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Budismo soft conquista a Alemanha

(ns)30 de julho de 2003

Três mil discípulos do budismo estão concentrados em Immenhausen, não muito distante de Frankfurt. É o maior congresso budista na Alemanha, onde a forma ocidental da religião conquista cada vez mais adeptos.

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Alemães em templo budista em DüsseldorfFoto: Wrede

O clima é de tranqüilidade na grande área reservada a acampamentos e eventos ao ar livre em Immenhausen, no norte do Estado de Hessen. Tendas por toda parte, um pouco de música no ar, rostos sorridentes e trechos de conversa em inglês, alemão, francês e russo. Após 18 dias ouvindo seus mestres e se aperfeiçoando na arte da meditação, os três mil budistas de 40 países encerram seu congresso no domingo (03/08).

Exteriormente mal parece um encontro religioso, pois não se vê nenhum hábito de monge, nenhuma cabeça raspada: os participantes estão vestidos normalmente. "Nós somos pessoas normais, médicos, professores, técnicos de informática - não somos monges ou freiras", diz Holm Ay, da Federação Budista Caminho do Diamante (BDD). A organização congrega 90 centros e grupos de meditação e afirma ser a maior comunidade budista na Alemanha. Caminho do Diamante é um budismo para leigos, que prescindem do celibato e da asquese, ou seja, que não ambicionam a mesma dedicação dos monges.

"No budismo não há regras e leis, assim como não há um Deus que queira nos julgar, tudo depende de si mesmo", explica Ay. Essa interpretação bastante secular da doutrina de Buda encontra interesse cada vez maior na Alemanha.

Cem mil budistas na Alemanha

Segundo o Serviço de Mídia e Informação sobre Religiões, com sede em Marburg, há aproximadamente 100 mil budistas no país. Das três grandes escolas do budismo tibetano, o Caminho do Diamante é tida como a mais popular na Alemanha. Nos últimos 20 anos, o número de membros da BDD aumentou continuamente até atingir hoje mais de 6 mil inscritos. Os que freqüentam os centros, contudo, são muito mais. "Ao todo reunimos mais de 20 mil budistas", diz Holm Ay.

Mas o Caminho não possui só admiradores. Seus críticos chamam-no de "corrente festiva do Budismo", acusando-o de banalização da doutrina de Buda. O Caminho do Diamante não seria representativo do budismo na Alemanha, afirma a União Budista Alemã (DBU), que reúne todas as organizações budistas no país. A DBU apresenta, em sua página na internet, uma lista de mais de 600 grupos e centros budistas na Alemanha.

Variante festiva ou light

Michael Utsch, da Central Evangélica para Concepções do Mundo, em Berlim, refere-se a uma "variante ocidental light" do budismo, a uma "religião wellness" (do bem-estar). No fundo ele confirma que "a combinação de estilo de vida ocidental com um pouco de budismo não tem nada a ver com a pura doutrina budista". Segundo Utsch, o budismo verdadeiro exige um esforço muito maior, é como um estudo, e não se limita a alguns exercícios de meditação.

Não obstante, é inegável que a religião oriental ganha cada vez mais adeptos em muitos países do Ocidente. "Com a queda nas bolsas, diminuiu o materialismo e a ambição por valores afins. Agora as pessoas procuram algo melhor", justifica Michael Utsch. A crença fascina as pessoas porque promete tranquilidade, serenidade, felicidade, "um estado de espírito realmente almejável", segundo ele.

Religião para individualistas?

Erle Eilers, que foi de Leipzig a Immenhausen, por exemplo, diz: "O que eu aprendo sobre o espírito, através do budismo, me ajuda no cotidiano, a continuar vivendo". Maria Przyjenka, de Berlim, procura fortalecer seus passos no caminho. Um empresário, também da capital, espera "progredir no trabalho". Mas todos parecem procurar alguma vantagem concreta ou auto-afirmação. Com isso, porém, toda a busca de transcendência não passaria de um meio para atingir um fim não necessariamente espiritual. Uma forma de ser e pensar muito difundida nas sociedades onde impera o individualismo. E nada melhor, para individualistas, que uma religião sem leis e regras e sem um Deus que faça cobranças.

Mas, no fundo, os que procuram ajuda no budismo, tentam romper justamente a camisa forçada do individualismo. "Meditamos para aprender a desenvolver uma atitude mais amorosa no nosso trato com as pessoas, para diminuir o nosso egocentrismo, para aguçar nossa percepção do mundo e, não por último, para aumentar nossa qualidade de vida", expôs um entrevistado anônimo, num site budista de Darmstadt. Descontente com a sociedade e a forma com que as pessoas se tratam, ele ficou encantado com a amável acolhida num centro budista e encontrou ajuda na meditação.