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O antigo paraíso de diversão da Alemanha Oriental

26 de março de 2018

Único parque de diversões da RDA virou ruína em Berlim. Sua história é marcada por episódios que parecem romance policial. Atualmente apenas visitas guiadas são permitidas no local que deve reabrir em 2019.

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Montanha-russa do Spreepark
Mato tomou conta de túnel da montanha-russa no SpreeparkFoto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert

Escondidas no meio da floresta conhecida como Plänterwald, no sudeste de Berlim, as ruínas do Spreepark pouco lembram os tempos áureos do parque de diversões que chegou a ser uma das atrações mais populares da antiga República Democrática Alemã (RDA).

Inaugurado em 1969, para comemorar os 20 anos da Alemanha Oriental, o chamado na época Parque Cultural Plänterwald, foi o primeiro e único parque temático em toda a RDA. Uma roda-gigante de 45 metros de altura era sua grande atração. Sobrevivendo ao capitalismo, ela foi e é praticamente a única lembrança do período socialista que restou no local.

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Além da roda-gigante, que se tornou seu símbolo, o local possuía montanha-russa, trenzinho, diversos brinquedos típicos de parques de diversão e restaurantes com um cardápio internacional. Durante o período socialista ele chegou a atrair cerca de 1,7 milhão de visitantes por ano.

Clarissa Neher
A jornalista Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

A reunificação da Alemanha marcou o início da decadência do local, cuja história posterior daria um ótimo enredo de romance policial.

Em 1991, após um processo de licitação, Berlim passou a administração do parque à família Witte, que um ano depois reinaugurou o local com o nome pelo qual é conhecido até hoje: Spreepark. Nos primeiros anos de funcionamento, a família investiu cerca de 40 milhões de marcos, instalando novos brinquedos e atrações. Depois da mudança, o Parque Cultural Plänterwald havia ficado no passado.

Porém no fim da década de 90 o parque começou a perder visitantes. O investimento feito pela família parece não ter sido muito bem planejado e, em 2001, cheios de dívidas, os Witte anunciaram a falência. Logo em seguida, o Spreepark foi fechado. A família se mudou para o Peru e levou consigo diversos brinquedos do antigo parque. Sua intenção era iniciar um negócio semelhante no país sul-americano. Novamente eles foram à falência.

Em 2003, os Witte, e com eles o Spreepark, voltaram a ser notícia. O patriarca da família foi detido tentando entrar na Alemanha com mais de 100 quilos de cocaína e foi condenado a sete anos de prisão. Seu filho também foi condenado alguns anos mais tarde por tráfico de drogas, porém no Peru.

Roda-gigante e dinossauros do Spreepark
Roda-gigante se tornou símbolo do parqueFoto: DW/A.S. Brändlin

Desde 2001, o Spreepark está fechado, só abrindo para visitas guiadas esporádicas. O tempo não perdoou as atrações que restaram. Em menos de 20 anos, os antigos pavilhões viraram ruínas. O mato invadiu caminhos. Dos brinquedos, o que não enferrujou foi alvo de saques e pichadores. A roda-gigante, que costuma se movimentar sozinha com o vento, fazendo um barulho arrepiante, lembra o cenário de um filme de terror.

Em 2016, a empresa pública Grün Berlin, que administra áreas verdes na cidade, assumiu o controle do Spreepark e vem organizando debates com a sociedade e especialistas para decidir o futuro do parque.

A ideia é destinar parte do espaço a arte e cultura. Algumas das ruínas devem ser mantidas, mas outras serão removidas – o que considero uma perda, já que o charme e o chamativo do local são exatamente as ruínas. Além disso, a roda-gigante deve ser restaurada e voltará a girar com pessoas dentro. O antigo trenzinho que circulava pelo parque também deve voltar a funcionar.

A nova abertura do Spreepark para o público só está prevista para 2019. Por enquanto, a Grün Berlin oferece visitas guiadas nos fins de semana. As datas são divulgadas  no site da própria empresa, no qual também é possível comprar os ingressos.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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