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Autovisão, uma chance

Marcio Weichert26 de setembro de 2003

Diante dos últimos atritos entre metalúrgicos e Volkswagen em São Paulo e da ameaça do presidente Pischetsrieder de demitir grevistas, DW-WORLD entrevistou o coordenador do Conselho Mundial de Funcionários da montadora.

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Dias de insegurança para os trabalhadores da VW em São PauloFoto: AP

Pela segunda vez desde agosto, os operários da Volkswagen de São Bernardo do Campo e Taubaté ficaram esta semana em pé de guerra com a direção da montadora. Na sede mundial, em Wolfsburg, o presidente do conglomerado, Bernd Pischetsrieder, chegou a declarar que poderá recorrer a demissões em caso de "uma greve ilegal".

O pivô da questão é a implementação no Brasil do projeto Autovisão, inspirado no Autovision aplicado na Alemanha desde 1998. O programa visa a redução do quadro de funcionários da montadora, sem necessariamente demiti-los. O projeto parte da premissa da redução da demanda por mão-de-obra direta nas montadoras.

No caso brasileiro, a queda nas vendas de automóveis teria deixado 3933 trabalhadores ociosos na Volkswagen. Eles estão, entretanto, protegidos contra demissões por acordos de estabilidade, vigentes até fevereiro de 2004, em Taubaté, e 2006 em São Bernardo.

Bernd Pischetsrieder, neuer Vorstand von VW mit Ferdinand Piech
Bernd Pischetsrieder, presidente mundial da VolkswagenFoto: AP

A montadora prevê a transferência, a partir da próxima quarta-feira, do excedente para a Autovisão, uma empresa própria de recolocação de mão-de-obra e requalificação profissional. Os funcionários seriam realocados em fornecedores, outras firmas do setor automobilístico e metalúrgico, ou até mesmo em atividades diferentes. A categoria rejeita entretanto esta alternativa oferecida pela companhia e ameaça entrar em greve, caso a VW implemente o projeto unilateralmente.

Em entrevista à DW-WORLD, o coordenador geral do Conselho Mundial de Funcionários da Volkswagen, Werner Widuckel, relativizou a ameaça de Pischetsrieder e demonstrou acreditar que o Autovisão pode ser uma alternativa ao desemprego também no Brasil.

Como o Sr. está acompanhando os acontecimentos na Volkswagen do Brasil?

Estamos em contato permanente com nossos colegas sindicalistas e estamos bem informados sobre a situação. A gente vem trocando opinião de forma intensiva. Nossa maior preocupação está no fato de que as atuais vendas de automóveis não é suficiente para ocupar o quadro de funcionários. Precisamos com urgência e muito rapidamente de alternativas de ocupação em vez de demissões. As conseqüências econômicas da crise da indústria automobilística brasileira na Volkswagen devem ser levadas muito a sério.

Como o Sr. analisa a ameaça do presidente Pischetsrieder de demitir grevistas?

A declaração do Sr. Pischetsrieder foi em resposta à pergunta de um jornalista sobre a hipótese de uma greve ilegal. Tanto a CUT como a Volkswagen já reafirmaram que irão cumprir os acordos em vigor. Sendo assim, uma greve ilegal é uma suposição absurda. Além disso, a direção do conglomerado esclareceu, internamente, que os direitos dos trabalhadores e dos sindicatos são em geral respeitados na Volkswagen.

O Sr. acredita que Pischetsrieder também teria se expressado assim, caso se tratasse de trabalhadores na Alemanha?

Até agora temos boas experiências de trabalho conjunto com o Sr. Pischetsrieder. Isto vale também para a necessária solução de problemas no Brasil. Ele também participa do princípio de que é melhor, na atual crise, procurar alternativas de ocupação fora da Volkswagen do que enviar funcionários para o desemprego.

AutoStadt
O misto de museu, centro de lazer e vendas AutoStadt faz parte do projeto Autovision em WolfsburgFoto: AP

O que o Sr. acha do projeto Autovision? Seria algo aplicável ao Brasil?

Eu mesmo participei da concepção do Autovision na Alemanha. Seu desenvolvimento e aplicação foram um processo de cooperação. Para este processo é preciso, entretanto, ter a compreensão de que não é possível manter todo posto de trabalho e em qualquer situação na Volkswagen, nem criar qualquer novo emprego na empresa. Isto vale também para o Brasil. Em que áreas e sob quais condições se pode organizar novas ocupações alternativas, tem de ser decidido e aplicado em cada país, conforme as condições econômicas e políticas em cada um deles. No caso do Brasil, acho que há chance.

O sindicato dos metalúrgicos da Alemanha, IG Metall, apóia a estratégia dos sindicalistas brasileiros em São Paulo?

Nós apoiamos nossos colegas em seu empenho para evitar demissões e oferecemos nossa experiência e nosso conhecimento do Autovision.