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Badi Assad apresenta na Europa seu primeiro "disco brasileiro"

Tiemo Duarte / Maíra Duarte 17 de abril de 2005

Música brasileira produzida nos Estados Unidos e que invadiu o Velho Mundo começa a ganhar espaço nas galerias tupiniquins; entrevista da DW-WORLD revela um "novo estilo", próprio de uma artista contemporânea.

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Estilo etno-pop, clássico world ou simplesmente a música da BadiFoto: Fernando Velázquez/DG

Cosmopolita, eclética, e ao mesmo tempo dona de uma personalidade ímpar. Badi Assad, irmã de Odair e Sérgio Assad, violonistas brasileiros que ganharam fama nos anos 80, mostra na Europa, em mais de 20 concertos, o seu primeiro disco que será também lançado no Brasil – Verde.

A turnê começou pela Alemanha, e Berlim já assistiu ao show de Badi. Colônia, onde ela concedeu entrevista exclusiva à DW-WORLD logo após a apresentação no Stadtgarten, também. Espanha, Inglaterra, Holanda, Áustria e França ainda terão a oportunidade de receber a artista brasileira, que permanece no Velho Mundo até outubro.

Badi não lançava um novo trabalho há seis anos. Ela nasceu em São João da Boa Vista, em São Paulo, mas foi criada no Rio de Janeiro. Em solo carioca, cresceu, estudou música e teve contatos com grandes nomes da área.

Tocou com músicos como Pat Metheney, Hermeto Pascoal, Milton Nascimento e Dori Caymmi. E agora, Verde tem as participações do percussionista Naná Vasconcelos, do flautista Teco Cardoso e de Toquinho.

O CD traz músicas tradicionais brasileiras, composições próprias e releituras internacionais de Björk, U2 e Yann Thiersen. "É um etno-pop ou um clássico world – ou é simplesmente a música da Badi", define-se.

DW-WORLDO concerto em Colônia foi o segundo na Alemanha. Você já havia se apresentado em Berlim. Qual sua impressão sobre o público alemão?

Badi Assad – Dentro da Europa o país em que eu mais toco é a Alemanha. Por isso acho que há uma reciprocidade intensa. Eu adoro vir para cá. Há uma irmandade no público. As pessoas me recebem muito bem e é um público super respeitoso. É um prazer tocar aqui.

Você já conhecia o país?

Eu fiz uma turnê bem grande aqui na época do lançamento do Cameleon, o meu CD anterior. Acho que fiz 20 concertos só na Alemanha. Além da turnê eu me apresentei algumas vezes em Berlim no ano passado.

Você tem influências cosmopolitas. Como definiria o seu estilo?

É meio difícil colocar um nome no que eu faço porque eu misturo muitas coisas. É um etno-pop ou um clássico world – ou é simplesmente a música da Badi.

Mas os seus trabalhos anteriores eram mais influenciados pelo jazz...

Não é diretamente jazz, na minha opinião. É um brazilian jazz. Pouca coisa eu ouvi e estudei sobre o jazz. Não sou uma violonista que faça improviso como os jazzistas fazem. Eu posso fazer muito improviso com a minha voz. Mas com certeza a música do jazz influenciou a música do Brasil. E eu sou influenciada pela música do Brasil. Então, de uma forma ou outra, o meu trabalho acaba tendo influência do jazz.

Qual é o seu público-alvo?

Eu não penso muito assim. Acho que o público-alvo é aquele que vai me entender. Aquele que vai estar aberto a viajar comigo aonde quer que eu vá, sabe? Acho que esse é o principal foco. O público não tem idade, não tem sexo, não tem cor, nada. Completamente incondicionado.

Eu faço o meu trabalho com o coração. Acho que onde o coração está inteiro, você se comunica.

Badi Assad
Badi Assad, que espera repetir no Brasil o sucesso conquistado na Europa e nos Estados UnidosFoto: Fernando Velázquez/DG

Mas você faz mais sucesso no Brasil ou na Europa?

Olha só... O Verde é o meu quinto ou sexto CD, nem sei mais. Mas é o primeiro que está sendo oficialmente lançado no Brasil. A minha carreira aconteceu sempre mais fora do Brasil porque eu acabei gravando nos Estados Unidos, e a gravadora Chesky Records não tinha distribuição no Brasil. Os meus CDs eram vendidos somente na seção de importados de poucas lojas. Então, lá não se conhece o começo do meu processo fonográfico. E agora tenho o prazer de tocar para pessoas e ter o CD onde as pessoas possam ler, pois o encarte não está em inglês. Além de ter a oportunidade fantástica de viajar pelo país inteiro dando concertos. Estou adorando. É um começo gostoso, a gente se sente jovem.

Qual a sua faixa preferida no "Verde"?

Gosto do título One porque é uma síntese. A gente nunca pode esquecer do amor incondicional. Somos um. O planeta Terra é um. Não somos separados, mas infelizmente não nos respeitamos.

Você tem, ou pelo menos demonstra, uma certa motivação para tentar mudar o mundo. Após o concerto você chegou a mostrar colares de sementes de pau-brasil que são vendidas para arrecadar fundos em prol de um projeto de preservação da Mata Atlântica...

Na verdade há muita coisa a ser feita no mundo de hoje. É difícil transformar uma coisa que precisa de muitas transformações. Para que isso ocorra, cada um deveria olhar para o seu próprio crescimento, mas não de forma egoísta. Cada um deveria trabalhar a ponto de respeitar a si próprio e de respeitar ao próximo como a si.

Respeitar a natureza porque ela esta aí, nos servindo incondicionalmente. Infelizmente, o ser humano ainda não aprendeu isso. Então, o meu foco é justamente o de lembrar. A gente pode começar respeitando o vizinho e não brigando no trânsito. Eu mando as coisas do Verde porque verde é a esperança. Há esperança de que se todos contribuírem com o seu próprio crescimento, com certeza, alguma coisa maior pode acontecer.

O que a fascina na música?

Eu acredito que a música, e a arte em geral, tem um papel específico dentro da sociedade. Assim como os médicos cuidam do corpo, acho que a arte cuida da alma do povo. A música é imprescindível dentro deste processo, porque ela pode se comunicar com muitas pessoas. Nesse sentido a gente pode contribuir trazendo um pouco mais equilíbrio para essa causticidade toda.

Para uma verdadeira cosmopolita – afinal você nasceu em São Paulo, viveu no Rio de Janeiro e nos Estados Unidos –, o que chama a atenção na Alemanha?

Eu vim de Berlim para Colônia, e sinto várias energias no país. As cidades e as pessoas mudam, o astral muda. Há um estereótipo das culturas e dos povos. Por exemplo: o alemão é visto como uma pessoa muito rígida. Assim como a gente acha que o brasileiro é muito festivo. Dentro desse quadro eu sempre me impressiono com o calor dos alemães, porque eu vim com uma coisa preconcebida e encontrei outra. Tenho encontrado alemães fantásticos. Muitos vêm falar comigo e têm um carinho muito grande em falar em português. Os alemães são muito abertos.

Você conhece músicos alemães contemporâneos?

Conheço Uta Lemper, que é impressionante. Eu gostaria muito de vê-la ao vivo. Eu só tenho um CD. Eu conheço a Nina Hagen que é uma pérola negra no sentido de ser muito extravagante, muito livre e muito intensa. Na verdade, conheço pouco, muito pouco.

Badi Assad
Badi, cosmopolita e dona de um estilo próprio: concertos até outubro na EuropaFoto: Fernando Velázquez/DG

Agora existe uma onda na música alemã que mistura o reggae com o hip-hop...

Como será um reggae cantado em alemão? Quero ouvir... O alemão é uma língua que soa rígida para mim, como brasileira. Na rua, às vezes não sei se vocês estão conversando ou brigando. Então fico curiosa como será no reggae. No hip-hop posso até imaginar.

Quais são os seus planos para o futuro?

Estou lançando o Verde agora, mas a cabecinha está no próximo porque até o final do ano eu já tenho que ter um disco novo.

E como ele será?

Acho que é uma continuação do Verde. Terá músicas e composições minhas, algumas releituras porque eu gosto muito de reler outros músicos dentro do meu universo musical. Quanto à instrumentação e timbres, eu ainda não sei. Estou no início, está meio verde.