1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Casais binacionais

28 de novembro de 2010

Aprender a superar disparidades culturais é fundamental para o sucesso das relações entre pessoas de nacionalidades diferentes. E quanto mais internacional a atmosfera, mais fácil essa tarefa se torna.

https://p.dw.com/p/QIDi
Cerca de 1,4 milhão de alemães se relacionam com estrangeirosFoto: DPA

Era a primeira vez que Lara Brück-Pamplona e Sven Brück iam a uma sauna no Brasil juntos. Depois de se trocar no vestiário e colocar seu traje de banho, a professora brasileira se deparou com seu marido alemão nu, no meio do corredor do clube, pronto para seu momento de relaxamento sob o vapor.

Antes que alguém pudesse vê-lo, Lara gritou para que Sven vestisse algo, afinal, ao contrário da Alemanha, no Brasil as saunas, de maneira geral, exigem trajes apropriados. O episódio, hoje lembrado com bom humor, é apenas um exemplo das situações que pessoas envolvidas em uniões binacionais estão sujeitas a enfrentar devido às disparidades culturais entre uma nação e outra.

Laços entre Brasil e Alemanha

Casais com nacionalidades diferentes existem muitos. Somente na Alemanha, o Departamento Federal de Estatísticas estima que 1,4 milhão de pessoas mantenham um relacionamento amoroso com um estrangeiro. E, muito embora não existam números oficiais do número de teuto-brasileiros entre esses casais, os exemplos dessa mistura são expressivos.

No Brasil, a maioria dos casais binacionais é, segundo o IBGE, formada por mulheres brasileiras casadas com homens de outra nacionalidade. Segundo o instituto, somente em 2009, 5.339 brasileiras disseram "sim" a seus pretendentes de fora do país, enquanto 1.712 homens brasileiros se casaram com estrangeiras.

Driblando barreiras culturais

Quando se trata de casamentos binacionais, uma série de desafios precisa ser superada. O professor Albertino Moreira da Silva, casado com uma estudante alemã, por exemplo, teve de mudar seus conceitos sobre os papéis tradicionais do homem e da mulher para que seu relacionamento desse certo.

"Na Alemanha, a mulher tem muito mais poder dentro da sociedade. Vindo de uma cultura machista como a brasileira, não é fácil para a maioria dos homens se adaptar à divisão de poder entre os gêneros", afirma.

A alemã Gabriele Ruth Riffel sentiu na pele o que é viver em um ambiente menos liberal que o seu. "Cheguei ao Brasil em 1979 e estranhei o fato de haver tão poucas mulheres dirigindo. Elas também não podiam ir a restaurantes e bares sozinhas ou ficavam malvistas se fizessem isso", recorda-se.

Segundo a dona de casa, hoje, mais de 30 anos depois, a sociedade brasileira mudou, mas não completamente. "As mulheres têm seus empregos e os mesmos direitos que os homens, mas a cultura do machismo ainda é muito forte neste país."

Diferenças à mesa

A diferença de hábitos à mesa também pode ser um momento conflitante entre casais formados por brasileiros e alemães. E nem é preciso se restringir ao gosto por joelho de porco ou ao costume de comer purê de maçã como acompanhamento de um prato salgado, por exemplo.

A brasileira Adriana S. se viu em uma saia justa quando, em um almoço ao lado da família de sua companheira, Nina T., começou a comer assim que se serviu, sem esperar pelos demais – um hábito típico alemão. "Eu sequer me lembrava do episódio", afirma Nina, mostrando que não se ater a pequenas gafes é a melhor receita.

Quem também sofreu com diferenças culinárias foi o comediante John Doyle, autor do livro Don't Worry, Be German (Não se preocupe, seja alemão). O norte-americano se mudou para a Alemanha e passou a estudar os hábitos locais que achava curiosos. Além disso, Doyle se casou com uma mulher do país, o que o fez se deparar com todas as características que analisou anos a fio.

"Quando vamos a um restaurante all you can eat, minha esposa sempre termina depois do quinto prato e pede para eu fazer o mesmo, dizendo 'você já está gordo demais'. Minha resposta é sempre 'querida, estamos em um restaurante all you can eat, você tem que comer muito'".

Mesmo com diferenças culturais tão drásticas – os norte-americanos adoram o excesso alimentar, enquanto os alemães abominam o desperdício –, Doyle vive em um casamento feliz. Sua solução? O bom humor. "Sem isso, não é possível ficar casado com uma pessoa de outra cultura. Sem bom humor, acho que o relacionamento não duraria um ano", diz.

Ambiente multicultural como facilitador

Se para alguns um relacionamento binacional pode ser muito trabalhoso, para as pessoas que foram criadas ou convivem em ambientes internacionais os desafios desse tipo de união são tirados de letra.

O alemão Torsten Müller pensa o mesmo de seu relacionamento com a brasileira Caroline Godoy d' Essen. "Ela é cheia de otimismo, leveza e espontaneidade e talvez isso tenha a ver com a cultura também, já que dizem que o brasileiro é cheio de vida, com uma visão otimista das coisas."

Para Torsten e Carolina, buscar compreender os hábitos do outro também foi fundamental. "Acredito que nosso interesse pela cultura um do outro, por entender a maneira como cada um de nós foi criado e que tipo de infância e adolescência tivemos, ajuda muito", diz Carolina. "Se não tivéssemos interesse em compreender como é ser criado em uma cultura diferente da própria, provavelmente iríamos bater muito a cabeça."

São casais como estes, que fazem uso do bom humor, preservam a harmonia e estão prontos para receber o novo de braços abertos, que fazem a máxima já cantada por Samuel Rosa, da banda brasileira Skank, permanecer eternamente uma verdade: "De vez em quando é bom misturar um brasileiro com um alemão".

John Doyle
Doyle publicou um livro bem humorado sobre os costumes dos alemãesFoto: Boris Breuer

Autora: Monique dos Anjos

Revisão: Soraia Vilela