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Cúpula UE-Celac é sinal político para América Latina

Barbara Wesel (ca)10 de junho de 2015

Desde que China passou a possuir um fórum semelhante para negociar com a região, o contato com os países latino-americanos se tornou mais importante para a UE. "Diplomacia cultural" é uma das armas para uma aproximação.

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CELAC Gipfel 2015 Gruppenbild
Mais de 40 chefes de Estado e governo da Europa, AL e Caribe estão presentes ao encontroFoto: picture-alliance/dpa/A. Bolivar

Mais de 40 chefes de Estado e governo da Europa, da América Latina e do Caribe estão em Bruxelas para a segunda cúpula entre União Europeia e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que vai desta quarta à quinta-feira (10 e 11/06).

O encontro de alto nível é um sinal político de que os europeus estão interessados na região, opina a analista Susanne Gratius, do instituto Fride, de Madri. Segundo ela, desde que a China passou a possuir um fórum semelhante para negociar com a América Latina, o contato com os países da Celac se tornou mais importante para a UE.

A especialista diz que, diante de uma iniciativa bilionária de investimentos de Pequim, os europeus deveriam pensar bem o que têm para oferecer à América Latina, apostando principalmente no soft power. Segundo Gratius, a UE deveria fortalecer o diálogo político e cultural e "também deveria disseminar suas normas e valores".

No entanto, destaca a especialista do Fride, a UE não tem mais um mecanismo concreto para aumentar a sua aceitação na América Latina, que não é mais parceiro dos europeus em nível da ajuda ao desenvolvimento. Isso diminuiu a "influência política" da Europa na região, constata Gratius.

O caminho da "diplomacia cultural" já é seguido pelos europeus: além do encontro de cúpula em nível de chefes de Estado e governo, há também em Bruxelas, por exemplo, uma "cúpula acadêmica" – um encontro de reitores de universidades e alguns ministros de Educação de ambos os lados do Atlântico para um intercâmbio científico.

No contexto da "diplomacia cultural", a UE oferece uma ampliação do programa de intercâmbio para jovens acadêmicos (Erasmus), proporcionando novos destinos para estudantes aventureiros.

Um encontro entre os sindicatos dos dois lados e um evento com representantes da sociedade civil sob o patronato da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, já aconteceram. A diplomata italiana mencionou até um "pensamento sul-atlântico", que os europeus deveriam aprender paralelamente ao pensamento transatlântico em relação aos EUA.

Melhorar as relações comerciais

Os europeus querem agora recuperar o tempo perdido para impulsionar, em particular, novamente as relações comerciais. Com 26 dos 33 países-membros do Celac, o bloco europeu já fechou acordos de privilégios comerciais. Os progressos, no entanto, podem ser difíceis: há 20 anos se arrastam as negociações com o Mercosul.

Em entrevista à Deutsche Welle, a presidente Dilma Rousseff afirmou que fará "o possível e o impossível" para que as negociações cheguem a um acordo. Apesar disso, em Bruxelas, é contido o otimismo de que se consiga um avanço em breve.

Belgien EU-CELAC Akademischer Gipfel in Brüssel
Cúpula acaêmica UE-Celac em BruxelasFoto: DW/M. Banchon

"Seria preciso organizar mais encontros temáticos, por exemplo, sobre migração, drogas ou conversas sobre problemas concretos em vez de promover grandes cúpulas", opina a especialista em América Latina Susanne Gratius, elucidando que os interesses dos países-membros da Celac seriam extremamente divergentes. "O que Honduras tem a ver com o Brasil e os países latino-americanos com o Caribe?"

Por esse motivo, explica Gratius, também não é possível exportar a ideia europeia de integração para a América Latina: o Celac nunca será mais do que um guarda-chuva institucional, uma confederação geográfica solta com problemas e preocupações diversas. Segundo a especialista, na cúpula em Bruxelas trata-se, sobretudo, da "visibilidade política" da América Latina.

Um dos pequenos resultados do encontro é a elevação da Fundação UE-LAC (União Europeia-América Latina e Caribe), destinada a apoiar as relações das sociedades civis, para o status de uma organização internacional. A sua presidente, a ex-chefe da diplomacia europeia Benita Ferrero-Waldner, explicou que os europeus deveriam, futuramente, observar as relações com a América Latina como prioridade.

"Ao todo, somamos 61 países, já pensou no quanto poderíamos avançar juntos se nos uníssemos?", indagou a política austríaca. Porém, ela sabe por experiência própria o quão difícil isso pode ser. E, em situações de crise, falta algumas vezes a oportunidade para contatos: "A situação na Venezuela é muito preocupante", exemplifica Ferrero-Wagner. "A situação ali pode escalar para uma guerra civil."

Relações com Cuba

A cúpula em Bruxelas também traz novidades: uma delas já teve início na coletiva de imprensa entre o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, e o chanceler cubano, Bruno Rodríguez.

Um acordo de cooperação entre a União Europeia (UE) e Cuba envolve oportunidades para ambos os lados, afirmou o ministro cubano.

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Ministros Steinmeier e Bruno Rodríguez em BruxelasFoto: AFP/Getty Image/E. Dunand

"Estamos muito satisfeitos com as negociações que podem levar a um acordo", disse Rodríguez, que convidou Steinmeier a visitar Havana.

O ministro aceitou o convite com as palavras mais gentis. Dadas as numerosas crises globais, os indícios de um entendimento com Cuba é um sinal de esperança. A EU, afirmou Steinmeier, quer e tem de marcar presença na região.

No entanto, a data para assinatura de um acordo, que também deverá conter um capítulo sobre um diálogo de direitos humanos, ainda está em aberto. Após uma onda de opressão em Cuba, a cooperação foi suspensa em 2003.