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Bancos vão repassar créditos a instituto

Neusa Soliz24 de abril de 2003

Os principais bancos alemães e o Banco de Créditos para a Reconstrução, que é estatal, anunciaram a criação de uma joint-venture que transformará créditos em títulos. A medida pode beneficiar bancos e empresas.

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Sede do Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), em FrankfurtFoto: KfW

Os quatro maiores bancos alemães - Deutsche Bank, Dresdner, Commerzbank, HypoVereinsbank - juntamente com o DZ Bank, que é uma cooperativa, resolveram criar uma sociedade à qual repassarão créditos para comercialização. Dela também participará o Banco de Créditos para a Reconstrução (KfW), órgão do Estado. A iniciativa tem por objetivo aliviar o balancete dos bancos e aumentar seu capital próprio através do lançamento de títulos. Dessa maneira, eles terão margem para conceder novos créditos às empresas de porte médio, expôs o presidente do KfW, Hans Reich, nesta quarta-feira (23/04), em Frankfurt.

Serão repassados somente créditos com solvência. Reich frisou que o novo instituto, ainda sem nome, não será um instrumento para fazer desaparecer dos balancetes os chamados "créditos podres", de clientes insolventes. Isso ficaria claro observando-se a dimensão do empreendimento. Enquanto o volume total de créditos concedidos a pessoas físicas e jurídicas, com exceção dos próprios bancos, gira em torno de 2,5 trilhões de euros (dados do BC alemão), a nova sociedade iniciará suas atividades com um volume anual de 10 a 20 bilhões de euros, informou o KfW.

Not a bad bank

Temores de que ela fosse concebida como um bad bank foram manifestados pela oposição. "É absolutamente ingênuo acreditar que irão parar nessa sociedade somente os créditos com bons riscos", criticou o deputado Steffen Kampeter, da União Democrata Cristã (CDU). "Pode ser que no início seja assim, mas depois acabarão sendo comercializados também os de altos riscos", observou. Pela lógica do deputado, os bancos privados não precisariam do Banco de Créditos para a Reconstrução, com seu excelente rating AAA, se fossem negociar somente créditos de baixos riscos. O temor da oposição é que o KfW acabe garantindo "créditos podres", o que equivaleria a subvencionar bancos privados.

Mario Monti
Mario Monti, comissário de Livre Concorrência da União Européia, combate sem piedade subvenções veladas ou indiretasFoto: EU

Em Bruxelas, especialistas em livre concorrência da União Européia não vêem problema na criação da sociedade, desde que o Banco de Créditos para a Reconstrução não assuma a garantia dos títulos. Eles confiam nas informações do Ministério das Finanças em Berlim de que não se trata de um bad bank, pois os títulos a serem lançados pela joint-venture serão avaliados independentemente do KfW.

Empresas necessitam de financiamento

Como informou o presidente do banco estatal, Hans Reich, a sociedade irá securatizar os créditos, isto é, desmembrar portfólios de créditos em diversos pacotes, conforme duração e riscos, para então oferecê-los sob a forma de títulos ABS (asset backed securities) - títulos lastreados com ativos. O público alvo são seguradoras, fundos de pensão e bancos centrais. A nova sociedade está aberta aos demais bancos e também às caixas econômicas, na Alemanha bancos em sistema de cooperativa e geralmente municipais, que ainda não se pronunciaram a respeito.

Um estudo realizado pelo Banco de Créditos para a Reconstrução revelou que as condições de financiamento pioraram para 45% das empresas, em função da crise bancária. Um terço delas, inclusive, não está conseguindo obter nenhum crédito. Nessa situação, "é preciso agir para garantir que as empresas de porte médio continuem obtendo créditos, também no futuro", expôs Reich. Para os bancos, especialmente os pequenos, o efeito positivo é duplo: ao vender títulos da dívida, passam a dispor de recursos para a concessão de novos créditos. Por outro lado, aliviam o balanço do capital próprio, transferem riscos à sociedade e ainda lucram com as comissões da transação.