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Aumento do desemprego reforça incerteza na economia brasileira

Fernando Caulyt1 de agosto de 2013

Governo diz que não há risco de ciclo de desemprego, mas sexta alta seguida no índice ameaça criar quadro difícil de se reverter a curto prazo. Para analistas, saída está em investimentos e corte de gastos públicos.

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Foto: Volkswagen do Brasil

Os últimos números sobre o desemprego divulgados pelo IBGE acenderam a luz amarela no mercado de trabalho exatamente no momento mais delicado da economia brasileira – com a confiança do setor produtivo e do consumidor em baixa, a inflação elevada e o crescimento econômico desacelerado.

A taxa de desemprego surpreendeu ao subir de 5,8% em maio para 6% em junho – patamar mais alto desde abril de 2002. A última vez que o desemprego havia caído fora em dezembro do ano passado, quando atingiu a mínima histórica de 4,6%, alavancado por causa das festas de fim de ano. Mas, a partir daí, houve aumento pelo sexto mês consecutivo.

"Vínhamos com uma situação muito positiva, com baixo desemprego. Mas ele começa a dar um sinal que pode se ampliar", afirma Celso Grisi, professor de economia da Fundação Instituto de Administração (FIA). "A economia não cresce, e o empresariado brasileiro não investe mais. Isso é bastante crítico, já que o crescimento da economia deverá ser modesto neste próximo período."

Confiança em queda

Para especialistas, era de se esperar que o desemprego aumentasse depois de tanto tempo de baixa atividade econômica no Brasil. O país cresceu 0,9% em 2012, muito inferior aos 2,7% de 2011 e aos 7,5% de 2010. No primeiro trimestre de 2013, o país viu a soma de suas riquezas subir somente 0,6%.

No final de junho, o Banco Central (BC) havia revisado a expectativa de crescimento deste ano de 3,1% para 2,7%, confirmando então uma tendência de desaceleração do mercado de trabalho. De acordo com o Boletim Focus, do Banco Central – onde consta a previsão de economistas de instituições financeiras –, o país deverá crescer 2,2% neste ano.

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Para Mantega, ritmo de criação de vagas será menor do que as taxas registradas nos últimos anosFoto: dapd

"Eu não vejo como o governo reverteria esse quadro num curto prazo. Por um lado, há a confiança em queda do empresariado nacional quanto ao ambiente econômico do país. Por outro, você tem os consumidores que já foram suficientemente punidos pela alta inflação e que, agora, não têm mais recursos para sustentar um nível de consumo maior", diz Grisi, que estima que a taxa de desemprego fechará 2013 perto de 6,8%.

Para Fernando Sarti, professor de economia da Unicamp, a retomada do crescimento terá que vir por meio do aumento da taxa de investimento. Caso contrário, o desemprego de 6% e a renda do trabalhador não devem se sustentar por muito tempo. "Os investimentos estimulariam o crescimento econômico, que, por sua vez, teria um efeito multiplicador sobre a renda e o emprego. Esse crescimento não tem mais como vir através do consumo."

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, garante que não há risco de um ciclo de desemprego no Brasil e prevê que o emprego continuará crescendo no país, embora admita que o ritmo será menor que as taxas registradas nos últimos anos. Para ele, qualquer número próximo a 1 milhão de novos postos de trabalho com carteira assinada é excelente. O governo reviu para baixo, de 1,7 milhão para 1,4 milhão a previsão de criação de vagas formais neste ano.

Renda do brasileiro em queda

A pesquisa do IBGE mostrou, ainda, que o rendimento médio da população ocupada caiu 0,2% em junho em comparação a maio, alcançando 1.869,20 reais, a quarta queda mensal seguida. A renda foi principalmente corroída pela inflação, que alcançou o índice de 6,5% nos últimos 12 meses, acima da meta de 4,5% fixada pelo governo.

"A redução do crescimento impacta a geração do emprego e os trabalhadores não conseguem um reajuste tão significativo nas negociações salariais como num passado recente. Além disso, há a inflação que está batendo na meta do governo. Esses três fatores somados levam a uma queda da renda real", afirma o economista Antonio Carlos Alves dos Santos, da PUC-SP.

Para piorar o panorama da economia brasileira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma pesquisa na segunda-feira (29/07) que mostra que a confiança do consumidor continuou baixa em julho, depois de uma forte queda verificada em junho. De acordo com a instituição, a inflação e o desemprego representam a principal preocupação dos consumidores brasileiros.

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Para especialistas, não adianta o governo estimular consumo para aumentar o crescimento do PIBFoto: AFP/Getty Images

Segundo especialistas, para o governo sair desta encruzilhada, ele deveria recuperar a credibilidade junto aos empresários, para que eles voltem a investir no país. Para alcançar esse objetivo, o governo precisa oferecer segurança jurídica e diminuir a intervenção do governo na vida econômica do país, além de cortar custos da máquina pública, fazendo com que tenha mais capacidade de investimento.

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, considerou nesta quinta-feira (01/08) bom o resultado da produção industrial nacional, que subiu 1,9% em junho em comparação a maio.

A produção industrial cresceu 3,1% em comparação a junho de 2012 e, no acumulado de 2013, a taxa de crescimento é de 1,9%. Para o presidente do BNDES, o crescimento de 1,9% frente a maio – quando a produção industrial caiu 1,8% – "revela que o estado de confiança das indústrias em planos de produção foi mantido".