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Briga Berlim-Atenas estremece União Europeia

Volker Wagener (av)17 de março de 2015

Há meses políticos gregos e alemães vem trocando farpas. Com os ministros das Finanças dos dois países como protagonistas, o potencial de dano político é grande, tanto à relação bilateral quanto ao bloco europeu.

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Ministros das Finanças Wolfgang Schäuble (esq.) e Yanis VaroufakisFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Em Bruxelas, o clima é de pura irritação. A gestão financeira grega é tida como pouco séria e cheia de falhas técnicas, e a comunicação, como uma catástrofe só. O que foi confirmado à mesa de negociações já não vale na próxima entrevista, critica a União Europeia (UE).

Por sua vez, a Grécia se sente coagida pela Europa e sobretudo humilhada pela Alemanha. O ministro das Finanças Yanis Varoufakis, em especial, ocupa regularmente as manchetes com suas críticas ao programa de resgate para a Grécia. Atenas chama o pacote de um "waterboarding fiscal", numa alusão à técnica de tortura do afogamento simulado.

O relacionamento entre Berlim e Atenas vem se deteriorando. O tradicional jornal grego dominical To Vima já fala de uma "batalha de Berlim". E o ministro grego da Defesa, o populista de direita Panos Kammenos, acusa o chefe da pasta das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, de travar guerra psicológica a fim de envenenar a relação bilateral.

Em reação, o vice-chanceler federal alemão e líder do Partido Social Democrata (SPD), Sigmar Gabriel, saltou em defesa do colega de gabinete, declarando ao tabloide Bild que a coisa passou dos limites. Ele não vê a menor justificativa para os "ataques permanentes" a Schäuble.

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Varoufakis diz que vídeo em que "mostra o dedo" para a Alemanha foi manipuladoFoto: Screenshot YouTube

E aí veio a história com o dedo do meio, que ocupa a mídia alemã desde a noite de domingo. O pomo da discórdia é a divulgação num programa de TV de um vídeo de 2013. Convidado a dar uma palestra em Zagreb, capital da Croácia, na qualidade de professor de economia, Varoufakis discorria, então, sobre a crise do euro.

No vídeo, o economista disse que o próprio país deveria ter declarado insolvência, e permanecido na zona do euro, "mostrando assim o dedo para a Alemanha e dizendo: 'Agora resolvam vocês mesmos o problema'".

Nesse momento, vê-se no vídeo em questão o atual ministro grego erguer o dedo médio da mão esquerda num gesto obsceno – o que o afirma ser uma imagem manipulada. Mas, quer falsificado, quer verdadeiro, o episódio também contribuiu para deteriorar ainda mais as relações greco-alemãs.

Extremos absolutos

Os protagonistas da desavença binacional são os respectivos chefes de Finanças, cujas confrontações em público muito têm de um conflito pai-filho. De um lado, está o juvenil e musculoso Varoufakis, com visão política marxista e atitude yuppie. Um homem do mundo acadêmico e da teoria.

Seu principal adversário no ringue da UE é o exato oposto, em praticamente todos os aspectos. Em sua quinta década no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Schäuble é um homem da prática política, com experiência em acordos e consensos. Para o democrata-cristão, poupar é razão de Estado; anunciar benesses financeiras lhe é totalmente estranho.

Symbolbild Griechenland Deutschland Panos Kammenos
Panos Kammenos acusa Schäuble de de travar guerra psicológica a fim de envenenar a relação bilateralFoto: Sakis Mitrolidis/AFP/Getty Images

Ao mesmo tempo em que a inadimplência ameaça a Grécia, pela primeira vez em décadas, Schäuble apresentou à Alemanha um orçamento equilibrado em 2014. Enquanto, de camisa sempre aberta e motocicleta diante do ministério, Varoufakis lembra um ex-integrante de boy group, Schäuble é o clássico servidor do Estado, munido da ética protestante do dever.

O euro e sua estabilidade são coisas praticamente sagradas para o conservador alemão. Pois, justamente vista da perspectiva de Berlim, a moeda comum europeia é também um valor político.

Danos à UE

Potencial explosivo também tem o debate reacendido sobre a legitimidade das exigências gregas de reparação pela ação nazista no país. Para além da disputa jurídica, os arquivos designados "R 27320 – Administração econômica na Grécia sob ocupação alemã" têm sido causa de grande ressentimento.

Não apenas muitos gregos consideram vergonhoso o "debate do ponto final", também historiadores alemães têm manifestado compreensão pelas exigências de ressarcimento, 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. É equivocada a acusação da Alemanha de que Atenas só está colocando o assunto em pauta agora, em meio à discussão sobre a falência estatal, dizem os especialistas. Já em 1995 o governo grego comunicara ao Ministério alemão do Exterior que não abriria mão de seu direito a indenizações e reparações.

Saudi Arabien Bundeswirtschaftsminister Sigmar Gabriel in Riad
Vice-chanceler federal da Alemanha, Sigmar Gabriel, defende SchäubleFoto: picture-alliance/dpa/B. v. Jutrczenka

Declarações recentes do atual presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, demonstram até que ponto o conflito verbal entre Atenas e Berlim começa também a prejudicar a União Europeia como um todo. Em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung, ele falou numa "situação idiota", advertindo os Estados da UE sobre o perigo de acidentalmente jogarem a superendividada Grécia para fora da zona do euro. Já houve muitos mal-entendidos, acidentes e telefonemas estúpidos na história europeia, comentou Tusk.