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Ban Ki Moon na ONU: mão de ferro em luva de pelica?

(ca/gh)9 de outubro de 2006

Sul-coreano que sucederá Kofi Annan como secretário-geral da ONU é descrito como "moderado e amigo dos Estados Unidos". Ele promete atuar com determinação no comando da organização.

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Ki Moon tem bons contatos diplomáticosFoto: picture-alliance / dpa

Depois de passar por várias votações preliminares, o sul-coreano Ban Ki Moon foi designado nesta segunda-feira (09/10) pelo Conselho de Segurança para suceder Kofi Annan como secretário-geral das Nações Unidas. A aprovação de seu nome pela Assembléia Geral da organização é vista apenas como uma formalidade.

Ban Ki Moon tinha 16 anos quando realizou um sonho. Como prêmio por ter vencido um concurso de inglês promovido pela Cruz Vermelha, ganhou uma viagem aos Estados Unidos para se encontrar com John F. Kennedy. Para o sul-coreano de origem humilde, o presidente norte-americano era um exemplo.

Esse encontro seria determinante para sua vida. "Quando encontrei Kennedy, consolidou-se minha convicção de infância de que queria ser diplomata", contou Ban Ki Moon mais tarde. Desde então, ele dedica sua vida a este sonho.

Diplomata aos 26 anos

Ban iniciou cedo sua carreira. Na Universidade de Seul, a melhor da Coréia do Sul, o filho de agricultor estudou Relações Internacionais. Além disso, fez mestrado em Administração Pública em Harvard (EUA). Aos 26 anos de idade, ingressou no serviço diplomático.

Seguiram-se 36 anos de uma fulminante carreira diplomática, que agora é coroada com o posto de secretário-geral da ONU. Durante dez anos, Ban Ki Moon já atuou nas Nações Unidas, onde começou como simples funcionário em 1975 e se tornou primeiro secretário da representação sul-coreana em 1978.

Nos três anos seguintes, foi responsável pela ONU no Ministério sul-coreano das Relações Exteriores. De 1998 a 2000, foi embaixador de seu país na Áustria.

Em 2001, tornou-se por dois anos embaixador na ONU, onde também assumiu a chefia de gabinete do presidente da 56ª Assembléia Geral, o sul-coreano Han Seung Sôo, na sessão que teve início em 12 de setembro de 2001. Desde janeiro de 2004, é ministro do Comércio e das Relações Exteriores.

Ceticismo

Internationaler Tag des Friedens - Annan läutet Friedesnglocke
Annan tocando o sino da pazFoto: picture-alliance / dpa

Céticos em Nova York dizem, no entanto, que ele não tem o carisma e a retaguarda de seu antecessor Kofi Annan. Ban Ki Moon conhece este ceticismo e tenta dissipá-lo. "É possível que, exteriormente, eu passe a impressão de ser brando, mas, quando realmente é necessário, tenho uma força interior. Sempre fui muito determinado. Penso que tenho meu próprio carisma", disse em entrevista à agência de notícias AFP.

"Ele é como uma mão de ferro em luva de pelica", comparou certa vez o porta-voz do Ministério sul-coreano das Relações Exteriores. Outros colegas diplomatas descrevem Ban como trabalhador incansável, resistente ao estresse.

Além disso, ele é considerado um homem dos acordos e do equilíbrio – uma característica que o ajudou, como ministro das Relações Exteriores, a superar fases difíceis nas relações com os EUA e o Japão.

Em sua carreira diplomática, ele procurou aprender os idiomas dos países em que atuou. Além de inglês, fala japonês e alemão. Quando decidiu, há um ano, candidatar-se ao comando da ONU, começou a estudar francês. Ban Ki Moon é casado com Yoo Soon Taek, tem duas filhas e um filho.

Bônus asiático

Sua carreira não o ajudaria muito, se ele não preenchesse por sua origem o principal requisito para o posto à beira do East River em Nova York: ele vem da Ásia. A China deixou claro que bloquearia qualquer candidato que não fosse asiático.

Ban Ki Moon usou abertamente este trunfo. "Está mais do que na hora de um asiático se tornar secretário-geral da ONU", disse. Ele é o segundo asiático a chegar ao cargo – o outro foi U Thant, da Birmânia, que serviu de 1961 a 1971.

Nesse contexto, ele também ressaltou o rápido desenvolvimento econômico de seu país, que passou de uma pobre ex-colônia, castigada pela guerra, para um Estado de tecnologia de ponta. "Minha experiência como sul-coreano pode ser útil aos países em desenvolvimento nas Nações Unidas", argumentou.

Também suas boas relações com os Estados Unidos lhe serão úteis. Em setembro de 2005, Ban Ki Moon recebeu o cobiçado prêmio Van-Fleet por sua contribuição à consolidação das relações de seu país com os EUA. Ele classifica as relações entre Coréia do Sul e Estados Unidos como "excelente aliança bilateral".

Em 2004, quando um tradutor sul-coreano foi seqüestrado e decepado no Iraque, mostrou uma outra qualidade: a capacidade de empurrar para os colaboradores a culpa por erros em sua gestão.

Ele é considerado amigo dos norte-americanos e conta com o apoio do presidente George W. Bush. O que também prova que é um malabarista. Afinal, ele é membro do governo esquerdista de Roh Moo Hyun, que esfriou as relações com Washington.

Talvez seja justamente a falta de perfil que transformou Ban no candidato predileto das grandes potências. "Não acredito que ele, como secretário-geral da ONU, tomará a iniciativa em caso de um novo conflito internacional. Ele não é o tipo de pessoa que persegue com afinco idéias próprias", disse o cientista político Yang Seung-Ham.

Promessa de milhões de dólares?

Segundo informações o jornal britânico Times, Ban também teria prometido "milhões de dólares" para obter os votos necessários na Assembléia Geral da ONU. Depois de anunciar sua candidatura em fevereiro passado, ele fez uma turnê pela África, prometendo triplicar para 100 milhões até 2008 a ajuda sul-coreana ao desenvolvimento. O governo em Seul rebateu essa acusação.

Indiscutível é que Ban Ki Moon tem bons contatos diplomáticos e, como representante de seu país, participou das negociações das seis partes (EUA, China, Rússia, Japão e as duas Coréias) sobre o programa nuclear da Coréia do Norte, uma das crises mais prementes a serem resolvidas pela ONU nos próximos anos.