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Durante um mês

1 de fevereiro de 2011

Situação no Sudão e nos países árabes do norte da África deve dominar os debates em fevereiro, mês em que o Brasil exercerá a presidência do órgão mais poderoso das Nações Unidas.

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ViottiFoto: AP

O Brasil ocupa a partir desta terça-feira (01/02) a presidência do Conselho de Segurança, órgão mais poderoso das Nações Unidas. A embaixadora do país na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, será a primeira brasileira a ocupar a cadeira. O mandato da presidência do Conselho de Segurança dura um mês, para que cada um dos 15 países-membros possa exercer o cargo. A sequência dos ocupantes segue a ordem alfabética. Em março, será a vez da China, que é membro permanente.

Viotti declarou à Deutsche Welle que planeja reacender as discussões sobre a inter-relação entre paz, segurança e desenvolvimento. Para isso pretende promover um debate sobre o assunto, com a participação de ministros dos 15 países-membros do Conselho de Segurança.

"Queremos realçar a importância de um enfoque integrado nas questões de paz e segurança, que leve em conta as causas dos conflitos, muitas vezes associadas à pobreza, à desigualdade social e à falta de emprego para os jovens", disse a embaixadora, afirmando que a intenção é fazer com que o Conselho de Segurança e também outros órgãos da ONU procurem encontrar soluções integradas para essas questões.

"Esse é um tema muito caro para os países e é uma contribuição que o Brasil pode dar, pois temos uma sensibilidade especial para essas relações, que talvez não sejam tão prioritárias para alguns governos, mas são essenciais para o Brasil e para os países africanos e latino-americanos", declarou Viotti.

A embaixadora também anunciou que, para aproveitar a presença das autoridades em Nova York, no dia 11 de fevereiro, acontecerão reuniões do G4 (Brasil, Índia, Alemanha e Japão) e dos países do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul).

Consolidação da paz no Sudão

Durante a sua presidência, o Brasil presidirá reuniões importantes da agenda da ONU. A situação no Sudão deve ser um dos principais assuntos de fevereiro, segundo a embaixadora, já que o referendo sobre a divisão do país aconteceu no início de janeiro e os resultados oficiais são esperados para este mês.

"Nós estamos prevendo consultas informais no Conselho, já no final da primeira semana, para fazer a avaliação e ouvir briefings de representantes das Nações Unidas. Em seguida ocorre o processo de exame de eventuais recursos. Uma vez analisados, e declarado o resultado oficial, iremos anunciar uma sessão aberta com representantes do sul e do norte do Sudão", declarou Viotti. Ela disse ser este um momento muito importante para consolidar a paz e negociar uma possível rearticulação da presença das Nações Unidas no país africano.

Outros desafios

"O mês vai ser curto mas intenso", disse a embaixadora, fazendo referência aos 28 dias de fevereiro. Recentes conflitos em países africanos, como o Egito e a Tunísia, devem fazer parte dos debates, apesar de não estarem previstas decisões sobre possíveis intervenções da ONU.

Eentre os assuntos já agendados para os debates do mês estão o acompanhamento da situação no Líbano, no Kosovo, na República Democrática do Congo, na Guiné Bissau e em Timor Leste.

Viotti mostrou-se satisfeita com a presença de Portugal no Conselho: "Um aspecto que temos destacado é o fato de termos agora dois membros de expressão portuguesa no Conselho e temas relacionados aos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, como as situações da Guiné Bissau e de Timor Leste".

Em busca de mais poder

A embaixadora afirmou que o posto traz visibilidade ao Brasil. "É uma oportunidade de a nossa voz ser ouvida com mais atenção." Há anos que a reivindicação por uma cadeira fixa no Conselho de Segurança tem sido o enfoque principal de governantes brasileiros nas questões relacionadas à estrutura das Nações Unidas. "Ocupar a presidência é a chance de ter voz ativa e mostrar com mais evidência como o país pode contribuir com ideias e ações."

O Brasil busca uma maior participação nas decisões mundiais da política internacional e se destaca principalmente em missões de ajuda humanitária, como no caso do Haiti, onde está desde 2005. As tropas brasileiras foram enviadas ao país após a crise que forçou a saída do então presidente Jean Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004. O trabalho do Brasil foi essencial logo após o terremoto, no início de 2010.

O país tem ainda uma forte atuação nas relações com as demais nações de língua portuguesa, com transferência de recursos e intercâmbio de programas sociais, assinalou a embaixadora.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, já deixou claro que o Brasil é um país que se identifica com a busca de soluções diplomáticas e quer promover mecanismos de cooperação mais democráticos e representativos. Patriota declarou ainda que a política externa do Brasil não muda radicalmente com o novo governo.

Autora: Cleide Klock, de Nova York
Revisão: Alexandre Schossler