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Cidades perdem luta contra enchente do século

Marcio Weichert17 de agosto de 2002

Nem meio milhão de sacos de areia segura a natureza. Dique se rompe em Bitterfeld e alaga parque químico. Outros perdem impermeabilidade ou ficam submersos. Catástrofe gera discussão política e solidariedade européia.

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Em Bitterfeld, o hospital municipal foi inundadoFoto: AP

A natureza segue mais forte que o homem. O esforço de milhares de soldados, bombeiros, voluntários e moradores de Bitterfeld foi em vão. Há dias eles reforçavam os diques às margens do Rio Mulde com sacos de areia. Até mesmo mergulhadores eram utilizados para instalar os volumes em partes já submersas. Na tarde deste sábado, a enchente do século no Leste alemão venceu mais uma vez.

Um dique não resistiu e rompeu-se. Em outros pontos, o nível do rio superou a altura das margens artificiais, ou os diques encharcados perderam sua impermeabilidade, com a água atravessando-os sem destruí-los. Rapidamente 25% de Bitterfeld foi alagada, levando ao desespero moradores que ainda não haviam obedecido às instruções de abandonar a cidade do estado da Saxônia-Anhalt. Também o hospital e boa parte do parque industrial químico estão inundados; 65% do município está sem energia elétrica.

Überschwemmtes Auto und Straßenschilder
Meissen, sábado, 17.08.2002Foto: AP

A sorte não é melhor em Meissen, Riesa e Torgau, na Saxônia, assim como em Mühlberg, em Brandemburgo. Evacuadas preventivamente, haviam se tornado cidades fantasmas, antes de as águas igualmente vencerem os diques e ocuparem as ruas. Em Riesa, a correnteza arrancou uma ponte ferroviária com duas linhas. O tráfego de trens entre Berlim e Leipzig está interrompido.

Onze municípios declararam estado de emergência. As enchentes deixaram até agora 11 mortos no Leste alemão, onde mais de 10 mil soldados estão ajudando. Somente neste sábado, aviões e helicópteros da Força Aérea alemã descarregaram mais de meio milhão de sacos de areia, preparados em outras regiões do país.

Águas descendo

– Em Dresden, o pior já passou. Após atingir o novo recorde de 9,4 metros, o nível do Rio Elba baixou para 9,34 à tarde, o que porém ainda é bem superior à marca de 8,77 de 1845. Vários bairros da capital saxã continuam debaixo d'água. Pouco antes da cidade, a Polícia explodiu uma balsa que descia o rio desgovernada, ameaçando causar estragos ainda mais graves.

Sandsäcke werden verladen
Em Zurique, sacos para ajudar no Leste alemãoFoto: AP

Na Baviera e nos países vizinhos também atingidos pelas inundações, a situação melhora. Em Praga, a inundação ainda não acabou, mas as águas estão baixando e alguns dos 70 mil habitantes que deixaram a capital tcheca começaram a retornar. Nas regiões atingidas pela catástrofe, teme-se pelo surgimento de epidemias. Em várias localidades, falta luz e gás.

Em Bratislava, capital da Eslováquia, o Rio Danúbio desce, após ter atingido 9,9 metros de profundidade. Na Áustria, soldados e defesa civil empenham-se na limpeza de ruas e casas. Em algumas vias, a lama chegou a atingir um metro de altura. Na Baviera, o estado de emergência foi suspenso.

Solidariedade e ajuda

– Países europeus e os Estados Unidos demonstram agora sua solidariedade com os atingidos. França, Espanha, Luxemburgo e Suíça ofereceram apoio logístico e material. Somente da Suíça, foram enviados 50 mil sacos de areia para a Saxônia. Bombeiros de Frankfurt seguiram para Praga para ajudar no bombeamento das águas que alagaram o metrô da cidade. Washington prometeu ajuda financeira ao governo tcheco.

Erschöpfte Feuerwehrleute
Bombeiros exaustos descansam em DresdenFoto: AP

Neste domingo, representantes da Alemanha, Áustria, República Tcheca e Eslováquia reúnem-se em Berlim com o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, por iniciativa do governo alemão. Prodi já prometeu ajuda que pode chegar a dois bilhões de euros.

Na Alemanha, numerosas empresas já anunciaram contribuições generosas para o socorro às vítimas e para a reconstrução das áreas atingidas. Sucedem-se as contas abertas para doações, assim como programas de tevê beneficentes.

Exploração política

– Neste sábado, o governador da Baviera e candidato a chanceler federal da oposição conservadora, Edmund Stoiber, reuniu-se com os governadores da Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia, em Leipzig. Os três são da CDU, partido aliado da CSU bávara.

Ao final do encontro, Stoiber reinvidicou do governo federal a criação de um fundo nacional de emergência para arrecadar um milhão de euros até o fim do ano. O candidato oposicionista considera insuficientes as verbas e demais medidas anunciadas até agora pelo chanceler federal Gerhard Schröder. O chefe de governo social-democrata, por sua vez, indignou-se com a reunião em Leipzig e acusou a oposição de explorar partidariamente a catástrofe.

O presidente federal, Johannes Rau, esteve neste sábado na região atingida pelo Rio Mulde e declarou "missão nacional" os trabalhos de reconstrução. "A situação é muito pior do que vemos na tevê", disse o chefe de Estado social-democrata. O governador da Saxônia, Georg Milbradt, o acompanhou e disse que em seu estado os danos chegam a 5 bilhões de euros. Somente a destruição de linhas, equipamentos e instalações da companhia ferroviária Deutsche Bahn somaria um bilhão de euros.