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Checkpoint Berlim: Sinos da era nazista

8 de janeiro de 2018

Descoberta de peça com suástica na Renânia-Palatinado impulsionou buscas em igrejas de toda Alemanha. Em Berlim, até agora, dois sinos da era nazista que ainda funcionavam já foram encontrados.

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Primeiro sino nazista foi encontrado em Herxheim am Berg
Primeiro sino nazista foi encontrado em Herxheim am BergFoto: picture-alliance /dpa/U. Anspach

Mais de 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ainda é confrontada com heranças inesperadas do regime nazista. Em meados de 2017, a revelação de que uma igreja no município de Herxheim am Berg, no estado da Renânia-Palatinado, possuía um sino ainda ativo que continha uma suástica e a inscrição "Tudo pela pátria - Adolf Hitler" causou grande indignação e levou à renúncia do prefeito da cidade.

Leia também: Um dos últimos resquícios da "Germânia"

A revelação deu início a um intenso debate na cidade sobre como lidar com essa herança histórica. A discussão ultrapassou as fronteiras locais e levantou a possibilidade de que outros casos semelhantes poderiam existir na Alemanha.

A jornalista Clarissa Neher
A jornalista Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Nos meses seguintes, sinos da era nazista foram encontrados em igrejas de outros estados do país. Em Berlim, a regional local da igreja luterana começou em outubro uma inspeção em suas comunidades. Ao todo, a capital alemã possui 242 igrejas evangélicas e cerca de 100 católicas. A investigação localizou até agora dois sinos com símbolos nazistas em igrejas locais: um numa comunidade do bairro Spandau e o outro em Rudow.

A regional luterana não descarta, no entanto, que outros sinos sejam encontrados na cidade e também no estado de Brandemburgo, mas acredita que o número de futuras possíveis descobertas não deve ultrapassar algumas unidades. Essa herança está presente em igrejas construídas durante o regime nazista (1933-1945) ou naquelas que receberam sinos novos nesta época.

O sino de Spandau, por exemplo, foi encontrado numa igreja construída em 1932, mas que recebeu a peça de bronze, marcada com uma suástica, em 1934. Depois de um intenso debate entre igreja e comunidade foi decidido que o sino seria retirado do local e doado para um museu. A descoberta também impulsionou a formação de um grupo para analisar qual foi o papel da comunidade durante o regime nazista e os motivos da permanência do sino na igreja, mesmo depois de uma discussão sobre o tema, ocorrida em 1962, como mostrou o arquivo local.

Já em Rudow, a descoberta ocorreu pouco antes do Natal. Como a igreja possui dois sinos, a comunidade decidiu que a peça com inscrições nazistas não será mais tocada. Um debate deve decidir o futuro do objeto: se ele permanecerá na igreja ou terá um destino semelhante ao de Spandau.

Como destinação mais correta para os sinos da época nazista, o Conselho Central dos Judeus na Alemanha recomenda a remoção desses objetos e sua doação para museus. No caso que originou o debate atual foi decidido que o silêncio é, por enquanto, o futuro do sino em Herxheim am Berg.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.