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Checkpoint Berlim: Cidade minada

6 de janeiro de 2017

Estima-se que 3 mil bombas da Segunda Guerra continuem enterradas no solo de Berlim. Elas ainda oferecem riscos e costumam ser descobertas por acaso, relata Clarissa Neher.

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Foto: picture-alliance/dpa/O.Mehlis

Nos primeiros anos na Alemanha, eu sempre me surpreendia com a notícia da descoberta de bombas da Segunda Guerra Mundial em cidades alemãs. Com o passar do tempo, fui percebendo que essas descobertas eram muito mais frequentes do que eu imaginava. Ao pesquisar sobre o tema, tive uma surpresa ainda maior: estima-se que restem 3 mil bombas desse período enterradas – somente em Berlim!

Já em Brandemburgo, estado vizinho da capital e com a maior concentração de artefatos militares enterrados em solo alemão, estima-se que 392 mil hectares de território estejam "contaminados" com bombas, granadas, munições, minas e mísseis remanescentes da Segunda Guerra Mundial e de treinamentos militares soviéticos no período da Guerra Fria.

A pequena Oranienburg, conhecida por seu castelo e, principalmente, pelo campo de concentração de Sachsenhausen, é a cidade desse estado mais atingida por bombardeios e onde acontecem a maioria das descobertas. Em meados de dezembro, especialistas desativaram a bomba de número 200 desde o início da contagem, em 1991.

Essa "herança" se deve ao papel desempenhado pela pequena cidade durante a Segunda Guerra. Localizada ao norte de Berlim, ela foi um centro da indústria militar e, por isso, um alvo potencial de ataques aéreos. Em apenas um dia de março de 1945, Oranienburg foi atacada por mais de 600 aviões, que carregavam 700 bombas incendiárias e outras 5 mil bombas.

Falhas no mecanismo de detonação evitaram a explosão de muitas das bombas, lançadas em ataques aéreos durante a Segunda Guerra. Segundo especialistas, apesar de já estarem há mais 70 anos embaixo da terra, alguns desses artefatos, principalmente os que têm detonadores químicos, ainda correm o risco de explodir e sem precisar da interferência de fatores externos.

O risco é pequeno. Eu mesma nunca soube de algum caso de bomba da Segunda Guerra que ninguém sabia onde estava explodir e que explodiu do nada. Há casos de detonação acidental, com mortos e feridos, no meio do processo de remoção, organizado por equipes especializadas para esse tipo de serviço. Mas esses acidentes são raros. Bem mais comuns são as janelas quebradas e os estragos em imóveis após a detonação assistida de bombas que não podiam ser removidas sem riscos.

Enterradas e esquecidas ao longo das décadas, a descoberta da grande maioria dessas bombas acontece por acaso, geralmente em canteiros de obras. Em Berlim, a prefeitura disponibiliza um serviço de informações para quem deseja construir na cidade. Com base em documentos de arquivos dos Aliados, como mapas de bombardeios e fotografias, é possível ter uma noção de onde podem estar enterrados esses artefatos. Se há suspeita, é feita inicialmente uma análise detalhada, com uso de sondas especiais.

Caso a suspeita seja confirmada, especialistas planejam a melhor maneira para desativar o artefato. E, na data marcada para o evento, geralmente, regiões inteiras são evacuadas por algumas horas para que essa herança explosiva seja removida com segurança.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.