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Amós Oz recebe prêmio por "Judas"

Sabine Peschel (lpf)29 de junho de 2015

Escritor israelense é homenageado na Alemanha por romance em que, mais uma vez, discute existência de Israel e relação entre judeus e cristãos. Obra reflete turbulências históricas dos últimos 2 mil anos.

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Foto: picture-alliance/dpa/C. Charisius

O escritor israelense Amós Oz será agraciado com o Prêmio Internacional de Literatura 2015, concedido pela Casa das Culturas do Mundo (Haus der Kulturen der Welt), em Berlim, e pela Fundação de Partículas Elementares de Hamburgo, anunciou o júri nesta segunda-feira (29/06). Oz foi premiado pelo romance Judas, de 2014.

"Quão seguros judeus podem se sentir neste mundo?", perguntou o autor em entrevista à DW à época do lançamento do livro em hebraico. "Não estou pensando nos últimos 20 ou 50 anos, mas sim nos últimos 2 mil anos", disse o autor, de 76 anos.

Como em todos os seus romances e contos, no mais tardar após De Amor e Trevas, de 2002, Judas também aborda questões básicas sobre a existência de Israel: a fundação do Estado no contexto do Holocausto e as guerras e confrontos com os palestinos.

Em Judas, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, três gerações convivem numa casa na periferia do centro antigo de Jerusalém no final dos anos 1950. Schmuel Asch precisa urgentemente encontrar um trabalho. A empresa do pai está arruinada, assim como o sustento do filho.

Em troca de acomodação e uns trocados, o fracassado estudante de Teologia lê e conversa com um idoso portador de deficiência física, um homem culto chamado Gershom Wald. Schmuel passa a viver com o senhor e a nora viúva na casa silenciosa.

"Jesus aos olhos dos judeus" era o tema da planejada tese de mestrado de Schmuel e serve de excelente base para suas conversas filosóficas com o idoso. Somente aos poucos fica clara para o jovem a relação do velho com a outra habitante da casa. A misteriosa Atalia era a mulher do falecido filho de Gershom.

O filho chamava-se Micha. Ele é um dos dois mortos que deixaram lacunas às quais levam as perguntas não ditas do velho e da nora. O outro morto é o famoso pai de Atalia, Schealtiel Abravanel, um fictício adversário de David Ben-Gurion, o primeiro premiê de Israel. Oz constrói o personagem de Abravanel repleto de contradições psicológicas: enquanto luta por uma coexistência pacífica com os palestinos, se distanciando da Agência Judaica e da Organização Sionista Mundial, não lhe resta amor pela filha. Ele é tachado de Judas e traidor.

Milênios de história

Judas é um romance filosófico, que, apoiado na literatura teológica, lida com a questão da traição. Por que Judas teria traído Jesus em troca de 30 moedas de prata? Não é verdade que Judas honrou seu mestre mais do que todos os outros discípulos e só queria provar que Jesus era todo-poderoso e poderia salvar a si mesmo da cruz?

A resposta à pergunta repetidamente discutida no romance de Oz, que toca o âmago da relação entre judeus e cristãos, não tem importância apenas teológica, mas também política. A descrição da crucificação de Jesus da perspectiva de Judas é uma das passagens mais impressionantes do livro.

Também é magistral a maneira como Oz consegue evocar a Jerusalém do inverno de 1959, 1960. Na atmosfera densa e cinza, fica claro desde o início que também a história de amor que surge entre Atalia e o ex-estudante de Teologia deveria ser condenada ao fracasso. É como se o tempo parasse, mas nas conversas, nas perdas e nas esperanças dos três moradores da casa refletem-se todas as turbulências históricas não apenas das últimas décadas, mas dos últimos 2 mil anos.

Oz receberá o Prêmio Internacional de Literatura, ao lado de sua tradutora para o alemão, Mirjam Pressler, no dia 8 de julho, em Berlim. O escritor será agraciado com 25 mil euros e Pressler, com 10 mil euros.