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Babel é bem longe daqui

Simone de Mello19 de novembro de 2004

A construção de arranha-céus ainda encontra muita resistência na Alemanha. Apesar do fascínio pela imponência de torres grandiosas, sua marcante presença urbana ainda é tabu em muitas cidades.

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Torre de Babel em 'Metropolis', de Fritz Lang: utopia distante da realidade alemã

Nesta quinta-feira (18), o Banco Central Europeu deveria ter decidido como será sua futura sede em Frankfurt, optando entre três projetos finalistas. A decisão foi adiada para o fim do ano, o mais tardar. No entanto, a prefeitura da metrópole financeira às margens do Meno já manifestou sua preferência: o espetacular arranha-céu do grupo de arquitetos vienense Coop Himmelb(l)au. Estes austríacos, que já marcaram o cenário arquitetônico europeu com sua irreverência, projetaram uma torre dupla de 150 metros, em forma poligonal, ao lado da qual se estende um "arranha-chão".

A fascinação por arranha-céus em Frankfurt, com seu inconfundível skyline, pode ser considerada única na Alemanha. Afinal, a maioria das cidades do país prefere manter o padrão urbano de edifícios de no máximo quatro ou cinco andares. Em alguns casos, como na cidade de Colônia, a construção de prédios altos pode gerar até conflitos internacionais.

Catedral de Colônia na lista negra

Kölner Dom hinter Hochhausneubau
Arranha-céu tira visibilidade da catedral de ColôniaFoto: dpa

No dia 8 de dezembro próximo, o prefeito de Colônia tem um importante compromisso em Paris: negociar sobre a futura imagem da "cidade da catedral" com a Unesco. O problema são quatro arranha-céus de até 120 metros que estão sendo construídos na altura da legendária catedral gótica, do outro lado do Reno. Sob a alegação de que os novos edifícios destroem "a integridade visual da catedral de 157 metros e a singular silhueta da cidade", o comitê da Unesco ameaçou privar o símbolo de Colônia do status de patrimônio cultural da humanidade, conferido em 1996.

Nachtperspektive des geplanten Turms für den Süddetschen Verlag
Projeto da torre da Editora Süddeutscher Verlag, em Munique (Arquitetos: Gewers Kühn und Kühn)Foto: Architekten Gewers Kühn und Kühn

Em Munique, a questão já é tão presente na consciência da população e dos políticos que, no próximo domingo (21) os cidadãos vão às urnas para decidir, num plebiscito, se dois arranha-céus planejados poderão ser construídos e se continuará ou não valendo o limite máximo de 100 metros para a construção de edifícios, mesmo fora do anel central da cidade.

Isar Süd, Modell Siemens Campus
Maquete do edifício da Siemens a ser construído ao sul do Rio Isar: o segundo projeto polêmico em MuniqueFoto: Isar Süd, Siemens Campus

A idéia de problematizar a futura silhueta da cidade de Munique partiu do ex-prefeito Georg Kronawitter, que fundou a Iniciativa Nossa Munique e conseguiu pressionar a política e viabilizar a realização de um plebiscito sobre a questão.

O caso Berlim: torres, sim, mas cadê o dinheiro?

Já na capital alemã, as coisas são diferentes. A transferência da sede de governo para Berlim trouxe consigo uma mudança radical e abrupta de diversas áreas urbanas, sobretudo no leste da cidade. O governo da Alemanha unificada deveria ser inserido num cenário radicalmente moderno, que não remetesse em nada à divisão do país durante mais de 40 anos: este foi o plano político por trás da ampla operação cosmética que culminou, por exemplo, com a construção do novo Potsdamer Platz, um complexo de projetos internacionais que inclui arranha-céus atípicos para a paisagem urbana berlinense.

A intenção de dar um caráter grandioso à capital não deixou de existir; o que falta é apenas dinheiro. Atualmente Berlim tem cerca de 100 mil moradias vazias, à espera de moradores, e um milhão de metros quadrados para pontos comerciais. Uma cidade sem a menor infra-estrutura industrial e com as finanças no limite da falência vai demorar para atrair as hordas de imigrantes que os entusiastas da reunificação estavam esperando.

Em torno do Alexander Platz deveriam se construir dez edifícios de até 150 metros. Os terrenos foram comprados, a construção deveria começar em 2006 e ser concluída em 2013. No entanto, falta o principal: os investimentos de sete bilhões de euros. Por enquanto, os investidores estão aguardando um novo aumento da demanda num mercado imobiliário tão saturado como o de Berlim.

Mostra de Babel a Chicago

Os atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, em 2001, reacenderam um medo que está ligado à história dos arranha-céus: o medo da queda, da catástrofe, concretizado na história da queda da Torre de Babel, o edifício de 91 metros ao sul da atual cidade de Bagdá, destruído no século sexto a.C.

Ausstellung Stadt - Land - Fluss Turmbau zu Babel Lucas van Valckenborch 1595
'Torre de Babel', obra do pintor flamengo Lucas van Valckenborch(1595)Foto: presse

Mesmo assim, os edifícios próximos às nuvens não deixam de exercer imenso fascínio e admiração pela ousadia humana. Sonho de Babel é o título da atual exposição do NRW-Forum, em Düsseldorf, na qual se pode apreciar até 20 de fevereiro próximo a trajetória das torres, de Babel a Pequim, da Catedral de Colônia aos arranha-céus de Chicago.