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Andreas Dorau: dois do mesmo tipo

Rodrigo Rimon10 de junho de 2005

Bayern de Munique: só faltava cantar – Selo berlinense compila pérolas do pós-punk paulista – Kraftwerk lança primeiro álbum ao vivo em 35 anos – Christina Stürmer: Avril Lavigne dos Alpes – A dupla vida de Andreas Dorau

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Andreas e Dorau seguiram caminhos opostosFoto: Christian Küpker

Futebol e cantar, por que não evitar?

Quem leu a coluna de maio certamente não se esqueceu do perigo alertado pela revista Spex envolvendo a escolha da música tema da Copa de 2006. O Bayern de Munique acabou de dar um exemplo do risco que correm os fãs da boa música. Tudo bem que a equipe foi campeã da Bundesliga e da Copa da Alemanha com apenas uma semana de intervalo. Mas agora o time lançou um CD para comemorar a inauguração do novo estádio de Munique.

A maioria das músicas é interpretada pelo "Bayern Fans United" (medo!), mas até o velho Franz Beckenbauer arriscou cantar. O disco acompanha um DVD com imagens do novo estádio. Detalhe: o disco é cortado na forma do estádio. Mantenha distância!

São Paulo Calling

Uma pequena gravadora de Berlim andou em busca de pérolas no fundo do mar – do nosso mar, diga-se de passagem. E encontrou.

CD Cover Nao Wave
Capa do CD 'Não Wave'Foto: Man Recordings

O selo Man Recordings lançou uma compilação de 14 faixas intitulada Não Wave, reunindo pérolas ;-) do pós-punk paulista de 1982 a 1988. A seleção foi feita por Andy Cumming, Miguel Barella e o jornalista Alex Antunes e inclui faixas de bandas como Fellini, Ira!, Mercenárias e Akira S. & As garotas que erraram.

Em um artigo intitulado São Paulo Calling, o site alemão Spiegel Online resenhou o CD. "Retrato de uma subcultura que vai além de clichés folclóricos", foi o veredito, cujas bandas são "heróis" de um movimento que o site recomenda redescobrir. Tudo muito bom, não fosse um detalhe. Acompanhe: "Quem, ao pensar em Brasil, só pensa em samba, bossa nova e Ricky Martin, agora vai aprender algo novo". Ricky Martin???

Kraftwerk: no mínimo, o máximo!

Kraftwerk Man Machine
Foto: EMI Music Germany

Data histórica para fãs do Kraftwerk, este 6 de junho de 2005: os pioneiros da música eletrônica lançaram seu primeiro álbum oficial ao vivo (em 35 anos de carreira!) que, como se não bastasse, ainda é duplo (22 faixas!). Nostálgicos e DJs podem preferir a caixa com quatro LPs, quem quiser ver os shows vai dar preferência ao DVD duplo.

Kraftwerk
Capa do CD 'Minimum Maximum'Foto: EMI

Quem curte, que vá atrás, pois Minimum-Maximum, como foi batizado, contém praticamente todos os clássicos da banda, gravados em shows em Londres, Paris, Budapeste, Varsóvia e Moscou, entre outras cidades que fizeram parte da última turnê internacional (quem se lembra do show inesquecível da banda no Tim Festival, em 2004, em São Paulo?). Para divulgar o novo álbum, a banda fará uma turnê por Estados Unidos e Europa. Não, o Brasil não está presente nem no novo disco, nem na nova turnê. Lamentável.

Rebeldia nos Alpes

Christina Stürmer conta 23 anos, tem cara e jeito de adolescente rebelde, mas mesmo assim já é uma respeitável popstar em seu país de origem, a Áustria. Agora ela quer conquistar o mercado alemão e, para isso, lançou no país o álbum Schwarz/Weiss (Preto/Branco) com os maiores sucessos de seus dois primeiros discos, além de duas faixas inéditas.

Christina Stürmer
Christina StürmerFoto: Ben Wolf

Talvez seja uma boa dica para quem curte o som de Avril Lavigne, Pink e cia. Só que com algumas diferenças: ao contrário de Pink (NY), Christina Stürmer não vem de nenhuma cidade grande, mas de uma pequena vila nos Alpes austríacos. E canta em alemão.

Leia mais na próxima página sobre o novo álbum de Andreas Dorau

Andreas + Dorau = Andreas Dorau!!

Incrível o quanto da fria matemática se esconde por trás da música pop – não só da alemã, como certas más línguas envenenadas pelo velho estereótipo do "alemão calculista" ressalvariam com prazer. Embora há de se admitir que o exemplo de Andreas Dorau venha reforçar sua tese. Não digamos que o músico de Hamburgo sofra de esquizofrenia, mas que ele convive com pelo menos dois dele mesmo sob um mesmo nome.

Voltemos um pouco no tempo. Em 1981, Andreas tinha apenas 16 anos e a Alemanha começava a ser tomada pelo fenômeno musical da Neue Deutsche Welle – nem vale mais a pena pôr em itálico, já que a maioria sabe do que se trata. Finalmente, a Alemanha cantava em alemão.

Andreas Dorau
Andreas DorauFoto: Christian Küpker

Naquele ano, Dorau lançou o single Fred vom Jupiter, que conta a história de um alienígena forçado a aterrizar na Terra por falta de combustível em sua nave. Uma simples seqüência de bateria eletrônica, equipamentos baratos e o vocal de fundo das Marinas, meninas entre 12 e 14 anos. Resultado: o álbum de estréia (Flores e Narcisos – 1982) emplacou nas paradas e Dorau invadiu as rádios.

Com o segundo álbum (Os Doraus e a as Marinas dão respostas francas a perguntas urgentes – 1983) veio a decepção. Dorau não ficou satisfeito com o resultado e chegou até a pensar em abandonar a música.

Mesmo assim, dois álbuns seguiram (Democracia – 1988, Aborrecimentos com a imortalidade – 1992). Nesse meio tempo, uma coisa ficou clara: Dorau não queria mais trabalhar com uma banda. Andreas e Dorau tomaram então caminhos opostos.

Anônimo, instrumental, descompromissado

Mas estávamos então no começo dos anos 90. Estilos como house e tecno lotavam clubes nas principais cidades da Europa e ninguém mais precisava de uma banda. Dorau menos ainda: ele logo adotou os princípios da música anônima e instrumental e bola pra frente.

Aí vieram Neu (1992) e 70 minutos de música de origem desconhecida (1997). São discos cheios de samples e com o espírito descompromissado do tecno, mas sempre com uma estrutura de canções tradicionais, com textos em alemão. Uma delas é Girls in Love, um sucesso que ultrapassou as fronteiras da Alemanha.

Mas a desilusão de Andreas Dorau não desapareceu. Pelo contrário, ele se sentia dividido entre a música eletrônica e a cultura dos clubes noturnos, de um lado, e a velha arte da composição tradicional, de outro.

Eu e você, você e eu

Sete anos se passaram. Tempo para pensar em como deixar suas duas metades comporem um mesmo disco. Agora, Andreas e Dorau, nossos dois músicos, voltaram com Ich bin der eine von uns beiden (Eu sou um de nós dois), seu sétimo álbum.

Andreas Dorau
Capa do novo CD de Andreas DorauFoto: Christian Küpker

Na capa, um homem abraça um javali que está vestindo um pulôver onde está escrito Dorau. Na contracapa, vê-se que o homem que o javali abraça traz nas costas o nome Andreas.

O jornal Tagesspiegel, de Berlim, definiu bem sua natureza musicalmente ambígua: "Se por um lado ele ama a melodia fácil e os dramas de três minutos da música pop, por outro ele é fã da música house e das promessas de transe das batidas eletrônicas".

De um dos dois você vai acabar gostando...

A vencedora do CD Am I My Brother’s Keeper?, dos Brothers Keepers, sorteado por esta coluna no mês passado, é Lívia França Tavares de Souza, de Maceió–AL. Não se preocupe, Lívia, você será avisada por e-mail e receberá o CD no endereço fornecido.