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Assaltante Ronald Biggs morre em Londres aos 84 anos

18 de dezembro de 2013

Britânico participou do famoso assalto a um trem pagador em 1963. Após fugir da prisão, Biggs se refugiou no Brasil em 1970, voltando para o Reino Unido apenas em 2001.

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Foto: Reuters

Ele escapou da prisão e passou décadas fugindo da Justiça britânica, tornando-se um dos mais célebres criminosos do Reino Unido. Mas agora uma vida de aventuras chegou ao fim: de acordo com relatos da mídia, após vários derrames cerebrais, o assaltante Ronald Biggs morreu em Londres nesta quarta-feira (18/12) aos 84 anos

Biggs passou 36 anos em fuga, a maioria dos quais no Brasil, onde teve um filho, Michael Biggs, que foi membro do grupo infantil Turma do Balão Mágico. Após o roubo ao trem pagador, a maior parte dos assaltantes foi presa, incluindo Ronald Biggs. No entanto, a sua espetacular fuga da prisão londrina de Wandsworth e sua posterior ida para o Brasil lhe garantiram celebridade.

Após voltar voluntariamente para o Reino Unido por motivos de saúde, em 2001, Biggs foi preso novamente. Em 2009, recebeu um indulto humanitário por motivo de saúde, ficando aos cuidados do filho, Michael, nos últimos anos. Nesta quarta-feira, Michael deixou um recado na secretária eletrônica de seu celular, dizendo que não estaria recebendo chamadas "por motivos óbvios".

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Polícia investiga trem roubado em agosto de 1963Foto: picture-alliance/dpa

Fuga para o Rio de Janeiro

Ronald Biggs era o mais conhecido do bando de 15 assaltantes que roubou, em 8 de agosto de 1963, um trem postal que ia de Glasgow a Londres com pagamentos no valor de 2,6 milhões de libras, o que equivaleria hoje a 46 milhões de libras ou 173 milhões de reais. Pouco tempo depois, 11 dos 15 assaltantes foram presos. Biggs foi então condenado a 30 anos de prisão.

Provavelmente seu nome teria sido esquecido se ele tivesse cumprido toda a sentença, mas 15 meses depois de ser preso, Biggs escapou da prisão de Wandsworth escondido num caminhão que transportava móveis. Em Paris, submeteu-se a uma operação plástica no rosto, fugindo então para a Austrália até chegar ao Rio de Janeiro, em 1970.

No Brasil, Biggs teve um filho com uma brasileira, o que o impediu de ser deportado para o Reino Unido, já que na época o país não tinha acordo de extradição com o Brasil. No Rio de Janeiro, Biggs levou uma vida relativamente calma, vivendo da venda de camisetas ou levando turistas para churrascos em seu jardim, onde narrava e se gabava do famoso roubo.

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Michael Biggs ao lado pai, Ronald Biggs, por ocasião da autobiografia do famoso assaltante, em 2011Foto: Reuters

Biggs também foi um dos proprietários do clube dark-gótico carioca Crepúsculo de Cubatão e chegou a gravar a música No one is innocent com o grupo punk britânico Sex Pistols, em 1978.

Sem arrependimentos

Depois de décadas de exílio, Biggs voltou ao Reino Unido, em 2001, para poder tratar da saúde. Mal havia pisado em seu país, foi detido e encarcerado novamente. Oito anos mais tarde, foi libertado após vários acidentes cardiovasculares, mas se recuperou.

Em várias ocasiões, Biggs declarou que não estava arrependido e que até mesmo sentia orgulho do que fez. "Se querem me perguntar se me arrependo de ter sido um dos ladrões do trem, eu diria que não", declarou por ocasião do cinquentenário do roubo ao jornal Daily Mirror. "Eu até mesmo me atreveria a ter ido mais longe. Sinto-me orgulhoso de haver participado."

No entanto, Biggs também disse saber que, no assalto, o condutor do trem sofreu ferimentos graves, dos quais nunca se recuperou. Para o ladrão, esse foi um fato "lamentável", mas ele também disse pensar nas famílias das pessoas que participaram do assalto, que pagaram um preço muito alto, argumentou.

Dividindo opiniões

Biggs foi visto pela última vez em público em agosto deste ano. Ele participou de uma cerimônia no cemitério londrino Highgate em memória do mentor do assalto ao trem pagador, Bruce Reynolds, que havia morrido em fevereiro deste ano, aos 81 anos de idade.

Szene aus dem Film Die Gentlemen bitten zur Kasse
Cena do filme "Die Gentlemen bitten zur Kasse", um dos maiores sucessos da TV alemã, exibido em 1966Foto: NDR

Frágil e cadeirante, Biggs já não podia mais falar após os vários derrames cerebrais. Além dele, somente três outros membros do bando ainda estavam em condições de participar da cerimônia. No total, após serem presos, os assaltantes receberam penas de mais de 300 anos de prisão.

Mas os ladrões caíram nas graças do público, que passou a ver neles uma espécie de Robin Hood. O roubo do trem pagador e a fuga de Biggs e de outros assaltantes também foram temas de vários filmes, como o clássico alemão em três episódios Die Gentlemen bitten zur Kasse (1965), a produção alemã mais cara da época.

No entanto, essa fama também dividiu opiniões devido ao ataque ao condutor do trem. Durante o assalto, o condutor Jack Mills foi golpeado na cabeça. Ele morreu sete anos mais tarde, e muitas pessoas acreditam que os ferimentos sofridos durante o roubo contribuíram para a morte do condutor.

CA/afp/dpa/rtr