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Brothers Keepers: ouvir de olhos abertos

Rodrigo Rimon11 de maio de 2005

O novo álbum dos afro-alemães do Brothers Keepers – Tema da Copa 2006 preocupa ouvidos saudáveis – Pérolas da cozinha punk – E um guia noturno para a cena cluber de Berlim

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Aqui está a DW Antena deste mês, uma coluna iniciada em abril com o nome de Notas Musicais.

Efeitos colaterais

A revista Spex – uma bíblia para fãs de música alternativa, confeccionada em Colônia – provou outra vez que vale a pena ler até seu editorial. Neste mês, a revista chama atenção para uma mensagem que um leitor deixou no fórum de sua página na internet, alertando para os perigos que um evento importante como a Copa 2006 pode trazer para os que têm bons ouvidos.

Porque uma hora ou outra eles terão que se perguntar: quem cantará a música tema do evento? Em desespero, a redação iniciou uma campanha emocionada pedindo às boas bandas alemãs que componham seus hinos para que a revista possa apresentar ao Comitê Organizador. Tomara que dê resultado!

Abra a boca... é Ramones!

Cozinhar ao som de Ramones é completamente diferente de cozinhar ao som de Enya – isso dá pra sacar já na primeira garfada. Para evitar problemas desse tipo, basta dar uma olhada em livros de receitas com acompanhamentos musicais.

Pratos como “panquecas punk vegans” ou “espaguete dos infernos da Rebeca” são, por exemplo, pérolas da cozinha punk que Joachim Hiller, editor da revista de música OX, reuniu em três volumes.

Das OX-Kochbuch Teil 1 bis 3

“Acho que isso teve início nos anos 80, quando as pessoas perceberam que não estavam lá só pela música e convidavam desabrigados do bairro todo para comer”, disse Hiller. Agora você já sabe do que se trata quando ler na Alemanha a expressão VoKü – Volksküche, ou cozinha popular.

Claro que espaguete será sempre espaguete, seja punk ou new-wave. Mas, para Hiller, o que conta é a atitude: “Você pode votar a cada cinco anos. O que é que isso muda? Mas se você decidir para quem você quer dar seu dinheiro diariamente, para uma empresa orgânica ao invés de uma fazenda que produz leite de vaca turbinada, isso faz muita diferença”.

Noite em Berlim

Um dos históricos clubes techno de Berlim, o Tresor, fechou suas portas definitivamente em abril e a Love Parade foi cancelada pelo segundo ano consecutivo. São dias negros para a cena dance da capital. Mesmo assim, a noite de Berlim continua uma das mais fervidas da Europa: prova disso é o novo Clubber’s Guide to Berlin que a Ministry of Sound, autoridade global em cultura cluber, acaba de lançar.

Além dos melhores restaurantes e dos melhores bares para começar a noite, o guia de 52 páginas informa ouvidos eletrônicos treinados onde sair na cidade e inclui ainda um CDzinho com 18 faixas de bandas ou DJs da capital, como Martini Bros, 2raumwohnung e Mia. Saia armado: livreto no bolso e trilha sonora no ouvido!

Leia mais na próxima página sobre o segundo álbum dos afro-alemães do Brothers Keepers!

Tome conta do seu irmão

A história dos Brothers Keepers é, por um lado, um episódio triste. A banda se formou em 2001. Na época, o moçambicano Alberto Adriano, de 39 anos e pai de três filhos, havia sido atacado por neonazistas em plena luz do dia em Dessau, uma cidade universitária no Leste alemão que um dia já foi um dos grandes centros da Bauhaus e hoje sofre com altos índices de desemprego. A polícia chegou a tempo de prender os jovens, mas Adriano morreu pouco depois de chegar ao hospital.

Musiker-Zusammenschlusses gegen Rechts Brothers Keepers
Apenas alguns dos Brothers KeepersFoto: dpa

A faixa Adriano (letzte Warnung) – em português: Último aviso – se tornou um dos maiores sucessos da temporada e o discurso politizado dos Brothers Keepers, uma reunião de mais de 20 músicos de nacionalidade alemã e visual multi-étnico, disparou nas paradas empacotado no álbum Lightkultur – um contraponto à Leitkultur (a pronúncia é a mesma), a política de imposição cultural sugerida por alguns políticos alemães de centro-direita.

Por outro lado, a trajetória dos Brothers Keepers deixou marcas na cena musical alemã. Mesmo que sua importância musical seja questão de gosto – nem mesmo fãs de hip hop são unânimes quanto à qualidade das composições do grupo –, o significado social que a banda alcançou talvez seja uma vitória na luta contra o racismo, o ressurgimento do neonazismo entre jovens e a ampla aceitação do discurso de direita na Alemanha e na Europa.

Até porque o Brothers Keepers não é apenas uma banda, mas uma organização registrada, com fins sociais definidos. Além de entrevistas e shows, eles se encontram com políticos, visitam penitenciárias, escolas e instituições de ajuda a requerentes de asilo político. Membros do grupo já tiveram até que ser escoltados pela polícia ao visitar uma escola no Leste alemão, por sofrerem ameaças de neonazistas.

Após uma pausa (musical, diga-se de passagem) de quatro anos, o grupo voltou com o segundo álbum, Am I My Brother’s Keeper?, e praticamente o dobro da quantidade de artistas envolvidos. Segundo o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, até o outono europeu deve sair também o documentário Fremd im eigenen Land (Estranho no próprio país) sobre o trabalho da banda e a vida de alguns de seus membros.

Musiker-Zusammenschluss gegen Rechts Brothers Keepers Xavier Naidoo
Xavier Naidoo (d) é um dos mais famosos da bandaFoto: dpa

No novo álbum, a mistura de idiomas e estilos musicais continua – inglês, hip hop, francês, reggae, alemão, soul, dancehall. Nomes importantes da música alemã continuam marcando presença, como Xavier Naidoo, Gentleman, Samy Deluxe e Torch.

A mesma crítica social se reflete nos textos: contra a globalização [no que vocês pensam ao dizer ‘global’/em pessoas ou em números ou pergunte a um homem pobre/ele sabe tudo sobre o cassino global], pela tolerância [eu estou pronto para esse caminho/mais que nós dois nesse caminho/quem faz sofrer nesse caminho/essa impotência machuca].

Mas não sem tropeçar de vez em quando nos meios para se alcançar essa tolerância [Eu sigo meu instinto/não faço mais concessões/apenas a minha coisa].

Para ouvir de olhos abertos.

O vencedor do CD Von hier an blind, dos berlinenses do Wir sind Helden, sorteado por esta coluna no mês passado, é Christian Barreto Salcedo da Matta, de Vilha Velha–ES. Não se preocupe, Christian, você será avisado por e-mail e receberá o CD no endereço fornecido.