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'Qualquer um é capaz de assassinato'

Tobias Wenzel (av)20 de novembro de 2007

Beneficiada pela abertura do mercado internacional para os autores alemães, Juli Zeh (33) lança seu primeiro romance policial, "Schilf". Formada em Direito, a moral e a justiça são temas centrais de seus livros.

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Foto: Schöffling
Autorin Juli Zeh
Juli ZehFoto: dpa Zentralbild

"A Alemanha fica sexy", pontificou recentemente a revista do comércio livreiro alemão, Börsenblatt. Isso quer dizer que os autores contemporâneos do pais estão encontrando lugar no mercado anglo-americano. Por longo tempo, seus livros foram considerados lá "escuros, pesados demais, sem o menor humor".

Porém uma mudança está acontecendo, e uma das pioneiras é Juli Zeh. Ambos os romances da autora, agora com 33 anos, já foram traduzidos em 28 idiomas. Segundo sua editora, a Schöffling & Co., os direitos de seu novo livro, recentemente lançado, já foram vendidos para os Estados Unidos, Inglaterra e mais três países. Schilf é seu primeiro romance policial. Como em todas as demais obras, seus temas são moral e justiça.

Opção de comportamento

Esguia, jaqueta jeans, cabelos escuros de comprimento médio, olhos azuis claros, Juli Zeh parece bem à vontade. A maquiagem não é própria, mas sim o que restou de uma aparição na TV. Ela já se acostumou ao interesse da mídia, sempre que sai um novo livro seu. Desta vez é um policial. Assassinatos lhe interessam, tanto do ponto de vista político quanto moral-filosófico.

"Acho que é simplesmente uma opção de comportamento humano, embora pensemos que nunca seríamos capazes de tal coisa. Tenho a impressão de que qualquer um é capaz de matar. Mesmo a pessoa mais culta pode, sob certas circunstâncias, ser forçada a recorrer a este meio extremo."

Não foi por acaso que Zeh situou Schilf na cidade universitária de Freiburg.

"Para mim, Freiburg corresponde perfeitamente à imagem de um mundo de harmonia, quer dizer, onde moram pessoas felizes, ecologicamente corretas, e tudo o mais. Achei um bom contraste situar justamente em tal ambiente um assassinato relativamente pérfido, nos limites da moralidade."

Escritora e jurista

Há oito anos, ela tinha um namorado de Freiburg, por isso costumava passar várias semanas na cidade, durante as férias da universidade. Na época, ela ainda estudava Direito e Escrita Criativa em Leipzig.

Em 2001 Juli Zeh ficou conhecida da noite para o dia com seu romance de estréia, Adler und Engel (Águias e anjos). A temática era tanto a Guerra dos Bálcãs quanto a problemática do direito internacional, sobre o qual ela está escrevendo seu trabalho de doutorado. Também o segundo livro, Spieltrieb (A idade do jogo) trata da questão da moral.

"Não sou jurista só por haver me formado em Direito, mas também por me identificar com certas questões dentro dele, que me interessam muito, pessoalmente. O que consideramos certo, o que consideramos errado, é simplesmente uma das questões mais centrais para os seres humanos. E como sempre elaboro em texto aquilo que me interessa pessoalmente, a coisa sempre entra nos livros."

A maldição da terceira pessoa

Uma dessas questões é: quanto pesa a culpa, se um homem é chantageado e comete um homicídio para salvar seu filho?

Buchcover: Zeh, Finck - Kleines Konversationslexikon für Haushunde
'Pequeno livro de conversação para cães domésticos', em parceria com David Finck

"Por vezes, juízes chegam a uma decisão que talvez seja até errada, ou pelo menos questionável, do ponto de vista jurídico. Porém qualquer um que ler a sentença entenderá por que o fizeram. O sentimento diz: 'Não há como condená-lo, ele não é culpado'. Mas o direito tem que ser torcido fortemente, para chegar a tal decisão."

Filha de jurista e cinófila confessa, a escritora se bate em defesa dos animais, entre outras causas. Sorrindo, ela confessa uma de suas manias.

"Durante grande parte de minha vida – acho que até ficar adulta – tinha o hábito de pensar em mim mesma na terceira pessoa. E isso é incrivelmente cansativo. Por exemplo: 'Ela precisou ir até o outro lado da rua e comprar algo'. Era provavelmente devido a eu ler tanto, ou coisa assim. Comecei com isso na infância e era realmente uma maldição."

Ela conseguiu parar com o tique. E agora o transferiu para Schilf, o comissário de seu novo romance.

Juli Zeh: Schilf. Romance; Schöffling & Co., 2007, 380 pp.