-in até cine ao ar livre com projeções à beira do rio ou ao lado de um castelo. No atual verão, Berlim tomou a dianteira, provando ser a capital dos cinemas ao ar livre. São mais de uma dúzia de parques, praças ou pátios, que abrigam a tela nos dias quentes.

Com aproximadamente 20 mil lugares, o Waldbühne, edificado como um anfiteatro grego, é um dos maiores. Já o cinema ao ar livre da Ilha dos Museus (Museumsinsel) tem outros trunfos: oferece cadeiras reclináveis confortáveis e o panorama de uma arquitetura imponente ao redor - como a Velha Galeria Nacional (Alte Nationalgalerie). Uma opção para desviar o olhar, caso o filme não seja dos melhores.

Este ano, foi inaugurado na capital alemã um "cinema a céu aberto para carros " - a moderna descrição do antigo drive-in. Cinéfilos motorizados podem, agora, acompanhar os últimos lançamentos do mercado. O mesmo é oferecido nesta temporada em Völklingen, no estado do Sarre. Tendo uma enorme siderúrgica como pano de fundo, um drive-in instalado durante o verão atrai os fãs da sétima arte. Mas, afinal, como se deu a combinação entre o cinema e a mobilidade?

Venha, querido, vamos para o drive-in

Segundo reza a lenda, os cinemas para espectadores motorizados nasceram por mero acaso. Quando Richard Hollingshead mostrou Wife Beware, em Nova Jersey, há 70 anos, no primeiro drive-in da história, acredita-se que ele só queria atrair pessoas para seu comércio de acessórios para automóveis. O novo gênero, de início, disseminou-se devagar.

Somente com o crescimento da mobilidade nos anos 50 é que a nova idéia, nos Estados Unidos, chegou a seu ápice. Os mais de quatro mil drive-in de então tornaram-se uma das opções preferidas de jovens casais. Abraços e beijos no banco de trás: a imagem tornou-se, para uma sociedade puritana, o símbolo dos cinemas para espectadores em seus carros.

Ascensão e decadência

Na Alemanha, os drive-in tiveram seus áureos tempos nos anos 60. Em Neu-Isenburg, o mais velho cinema do gênero na Europa recebeu seus convidados sobre rodas, em 1960, com a comédia O Rei e Eu, de Yul Brynner. Em seus melhores dias, os drive-in atraíam cerca de 500 mil visitantes por ano.

Nos anos 80, no entanto, eles estiveram ameaçados de extinção, quando seus proprietários enfrentaram períodos de baixa: os aumentos no preço da gasolina e a consciência ecológica diminuíram a fascinação pelo automóvel. A partir do fim dos anos 70, o videocassete adentrou a sala de estar e em 1980 foi ainda introduzido no país o horário de verão. Escurecia mais tarde, e os filmes só podiam ser mostrados depois que o sol desaparecia por completo.

Novas idéias, novas tendências

Distribuidores e proprietários de cinemas tentaram mudar o curso dos acontecimentos, incluindo nos drive-in ofertas destinadas a determinados tipos de público, como por exemplo filmes em inglês - no original (e não dublados, como na maioria dos cinemas do país). A esperança era atrair estrangeiros, escolares e turistas em geral. Alguns proprietários tiveram até mesmo a idéia de misturar os gêneros cine ao ar livre e drive-in, transformando a ida ao cinema em uma verdadeira "festa no parque".

Permitia-se levar até mesmo churrasqueiras para o cinema, enquanto o bar local oferecia a carne e bebidas geladas. Até mesmo os animais domésticos chegaram a receber atenção: cães, gatos, porquinhos-da-índia, ou seja, (quase) todo o mundo animal passou a ser bem-vindo.

"Que o cimema além do mainstream e em um ambiente fora do normal é uma idéia que funciona bem", foi a conclusão a que chegou Peter von Komorowski, proprietário de um cinema móvel. Duas vezes por ano, von Komorowski parte para uma turnê pelo estado alemão da Baixa-Saxônia, durante uma temporada de quatro meses.

Suas ofertas são um misto de grandes sucessos de público, clássicos e filmes infantis. Os locais de projeção? Salas de associações comunitárias e restaurantes - também um verdadeiro nicho. Do número de visitantes, Von Komorowski não tem que reclamar. Como se vê, idéias inovadoras e a descoberta de novos tipos de público alvo não deixam, por sorte, a tradição romântica do drive-in e do cinema ao ar livre morrer definitivamente.