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Brasileiros são destaque do segundo dia do Lusotronics

Marco Sanchez18 de maio de 2013

Entre batidas assimétricas, danças sensuais e muito brega, segundo dia do festival berlinense terá nomes consagrados como Edu K e Bonde do Rolê, além de apresentação inédita na Europa da Gang do Eletro.

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Foto: Gleeson Paulino

Bani Silva, Bonde do Rolê, Cibelle, DJ Edgar, Edu K, Gang do Eletro e João Brasil. O segundo dia do festival Lusotronics é dominado por artistas brasileiros e por DJs cujo trabalho flerta com os dois principais gêneros eletrônicos regionais surgidos no Brasil: o funk carioca e o tecno-brega.

Um dos pontos mais interessantes do festival, que acontece nestes sábado e domingo (18 e 19/05) é poder observar – e escutar – as similaridades e diferenças entre os estilos, tanto entre os brasileiros como entre estes e a nova música produzida na África e na Europa.

Como o mundo hoje é online, muitos desses artistas trocam inspirações via internet, e a velocidade da troca de ideias é imensa. "A principal similaridade é que a música é eletrônica e sua base é compostas por samples, o som é cheio de energia e, na maioria das vezes, as letras são em português. A música circula na internet e de maneira informal, ignorando completamente a indústria fonográfica", diz o curador Daniel Haaksman.

Para o produtor alemão, as principais diferenças são as melodias, que são muito diferentes no Brasil. Portugal produz uma versão mais europeizada do kuduro e do funk carioca. Moçambique está produzindo música com um charme próprio, como a Dama da Bling e artistas que tem um ar mais cosmopolita, cantando em português e inglês.

Entre os documentários, há uma grande variedade de títulos produzidos no Brasil, mas também em países como Dinamarca e Estados Unidos, que analisam os fenômenos com um outro olhar. Um dos destaques é Favela on Blast, dirigido por Leandro HBL e o produtor e DJ Americano Diplo, um dos responsáveis pela popularização do funk carioca pelo mundo.

O funk ostentação ainda não conquistou o mundo, mas já ganhou um documentário, que será exibido no festival. Dirigido por Renato Barreiros e Konrad Dantas, Funk Ostentação – O Filme mostra o movimento em que as batidas de funk são misturada com a atitude e a cadência do rap paulista, com forte influência do hip hop americano, cheio de carrões e correntes de ouro.

Expandindo gêneros

Uma das principais atrações do segundo dia do festival é a volta do Bonde do Rolê aos palcos europeus, depois de quase três anos sem tocar no continente. A banda não veio dos morros, mas teve a sensibilidade de entender como o funk carioca era feito e transformá-lo em algo novo, como alguns artistas europeus fazem com o kuduro e outros ritmos semelhantes.

Band Bonde do Rolê
O Bonde do Rolê é um dos destaques do festivalFoto: Gleeson Paulino

O funk carioca do primeiro disco da banda, With Laser (2007), era pontuado pelo rock e por diversas referências à cultura pop. Tropical Bacanal (2012) traz uma maior variedade de influências da música brasileira. "Não queríamos cair no lugar comum. O nosso segundo disco tem uma aura de funk, mas sem ser óbvio", disse o DJ e produtor da banda Rodrigo Gorky, que cresceu no Rio de Janeiro.

Gorky também produziu a Banda Uó, fenômeno na internet brasileira. Os goianos de visual moderninho são uns dos responsáveis pela popularização do gênero entre o público jovem. "Caímos no tecno brega por acaso e tivemos a mesma empolgação de quando começamos o Bonde – queríamos expandir o ritmo para algo novo. Apesar das similaridades, os ritmos (funk carioca e tecno brega) são muito diferentes, mas nada impede de uni-los e criar um filho lindo", diz o produtor.

Para ele, o forró eletrônico do nordeste tem tudo para extrapolar as fronteiras e conquistar o resto do Brasil. Esse vai ser o primeiro show do Bonde na Europa depois do lançamento de Tropical Bacanal. "Estamos muito empolgados em apresentar as novas músicas em Berlim, uma cidade que sempre foi muito receptiva ao nosso trabalho", diz.

Berlin - Eröffnung Tecno Brega João Brasil
DJ carioca João Brasil vai se apresentar com Cibelle, paulistana radicada em LondresFoto: I hate flash

DNA do funk

Também com uma palheta eclética de estilos, o DJ e produtor carioca João Brasil volta a Berlim para mostrar sua mistura de influências. "Vivi três anos em Londres. A cidade respira arte, minha música foi transformada brutalmente depois dessa experiência. Tornei-me um músico mais universal", conta João Brasil, que desde o final do ano passado voltou a viver no Rio.

Ele também já produziu faixas que dialogavam com os dois gêneros e cita pontos em comum e diferenças: "Os dois estilos são digitais, de periferia, têm grande sucesso de público e não dependem da grande mídia para sobreviver. Musicalmente eles são muito diferentes em suas batidas, instrumentação e origem. Sempre ouvi vários estilos musicais, nunca tive preconceito quanto a isso. Quero fazer mais coisas com o funk carioca, ir mais fundo no DNA do estilo, quero criar pontes sólidas com outros estilos", diz.

Além de DJ e produtor, João ficou conhecido pelo projeto 356 Mashups, no qual disponibilizou uma nova faixa por dia em seu site ao longo de um ano. "O mashup de áudio usa técnica de colagem, geralmente com as batidas de uma faixa e o vocal de outra. Vários estilos, como o funk carioca e o kuduro, também usam colagem, porém tem muita coisa produzida, como batidas adicionais e gravação de vozes. Sou totalmente influenciado pela técnica quando faço minha música", explica o carioca.

João Brasil se apresenta ao lado da cantora paulistana radicada em Londres Cibelle. "Já tocamos em Londres. A Cibelle é uma amiga supertalentosa. Gravamos um tecno-brega inédito e vamos fazer um DJ/live set louco, pancadão e improvisado. Nós dois gostamos da linguagem do improviso."

O Brasil no mundo

Antes de ser o curador do Lusotronics, Haaksman foi um dos responsáveis por trazer o funk carioca para a Europa, onde é conhecido como baile funk. Ele lançou duas coletâneas do gênero, em 2004 e 2006, através de sua gravadora, a Man Recordings. "O funk se estagnou dentro de sua bolha (o Rio de Janeiro), mas está vivo por todo o Brasil, com o movimento do funk ostentação em São Paulo, por exemplo. Em Nova York, o DJ Comrade está misturando funk carioca com trap", explica o produtor.

Daniel Haaksman
DJ Daniel Haaksman, organizador do festival, fã de tecno-brega e funkFoto: Stefan Korte

No ano passado ele também lançou uma coletânea de tecno-brega e organizou o primeiro festival do gênero na Alemanha. "O tecno-brega tem recebido muita atenção com a Banda Uó, Gang do Eletro, Omulu, Jaloo e Gaby Amarantos, mas não recebeu a atenção internacional que o funk recebeu. O gênero é mais brega e não tem batidas tão pesadas e intensas como o funk."

Para o produtor, um dos grandes artistas brasileiros do momento é o Tropkillaz. Ele também é fã do Silva, de Lucas Santanna, do Taxi (projeto de João Brasil) e do Bonde do Rolê. "Queria ter trazido todos esses artistas, mas o orçamento do festival não permitiu. Quem sabe em 2014", diz o curador.