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Campanha eleitoral reconstrói Muro de Berlim

(sv)11 de agosto de 2005

Oposição entre Leste e Oeste do país é tema constante na campanha eleitoral alemã. Social-cristão Stoiber elogia bávaros, chama de "frustrados" os habitantes da ex-Alemanha Oriental e recebe críticas de todos os lados.

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Stoiber e a mulher Karin, em trajes típicos da BavieraFoto: AP

Toda a mídia alemã estampou nesta quinta-feira (11/08) o que o semanário Der Spiegel resumiu: "Todos os não bávaros contra Stoiber". O político da conservadora União Social Cristã, derrotado nas últimas eleições alemãs pelo atual premiê Gerhard Schröder, causou furor no país ao fazer declarações mais que controversas, em visita a uma pequena cidade no sul da Alemanha.

"Se todos os lugares fossem iguais à Baviera, não teríamos problemas. Mas infelizmente não temos por todos os lados parcelas da população tão inteligentes como os bávaros. Os mais fortes precisam, às vezes, levar junto os mais fracos", disparou Stoiber.

O teor da declaração foi semelhante ao de outra dada pelo próprio político, no Estado de Baden-Württemberg, na última semana: "Não aceito que o Leste decida quem vai se tornar o chanceler federal deste país. É o fim o fato de que os frustrados possam decidir sobre os destinos da Alemanha".

Muros nas cabeças

Cornelia Pieper
Cornelia PieperFoto: AP

O susto frente aos disparates de Stoiber foram comentados por toda a mídia e por diversos políticos do país, inclusive das fileiras da CDU (União Democrata Cristã). Mesmo porque, em termos quantitativos, quem vai decidir as eleições, na realidade, é o Oeste do país, que possui quatro vezes mais habitantes que todos os Estados do Leste juntos.

Enquanto o Süddeutsche Zeitung afirma que "o muro ainda existe" na cabeça do político bávaro, Cornelia Pieper, vice-presidente do Partido Liberal (FDP), provável parceiro de coalizão dos democrata-cristãos, aponta no Financial Times Deutschland as palavras de Stoiber como "um despropósito completo".

Para social-democratas, verdes e representantes do Partido de Esquerda – que conta com um bom número de eleitores no Leste do país –, nada melhor que um disparate deste calibre por parte de Stoiber. "Quem tem amigos como este não precisa de inimigos", reza a máxima que circula no país em relação à candidata Merkel. "Um escorregão constrangedor", observou o prefeito social-democrata de Berlim, Klaus Wowereit.

Leste "frustrado" x Baviera "inteligente"

04.06.05 Journal TT Merkel Stoiber MerStoi
Merkel e Stoiber: 'Quem tem amigos assim, não precisa de inimigos'Foto: DW-TV

Neste contexto, é interessante ainda lembrar que Angela Merkel, a candidata da CDU ao posto de chanceler federal, vem exatamente do Leste do país. Do Leste "frustrado" de Stoiber e onde não se concentram pessoas tão "inteligentes" como na Baviera. "Para Stoiber, a Baviera é o símbolo da força e os Estados da ex-Alemanha Oriental são o signo da fragilidade", comenta o Süddeutsche Zeitung.

"Proletarização" do Leste

Jörg Schönbohm
Jörg Schönbohm: 'A culpa é da proletarização do Leste'Foto: AP

As arestas entre o Leste e o Oeste alemães, diga-se, vêm especialmente à tona em momentos de campanha eleitoral. Stoiber não foi o primeiro das fileiras da atual oposição a manifestar abertamente preconceitos contra o Leste do país.

Há poucos dias, quando foram descobertos na região do país cadáveres de nove bebês mortos pela própria mãe, o secretário do Interior de Brandemburgo, Jörg Schönbohm, da União Democrata Cristã, creditou o fato à "proletarização do Leste", causando da mesma forma tumultos na política do país.

Depois que a polícia encontrou os recém-nascidos mortos e detectou que a mulher havia ficado grávida nove vezes sem que vizinhos percebessem o desaparecimento posterior dos bebês, Schönbohm afirmou que a causa de tal comportamento estaria na perda de valores e numa maior disposição para a violência entre a população alemã que viveu sob o regime comunista.

Um ponto de vista criticado por muitos, mas apontado pelo semanário Die Zeit como não completamente errôneo: "Na verdade, a ideologia da RDA (República Democrática Alemã, de regime comunista) não explica a deformação psíquica da mãe assassina, mas sim o comportamento

[indiferente] das pessoas a seu redor".

Migração de votos

Gregor Gysi und Oskar Lafontaine
Gysi e Lafontaine: 'nova' esquerdaFoto: AP

Tanto em relação aos pronunciamentos de Schönbohm quanto contra as recentes declarações de Stoiber, surgiram palavras de ordem em prol de uma Alemanha unida e da não polarização de uma região contra a outra. Como as observações de Christoph Matschie, líder social-democrata na Turíngia: "Stoiber, pelo que parece, tiraria, de preferência, o direito de voto dos alemães do Leste".

Enquanto isso, é provável que os eleitores do Leste caminhem cada vez mais em direção a facções como o Partido de Esquerda – a nova denominação do antigo PDS, remanescente do SED, o partido único da ex-Alemanha Oriental. E em direção à recém-criada WASG (Aliança para o Trabalho e Justiça Social). Ambos de viés populista.

Pensar direita, votar esquerda

Trata-se, em parte, de um contingente de eleitores que foge dos conservadores democrata-cristãos, para cair nos braços da "nova" esquerda. "Eles se sentem de centro, votam na etiqueta da esquerda, mas têm um pensamento, na realidade, tendencialmente de direita", analisa o sociólogo Wilhelm Heitmeyer no Süddeutsche Zeitung.

A ciranda de rótulos ideológicos chega a ser tão confusa a ponto de Oskar Lafontaine, um dos principais representantes dos que se proclamam "nova esquerda", ter dado, há pouco, declarações usando um jargão nazista, ao se referir a trabalhadores estrangeiros no país. Tudo isso fazendo com que a escolha de um candidato e de um partido se torne, também na Alemanha, uma tarefa consideravelmente difícil.