1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Brasileiro é estrela no Mundial de Esqui

Geraldo Hoffmann18 de fevereiro de 2005

Gaúcho Hélio Freitas chega em penúltimo no cross country de 15 quilômetros e conquista o coração da torcida em Oberstdorf. Próxima meta é disputar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2006 em Turim.

https://p.dw.com/p/6GVS
Hélio Freitas na linha de chegada: "experiência fantástica"Foto: AP

O maratonista e esquiador gaúcho Hélio Freitas, de 35 anos, foi a principal estrela desta quinta-feira (17/02), no Campeonato Mundial de Esqui Nórdico, em Oberstdorf, sul da Alemanha. Ele chegou em penúltimo lugar na prova de cross country de 15 km, com um tempo de 57min 22s – 121º lugar, 22 minutos atrás do campeão da prova –, mas foi o competidor mais festejado pelos 17 mil torcedores que cercavam a pista, chamando a atenção da mídia européia.

Na linha de chegada, Freitas ergueu o braços, sorrindo como um menino e festejando como uma vitória a estréia bem-sucedida no Mundial. "É uma experiência fantástica estar aqui. Eu estava muito cansado, mas foi uma sensação incrível ouvir a torcida gritando meu nome, me empurrando até a linha de chegada. O carinho com que fui recebido aqui e a repercussão que minha participação está tendo mostram que valeu a pena todo o esforço, uma vez que no Brasil não existem condições para treinamento de esqui", disse à DW-WORLD.

Nascido em Porto Alegre e residente há um ano e meio em Campinas (SP), o bicampeão brasileiro de cross country começou a sonhar com uma carreira internacional há dois anos e meio, quando viu neve pela primeira vez em Ushuaia, capital da província da Terra do Fogo, na Patagônia. "Todos os meus amigos pensaram que eu havia enlouquecido completamente. Mas eu pensei que seria uma boa idéia representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno", conta.

"O competidor mais exótico"

Helio Freitas
Hélio Freitas treina com rollerski nas ruas de CampinasFoto: Helio Freitas

Para espanto dos vizinhos, ele passou a treinar numa rua relativamente tranqüila de Campinas usando rollerski – espécie de patins de rodas, próprio para treinar fora da neve. Com o apoio da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), fez duas viagens de treino à Argentina e Alemanha, em 2003, ano em que participou de sua primeira competição na Itália. Em 2004, ainda treinou dez dias na Noruega e, há cinco semanas, fez um curso e participou da Copa Continental em Oberstdorf para se classificar ao Mundial de Esqui Nórdico.

As agências de notícia o classificam como "competidor mais exótico do Mundial". Isso porque o Brasil não tem neve, mas também por desinformação dos jornalistas. "É uma tolice a informação veiculada de que eu até há poucos dias não conhecia o esqui. O que acontece é que no Brasil não há treinador que domine a técnica do skating e por isso precisei de ajuda alemã", conta. Outros atletas considerados "exóticos" na competição vêm de países quentes, como o Marrocos e a Argélia.

Até mesmo o treinador Martin Klawitter, da escola de esqui de Oberstdorf, não quis acreditar, inicialmente, que Freitas queria mesmo competir no Mundial. Mas percebeu que "o brasileiro leva o cross country muito a sério" e passou a ensinar-lhe as técnicas para enfrentar a subida pesada e controlar os esquis na descida. "Para um brasileiro, ele se sai bem. Vê-se que é um batalhador por natureza", diz Klawitter.

Jogos Olímpicos

Helio Freitas SKI-WM in Oberstdorf
Hélio Freitas na disputa do cross country de 15 Km em OberstdorfFoto: dpa

Isso também ficou evidente na Copa Continental, em janeiro, quando cruzou a linha de chegada 24 minutos depois do vencedor do vencedor Martin Koukal, garantindo sua classificação para o Mundial. O treino duro de maratonista, que por pouco não se classificou para as Olimpíadas de Atenas em 2004, também valeu para a neve européia.

A "missão histórica" do brasileiro em Oberstdorf não só entusiasmou a torcida e o próprio Hélio Freitas, que ainda participará das provas de cross country dupla (duas vezes 15 km com esquis diferentes) e sprint (corrida de 1200 m). "Preciso um teste para a Olimpíada de Turim. Lá eu serei bem melhor, porque em agosto deste ano volto a treinar na Argentina", diz. Ainda está sendo negociada a participação de Freitas na prova dos 50 km de cross country, no dia 27 de fevereiro, também no Campeonato Mundial de Esqui Nórdico.

A Confederação Brasileira de Desportos na Neve, responsável por todas as categorias de snowboard, esqui alpino e esqui nórdico no país, conta com cerca de 50 atletas filiados e também já sonha com a participação nas Olimpíadas de Inverno de 2006. O diretor de esqui da CBDN, Anders Peterson, pretende formar, no mínimo, um grupo para provas de revezamento (com quatro atletas) do cross country. "Também estamos desenvolvendo junto com o Exército brasileiro uma equipe de biatlo (que combina corrida de esqui com tiro ao alvo)", diz.

Recorde de participação

Nordische Ski Weltmeisterschaft in Oberstdorf
Mundial de Esqui Nórdico foi aberto com danças típicas da Baviera em OberstdorfFoto: AP

Os esquiadores brasileiros já participaram de quatro Jogos Olímpicos de Inverno (de 1992 a 2002) e disputam campeonatos mundiais desde 1966, em Portillo/Chile. Já foram realizados 18 campeonatos brasileiros de esqui e nove de snowboard.

O Campeonato Mundial de Esqui Nórdico, que acontece de 16 a 27 de fevereiro em Oberstdorf, conta com a participação recorde de 539 atletas de 51 nações. Aproximadamente 1500 jornalistas cobrem as 39 competições, que serão acompanhadas de perto por cerca de 300 mil torcedores.

O Brasil foi festejado na neve justamente no dia em que a Alemanha – com longa tradição nos esportes de inverno – deu um fiasco em Oberstdorf: as esquiadoras Evi Sachenbacher e Axel Teichmann, cotadas como favoritas na corrida em estilo livre, foram derrotadas por suas concorrentes da República Tcheca e Itália.