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Cientistas criam braço mecânico guiado por pensamento

7 de junho de 2012

Cientistas do Centro Aeroespacial Alemão criaram um braço mecânico guiado por ondas cerebrais. A invenção faz aumentar a expectativa em torno da robótica guiada por pensamento.

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Foto: DW

Jörn Vogel foi o único cientista a quem foi permitido entrar na sala durante as experiências com um robô movido pela mente humana, realizadas com Cathy Hutchinson ano passado nos Estados Unidos. Ele considera os testes, publicados recentemente na revista científica Nature, como o seu trabalho mais memorável.

“Quando finalmente funcionou, foi um momento muito especial para todos os envolvidos”, declarou à DW o cientista do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), durante a Automatica, feira de robótica que aconteceu em Munique.

Durante os testes, Cathy Hutchinson, uma americana de 58 anos, só conseguia se comunicar através do olhar. Há 15 anos, ela sofreu um derrame cerebral que também a fez perder os movimentos dos membros.

A fase de treinamento com o robô da DLR levou alguns anos de aperfeiçoamento e envolveu uma cirurgia cerebral, mas Vogel diz que os resultados são a prova conclusiva de que robôs podem ser controlados apenas com o pensamento.

“Ela fez seis tentativas e obteve sucesso em quatro, conseguindo levantar a xícara até a boca. Nas outras duas, ela quase derrubou a xícara da mesa. Nesse momento, paramos os testes”.

Jörn Vogel
Jörn Vogel demonstra o braço robótico usado no experimentoFoto: Leslie / DW

Um longo processo

Há cinco anos, Hutchington recebeu no cérebro um chip que monitora a atividade dos neurônios. Desde então, o professor Patrick van der Smagt, colega de Vogel, tem monitorado os progressos que a paciente vem fazendo.

Antes dos testes finais, Hutchinson teve que treinar suas habilidades com o robô. Primeiramente, os cientistas pediram que ela seguisse os movimentos do braço mecânico. Ao mesmo tempo, sua atividade neurológica era registrada. O processo foi, então, invertido.

Professor Patrick van der Smagt
Patrick van der Smagt monitorou o progresso da pacienteFoto: Leslie / DW

Hutchinson tentava controlar o robô, e a atividade era registrada através do sensor implantado em seu cérebro. Um casamento de padrões foi usado para que o braço macânico pudesse responder de forma apropriada.

“É muito importante que o teste seja seguro para o paciente, tanto legalmente como na prática”, afirma Van der Smagt. “Esse foi um dos motivos pelos quais os testes levaram tanto tempo, pois a parte científica é relativamente simples”.

Desde os bem-sucedidos testes com Hutchinson, outro paciente nos Estados Unidos se juntou ao programa. Ele recebeu o implante do chip há um ano e seus resultados têm sido até mais impressionantes.

“Não hesitaria”

Em Paderborn, na região alemã do vale do Ruhr, Lars Hemme convive diariamente com um sério problema físico. Um atraso em seu desenvolvimento muscular e membros disformes, fizeram com que ele tenha hoje uma autonomia bastante limitada. Sentado em sua cadeira de rodas, ele assiste ao vídeo dos testes feitos com Cathy Hutchinson e o robô controlado por ondas cerebrais.

“Estou fascinado. Leva um longo tempo para o braço se movimentar, mas é fantástico o fato de você conseguir mover a xícara com seus pensamentos”, diz Hemme, de 37 anos, à DW.

Lars Hemme
Lars Hemme não hesitaria em utilizar a tecnologiaFoto: Leslie / DW

Em seu apartamento, ele depende de assistência 24 horas por dia. Em seu caso, Hemme acredita que o braço robótico daria a possibilidade de realizar algumas tarefas independentemente. Mesmo com os altos custos, ele se interessaria em experimentar a novidade.

“Inicialmente, teria um pouco de receio em usar a tecnologia porque alguém teria que inserir um chip no meu cérebro”, considera Hemme. “No entanto, acho que é uma ótima ideia e não hesitaria em fazer o transplante”.

Futuro incerto

Restam poucas dúvidas de que a robótica controlada pelo pensamento tenha o potencial de melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas com deficiências. O professor Patrick van der Smagt diz estar confiante de que esse sistema possa ser usado pela maioria dos pacientes. Mas acredita que a pesquisa no ramo está apenas começando.

“Ainda estamos no processo de maturação, e há muito a ser estudado. Não posso dizer que todo mundo poderá receber esse sistema nos próximos anos. Mas essa tecnologia certamente chegará, em alguma fase, ao mercado, se o interesse do consumidor continuar a existir”, conclui.

Autor: André Leslie (mas)
Revisão: Marcio Damasceno