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Análise para determinar causa da morte de Jango é inconclusiva

1 de dezembro de 2014

Peritos não encontram sinais de medicamentos tóxicos ou veneno nos restos mortais do ex-presidente, mas dizem que análises foram prejudicadas pela ação do tempo.

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Foto: Getty Images

A perícia dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, que morreu há 38 anos na Argentina, não conseguiu confirmar a suspeita de assassinato por envenenamento, mas ainda assim os peritos disseram que a hipótese não pode ser descartada.

A análise divulgada nesta segunda-feira (01/12), em Brasília, não identificou a presença de medicamentos tóxicos ou veneno que pudessem ter causado a morte de Jango. O laudo final da perícia dos restos mortais concluiu que o ex-presidente, deposto do poder em 1964, realmente pode ter sido vítima de um enfarte, como foi informado à época por autoridades do regime militar, devido a um histórico de cardiopatias.

A negativa da presença de medicamentos tóxicos ou veneno, no entanto, não significa que Jango não tenha sido assassinado. De acordo com peritos que participaram das investigações, as análises foram prejudicadas pela ação do tempo.

"Do ponto de vista científico, as duas possibilidades [enfarte e envenenamento] se mantêm", disse o perito cubano Jorge Perez, indicado pela família Goulart para participar das investigações. Foram investigadas 700 mil substâncias químicas, de um universo de mais de 5 milhões conhecidas.

"Os resultados podem concluir que as circunstâncias são compatíveis com morte natural. O enfarte pode ser compatível, mas a morte pode ter sido causada por outras cardiopatias", diz trecho do relatório final da análise. "A negativa [da presença de veneno] não permite negar que a morte tenha sido causada por envenenamento", diz outro trecho.

O filho de Jango, João Vicente Goulart, disse que a família já esperava que o resultado não fosse conclusivo. Ele reivindicou que o Estado brasileiro faça o compartilhamento de documentos com outros países e que cobre o depoimento de agentes americanos que contribuíram com o regime militar brasileiro.

A análise dos restos mortais de Jango teve início no dia 13 de novembro do ano passado e foi feita por laboratórios do Brasil, da Espanha e de Portugal. O trabalho também foi acompanhado por peritos da Argentina, do Uruguai e de Cuba, representantes da Cruz Vermelha, do Ministério Público Federal, além da família de Jango. O resultado será entregue à família do ex-presidente e posteriormente à Comissão Nacional da Verdade.

Deposto pelo regime militar (1964-1985), Jango morreu no exílio, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina. O objetivo da exumação é descobrir se ele foi assassinado. Por imposição do regime militar brasileiro, o corpo de Goulart foi enterrado em sua cidade natal, São Borja, no Rio Grande do Sul, sem passar por autópsia. Desde então, existe a suspeita de que a morte tenha sido articulada por autoridades das ditaduras brasileira, argentina e uruguaia, em meio à Operação Condor.

AS/abr/dpa