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Clássico na tela grande

Felipe Tadeu20 de agosto de 2007

Museu Alemão do Cinema, em Frankfurt, exibe versão remasterizada da série dirigida por Rainer Werner Fassbinder e feita originalmente para a televisão. Documentário de Juliane Lorenz sobre o clássico tem pré-estréia.

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Barbara Sukowa e Günter Lamprecht numa das cenas do filme 'Berlim Alexanderplatz'Foto: AP

Os amantes da chamada sétima arte tiveram motivos de sobra para comemorar a mostra que foi levada às telas do Museu Alemão do Cinema, em Frankfurt, de 17 a 19 de agosto. O cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, falecido precocemente há 25 anos, teve a maior obra-prima de sua intensa filmografia, Berlim Alexanderplatz (1980), exibida na íntegra em tela de cinema.

Totalmente remasterizada, a série produzida originalmente para a televisão encheu os olhos de quem teve fôlego para admirar seus 14 capítulos durante um final de semana, que foi coroado com a premiére de A Mega Movie and Its Story, de Juliane Lorenz.

O documentário de 60 minutos dirigido pela artista que montou os 14 últimos filmes de Fassbinder emocionou a platéia, trazendo depoimentos de pessoas fundamentais na vida do mitológico cineasta, como Hanna Schygulla, Barbara Sukowa, Günter Lamprecht e muitos outros que participaram de Berlim Alexanderplatz. Lorenz esteve presente na abertura da mostra, que contaria, nos dias seguintes, com a vinda de Günter Lamprecht (o ator que representa o senhor Biberkopf) e de Harry Baer, produtor artístico da série.

Na condição de presidente da Rainer Werner Fassbinder Foundation – entidade criada pela mãe do cineasta, Liselotte Eder, para preservação da obra dele –, Lorenz teve oportunidade de falar sobre fatos interessantes da produção de Berlim Alexanderplatz, sem deixar de tocar no polêmico assunto das críticas disparadas contra ela por alguns membros da equipe da série, auto-intitulados "família Fassbinder".

Em boas mãos

Lorenz pôde provar mais uma vez o quão qualificada está para dirigir os trabalhos da Fundação Fassbinder, que vem publicando nos últimos anos todos os filmes do cineasta em DVD, em produções de acabamento inquestionável. "A restauração de Berlim Alexanderplatz foi feita da forma mais ideal possível, podendo contar até com a assessoria de Xaver Schwarzenberger, o fotógrafo do filme", afirmou.

Quanto ao fato de o filme manter algumas cenas escuras, que já tinham fomentado discussões à época da exibição na tevê, Lorenz foi categórica: "Eu mesma montei o filme e para mim sempre esteve claro que as tais cenas escuras eram originalmente assim e que continuariam sendo assim na remasterização".

Não bastasse a árdua empreitada que é restaurar, quadro por quadro, um filme com duração de mais de 15 horas, Lorenz ainda teve que convencer muita gente ao captar recursos para a remasterização, um processo nada barato. "Tive até que gritar com alguns, frisando que não são só os velhos filmes alemães que precisam ser restaurados, como já também os do chamado 'Novo Cinema Alemão' (títulos produzidos nos anos 70/80)".

A diretora do Museu Alemão do Cinema de Frankfurt, Claudia Dillmann, também fez questão de ressaltar o grau de profissionalismo de Lorenz à frente da Rainer Werner Fassbinder Foundation. "Nós do Museu Alemão do Cinema estamos autorizados, como arquivo dos filmes alemães, a reconhecer o eficiente trabalho da fundação e de Juliane Lorenz e sua equipe."

Obra de quinta grandeza

Lorenz, que além de integrante da equipe de Fassbinder foi casada com o cineasta – foi ela quem o encontrou morto, por overdose, na cama do apartamento do casal, em 1982 – falou da importância de Berlim Alexanderplatz para o diretor. "Ele dizia que precisava realizar esse filme acima de tudo para si mesmo. E, naquela época, ainda tínhamos aqui na Alemanha uma maravilhosa comunidade televisiva formada por ZDF, ARD e WDR."

"Fassbinder conseguiu provar para si mesmo que era capaz de tocar um projeto que envolveu 54 profissionais num ritmo de trabalho muito, muito intenso mesmo, mas com uma leveza incrível. Tudo correu como ele gostaria que fosse e para isso ele já vinha se preparando há muito tempo", contou Lorenz, que tinha só 22 anos ao montar a película de dimensões colossais.

O romance de Alfred Döblins que deu origem à série já repercutira forte na cabeça de Fassbinder em plena puberdade, levando-o a declarar posteriormente à imprensa em diversas ocasiões que o livro tinha salvado a sua vida numa época extremamente conturbada. Assim como ocorrera na vida do cineasta, que viu a separação de seus pais aos 6 anos de idade, Döblins também amargara o desabamento de sua familia ainda durante a infância.

Filme sobre Berlim

Se Berlim Alexanderplatz fez o sucesso que fez, ainda que debaixo de uma saraivada de críticas tão ruidosas quanto vazias, como as disparadas pelo jornal sensacionalista Bild, isso aconteceu graças ao talento de um anárquico Fassbinder como líder de um ambicioso projeto.

"Rainer ditou o roteiro inteiro em fita cassete, palavra por palavra, ponto por ponto, e foi sua mãe quem transcreveu tudo", revelou Lorenz. Berlim Alexanderplatz é aplaudido hoje como o primeiro grande filme sobre uma metrópole alemã e seus cidadãos. Uma cidade que atravessava uma grande turbulência social que iria desencadear, poucos anos depois, na eclosão do nazismo.

"Precisei convencer Fassbinder que seria bom eu aproveitar minha maneira berlinense de falar quando rodávamos o filme", revela Günter Lamprecht, nascido na capital, no documentário A Mega Movie and Its Story. "Já foi dito que Fassbinder fazia filmes como se fossem peças de teatro e peças de teatro como se fossem filmes. Era assim mesmo que ele gostava", garantiu Lorenz, durante sua passagem por Frankfurt.

Rainer Werner Fassbinder
Rainer Werner FassbinderFoto: AP
Juliane Lorenz, Präsidentin der Fassbinder-Foundation
Juliane Lorenz, presidente da Fundação FassbinderFoto: picture-alliance/ dpa