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Aumentam críticas à exportação alemã de armas para sauditas

Sabine Kinkartz (js) 5 de janeiro de 2016

Arábia Saudita é há anos parceiro estratégico da Alemanha no Oriente Médio e bom cliente da indústria armamentista, mas recentes execuções no reino elevam às críticas a essa situação e reforçam dilema do governo alemão.

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Chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al-SaudFoto: picture-alliance/dpa/B.v. Jutrczenka

"O governo alemão recebeu com perplexidade a notícia da execução de 47 prisioneiros na Arábia Saudita", afirmou o porta-voz do governo da Alemanha, Steffen Seibert. Ele acrescentou que, além de a Alemanha se opor à pena de morte, a execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr tem potencial para acentuar as tensões políticas e religiosas na região. E isso é exatamente o oposto do que o Ocidente deseja.

O governo de Berlim enfrenta um dilema. De um lado, as autoridades sauditas ordenaram uma execução em massa e romperam relações diplomáticas com o Irã. Do outro, a Arábia Saudita é anfitriã de membros da oposição síria, que se preparam para as negociações previstas para o final deste mês em Genebra. "Só se todas as forças regionais contribuírem de forma construtiva, incluindo a Arábia Saudita e o Irã, é que poderemos avançar na busca de uma solução para a guerra civil síria", ressaltou o porta-voz.

As atuais circunstâncias parecem não permitir mais que um gesto de advertência. "O governo está convencido de que a manutenção de relações construtivas com a Arábia Saudita atende aos interesses da Alemanha e da região", disse Seibert, acrescentando que "só por meio do diálogo é que se pode expressar diferentes pontos de vista e também abordar aspectos críticos".

Bom cliente da indústria armamentista alemã

Mas não é tarefa fácil ocultar o atrito nas relações entre a Alemanha e a Arábia Saudita. Já faz algum tempo que Berlim não fala mais de um "parceiro estratégico", mas de um "parceiro importante numa região abalada por crises", como formulou a porta-voz.

O governo alemão não quer mais apoiar incondicionalmente Riad com a venda de armas. É uma mudança de paradigma, já que durante anos esse país rico em petróleo foi um cliente valioso da indústria bélica alemã. Junto com os Estados Unidos, a Alemanha é um dos principais fornecedores de armas para os sauditas.

Entre 1999 e 2004 – quando o Partido Social-Democrata (SPD) e os Partido Verde governaram em uma coalizão comandada pelo chanceler federal Gerhard Schröder –, as exportações de armas alemãs para a Arábia Saudita aumentaram de 26 milhões para quase 60 milhões de euros.

O material vendido incluiu partes de mísseis, metralhadoras, pistolas, munição e granadas, além de peças para aviões de combate, sistemas de comunicação e vigilância para navios militares.

E o negócio continua a crescer. De acordo com o relatório oficial sobre as exportações de armas, em 2014 a Alemanha vendeu armamentos no valor de 209 milhões de euros para a Arábia Saudita, incluindo equipamentos militares no valor de 51 milhões de euros. Só no primeiro semestre de 2015, o valor chegou a 180 milhões de euros.

As exportações incluem veículos off road, peças para veículos blindados e peças para aviões de combate, equipamento para reabastecimento aéreo, drones e quatro simuladores de tiro. Também foi aprovada a exportação de 15 barcos de patrulha.

Bundeswehr Soldaten Sturmgewehr G36 Heckler und Koch
Fuzil G36, fabricado pela empresa alemã Heckler KochFoto: picture-alliance/dpa/A. Burgi

Restrições à exportação

No ano passado, o governo alemão rejeitou, no entanto, a exportação de tanques Leopard e fuzis G36, assim como de componentes para montar a arma. Isso incomodou a Arábia Saudita, já que o país tem fábricas que podem produzir sob licença rifles G36 e G3, a submetralhadora MP5 e a pistola P7. Para fabricar o G36, no entanto, são necessárias as peças importadas da Alemanha.

O bloqueio também irritou a fabricante alemã de armas Heckler & Koch. A empresa iniciou uma disputa judicial para fazer valer uma licença de exportação para as peças.

O Ministério da Economia da Alemanha, que é responsável pela aprovação das exportações, afirma que faz a avaliação das licenças sem ceder à pressão. "Os acontecimentos recentes também serão considerados na nossa avaliação", disse um porta-voz . O Ministro da Economia, presidente do SPD e vice-chanceler, Sigmar Gabriel, afirmou que as avaliações vão se tornar ainda mais rigorosas e deixou claro que exportações de armas são uma questão da política externa e de segurança e não da política econômica.

Mas, para alguns políticos alemães, isso não é suficiente. Eles exortaram o governo a reagir de forma mais vigorosa às contínuas violações dos direitos humanos na Arábia Saudita. O porta-voz para política externa dos verdes, Omid Nouripour, disse que as execuções demonstram "como é ridícula a alegação de que o país é um fator de estabilidade" na região. Ele exigiu que o governo encerre oficialmente a parceria estratégica com os sauditas.

Já o presidente do grupo parlamentar teuto-árabe no Bundestag (câmara baixa do Parlamento), Michael Hennrich, defendeu a suspensão das exportações de armas para o país árabe. "A moratória sobre a venda de armas seria o sinal correto." A líder do Partido Verde, Katrin Göring-Eckardt, exigiu o fim imediato de todas as relações comerciais com o reino saudita.