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Checkpoint Berlim: Os bastidores do governo alemão

4 de setembro de 2017

Uma vez por ano, Berlim abre as portas dos ministérios e da chancelaria federal para a população. Num exercício de democracia, berlinenses são convidados a conhecer a fundo instituições políticas e seus representantes.

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 Cercada de seguranças, Merkel recebeu visitantes na chancelaria
Cercada de seguranças, Merkel recebeu visitantes na chancelaria federalFoto: picture-alliance/dpa/J. Büttner

"A fim de um encontro com a democracia?", foi a pergunta feita neste ano pelo governo alemão ao convidar os berlinenses para conhecer de perto os bastidores da política. Eu nunca havia participado do Dia das Portas Abertas, realizado há 19 anos com o intuito de aproximar as instituições governamentais da população. O folheto sobre o evento deste ano despertou minha curiosidade.

Durante dois dias, no último final de semana de agosto, 14 ministérios e a chancelaria federal abriram suas portas aos interessados em se informar sobre o trabalho dessas instituições. Cada local preparou um programa especial, com artistas, pesquisadores e os próprios ministros, que participariam de debates com a população. O ponto alto seria o tour pela chancelaria, onde Angela Merkel receberia os visitantes no domingo.

Os órgãos governamentais estavam preparados para receber um público variado e de diferentes idades. Quase todos ofereceriam uma programação especial para crianças. O Ministério da Família optou em se transformar num verdadeiro parque de diversões para os pequenos.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Era tanta opção que foi difícil saber por onde começar. Escolhi o tour histórico no prédio que atualmente abriga o Ministério das Finanças. O local foi construído em 1936 para abrigar o Ministério da Aviação do regime nazista. A visita, que achei que seria curta, durou quase uma hora. Ela se concentrou em fatos que marcaram o prédio e foi intercalada com apresentações de teatro, que não combinavam com a proposta. Um dos destaques foi a sala do ministro das Finanças, que de tão arrumada mal parecia ser usada para trabalho.

Outros ministérios também abriram as portas da sala dos ministros para a população. De lá, fui para o Ministério da Justiça, onde o ministro Heiko Maas falou sobre seu trabalho e respondeu a algumas perguntas de visitantes. Numa das questões, foi confrontado com uma crítica a seu Partido Social-Democrata (SPD): um jovem estudante de Direito queria saber por que a legenda não promoveu plebiscitos durante o governo de coalizão ao lado da União Democrata-Cristã (CDU), de Merkel.

Depois do debate, resolvi partir para o ponto alto do evento: conhecer a chancelaria federal. Duas linhas de ônibus transportavam gratuitamente os visitantes entre os ministérios. A segurança para entrar nos locais foi reforçada, com revistas e raio-x de bolsas. Todo esse reforço, porém, gerou filas.

Ao chegar à chancelaria, deparei-me com uma fila enorme. Provavelmente, das 120 mil pessoas que aceitaram o convite para o encontro com a democracia, a grande maioria quis conhecer o local. Depois de esperar uma hora e ainda sem perspectiva de quando conseguiria entrar no prédio, decidi deixar a visita para o próximo ano e aproveitar para conhecer outros ministérios.

Saí de casa sem grandes expectativas, achando que passaria uma ou duas horas no evento, mas acabei indo de ministério em ministério durante quase o dia todo. Gostei muito da iniciativa de aproximar a política da população e da transparência proporcionada por ela.

Abrir as portas é como prestar contas sobre o que está sendo feito em cada um desses órgãos. E ainda possibilita à população adquirir conhecimento para saber onde deve ir para cobrar direitos, além de lembrar a todos que as instituições não pertencem a partidos ou políticos, mas sim àqueles que os elegeram.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.