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Ativista norte-americana destaca desânimo que domina Rio+20

Roselaine Wandscheer14 de junho de 2012

Chefe das ONGs que participaram da Eco92 lembra da esperança e entusiasmo que cercavam conferência. Na Rio+20, clima é de descrença, mas líderes vão tentar ludibriar o público com documentos, acredita Judith Prather.

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Judith Prather, 68 anos, viveu todo o entusiasmo que marcou a primeira Cúpula da Terra, em 1992. Naquele ano, ela liderou 463 ONGs dos Estados Unidos e Canadá no evento no Rio de Janeiro. Vinte anos depois, ela está de volta – acompanhada do marido, a psicoterapeuta e ativista norte-americana está na Rio+20 como blogueira independente para abastecer com informações seus 10 mil leitores.

A empolgação geral vista há duas décadas perdeu espaço para o ceticismo. Judy, como é conhecida, acredita que os desastres globais vistos desde 1992 (11 de Setembro, tsunami, crise) fizeram com que o mundo perdesse o foco e deixasse a crise ambiental de lado. E lamenta a pouca repercussão internacional da Rio+20: nos Estados Unidos, a cobertura sobre a conferência de desenvolvimento sustentável é praticamente nula.

Deutsche Welle: Você ainda se lembra do clima dominante na Eco92?

Judith Prather: Havia muita paixão pelo meio ambiente. Havia um senso geral de importância, de que tínhamos que resolver todos os problemas ainda nos anos 1990. Al Gore, num dos seus discursos, dizia que aquela era a hora, que provavelmente não teríamos mais tempo em 2000. As pessoas estavam nesse clima, que tínhamos que achar soluções com urgência.

Havia certo conflito na delegação norte-americana: cada organização tinha suas próprias ideias da "coisa certa". Eu, eleita a líder, disse: "Se lutarmos uns contra os outros, como acham que faremos diferença no mundo?" Tínhamos que reconhecer uma grande realidade – o mundo não achava que os norte-americanos se preocupavam com o tema, e tínhamos que mostrar que havia um grupo comprometido.

Mas essa visão que o mundo tem dos Estados Unidos não mudou nos últimos 20 anos. O governo ainda é acusado de não ter comprometimento com a política ambiental, não participa de tratados internacionais, como o de Kyoto.

Definitivamente, eu acho que essa é a percepção do mundo em relação aos EUA. Em 1992, Bush, o pai, era presidente. Ninguém sabia até o dia da conferência se ele viria, havia impressões negativas. Então veio o Clinton, e ele esteve envolvido por muito tempo com seus problemas pessoais. Tivemos "Bush 2", que definitivamente não estava interessado no tema. Quanto ao Obama, acho que, se ele for reeleito, nós teremos mais ação.

Mas não acho que a solução vem daí. Acho que as pessoas que precisam ganhar mais poder são os conselhos municipais e prefeituras, conselhos escolares. É preciso ensinar as crianças a viver de uma maneira mais sustentável. Não espero que a iniciativa venha do governo.

Há a mesma esperança e entusiasmo na Rio+20? As expectativas são altas?

Ainda não. Eu gostaria de acreditar que os governos e empresários se engajassem e começassem a construir um consenso. Mas não estou investindo minhas fichas nisso. Ainda fico imaginando o que sairá oficialmente dessa conferência. E eu não vou dizer que tenho grandes esperanças. Acho que haverá diferentes posições, haverá coisas rascunhadas que farão as pessoas acharem que há coisas sendo feitas. Eu adoraria estar errada. Mas agora eu não acho que estou.

Por que tanta descrença?

É uma pergunta incrível, mas acho que há varias respostas. Os grandes desastres globais que aconteceram desde 1992, como o 11 de Setembro, tsunami no Japão, a crise, fizeram com que os países sempre tivessem algo para se preocupar internamente e perdessem o foco na questão ambiental.

As ONGs também colaboraram para isso. Elas se tornaram, de alguma maneira, parte do "staff", ficou tudo homogêneo. Em 1992, havia um movimento de "baixo para cima", um movimento de base. Ao longo do processo perdemos isso. O meu desejo é que esse senso possa voltar.

Entrevista: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque