1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Bienal

Sigrid Hoff (sv)24 de setembro de 2008

Mostra em Veneza procura discutir o papel da arquitetura para além da construção e concede prêmio principal a pavilhão polonês, que sugere discussão sobre problemas que ainda virão no futuro.

https://p.dw.com/p/FOE5
'Projetos para um futuro melhor', no pavilhão alemão em VenezaFoto: picture-alliance/ dpa

Sob o lema Do lado de fora – a arquitetura para além da construção, a Bienal de Veneza mostra que a cidade italiana não merece ser visitada somente por ocasião das mostras de artes plásticas ou cinema. A Bienal de Arquitetura em Veneza é, hoje, um dos importantes fóruns de debate sobre o assunto.

Este ano, por exemplo, a instalação do escritório austríaco Coop Himmelblau expõe na Bienal um espaço sem fronteiras, no qual o indivíduo, através de seu pulso, define o espaço – um experimento idealizado em 1971, mas que só agora foi concretizado num protótipo.

Também a conhecida arquiteta Zaha Hadid está presente na Bienal. Com uma escultura de grande formato, que quer ao mesmo tempo ser uma peça de mobiliário e uma casa, Hadid ressalta a fronteira tênue entre o design e a arquitetura.

Questões futuras

Architekturbiennale in Venedig 2008
Pavilhão húngaro em VenezaFoto: picture alliance/dpa

O diretor artístico da Bienal, Aaron Betsky, procura questionar na mostra deste ano, em primeira linha, o futuro da arquitetura através da exibição de "construções utópicas" e "edificações que pensam". Betsky procura, acima de tudo, iniciar um debate sobre uma forma completamente nova de arquitetura.

Sua premissa básica é mostrar que a arquitetura é mais do que uma simples edificação. "Ela é uma arte crítica, que pode envolver muito mais nosso pensamento. A arquitetura deveria ser mais do que um caixote construído", diz Betsky.

Abrindo os olhos

Nesta Bienal, não há lugar para a arquitetura tradicional, mesmo considerando que há ali também espaço para propostas pragmáticas, como por exemplo uma caixa verde, cujo conteúdo, como num filme em câmera lenta, se transforma em oito minutos num quarto com cama e escrivaninha. Uma "casa móvel", ou seja, uma solução prática para os nômades contemporâneos.

Architekturbiennale in Venedig 2008
'The Evening Line' do artista britânico Matthew Ritchie e arquitetos Aranda/LaschFoto: picture alliance/dpa

O problema básico, de acordo com o diretor da Bienal, está na ilusão de que os arquitetos, como construtores de prédios, poderiam solucionar os problemas do meio ambiente ou até mesmo da sociedade. O que é uma premissa absolutamente errônea, já que os arquitetos não podem nos fornecer qualquer tipo de resposta a determinadas questões.

Por outro lado, acredita Betsky, os arquitetos podem, para além do produto que projetam, nos envolver numa discussão a respeito do que é uma boa arquitetura. Eles, na opinião do diretor da Bienal, poderiam oferecer soluções técnicas sobre formas específicas, além de apontar possibilidades às quais os leigos, sozinhos, não chegariam. Ou seja, neste sentido, os arquitetos podem "abrir os olhos" de uma sociedade.

Leão vai para a Polônia

Polen ist Gewinner des Goldenen Löwen bei der Architekturbiennale in Venedig 2008
Presidente da Bienal, Paolo Baratta (centro), entrega prêmio para responsáveis pelo pavilhão polonêsFoto: picture alliance/dpa

As representações de diversos países na Bienal de Veneza abordam o lema deste ano de formas distintas. Muitos deles se dedicam a problemas a respeito do meio ambiente ou a questões de teor social. Neste contexto, a arquitetura convencional nem sempre tem a melhor solução. Esta pode, por exemplo, ser apontada no projeto de jardins externos de uma escola, como mostra o pavilhão norte-americano na Bienal este ano.

O Leão – premiação máxima – foi este ano para a Polônia, cujo pavilhão tratou do tema da Bienal de forma irônica e assustadora através de simples colagens de fotografias.

Tentativas de visualizar o futuro

Grzegorz Piatek, um dos curadores do pavilhão, explica que a idéia partiu do desejo de visualizar o futuro, o que não significa simplesmente brincar com a forma. O que mais importou para os curadores foi iniciar uma discussão sobre a durabilidade das edificações. Para isso, eles tomaram prédios imponentes, construídos recentemente, que procuram passar a impressão de que vão ficar ali eternamente.

Estes mesmos prédios foram novamente mostrados em meio a uma realidade compeltamente nova, após uma grande crise socioeconômica. "Há várias possibilidades de interpretar a Bienal deste ano sob o lema arquitetura para além da construção", diz Piatek.

Architekturbiennale in Venedig 2008: Polnischer Pavillion
Pavilhão polonês: vencedor da BienalFoto: picture alliance/dpa

O pavilhão polonês mostra, por exemplo, a fotografia atual de um prédio novo ao lado de uma colagem, a fim de demonstrar como as mudanças futuras poderão ser radicais. Para um terminal recém-construído no aeroporto de Varsóvia, as previsões para daqui a 30 anos não são boas, considerando a crise energética e a falência de diversas companhias aéreas.

Num contexto em que o aumento do preço de alimentos aponta para dificuldades de abastecimento, o terminal é, na visão futurista dos curadores, reaproveitado como depósito de produtos agrícolas. Sobre a grama do lado de fora, animais, como vacas e patos, pastam. Uma mostra de arquitetura que pensa além do seu tempo, como bem sugere o lema da Bienal deste ano.