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Mal de Alzheimer

7 de janeiro de 2012

Em entrevista à Deutsche Welle, o cientista Oskar Hansson da Universidade de Lund, na Suécia, explica que descobrir os riscos de se ter o mal com tamanha antecedência poderá ajudar a melhorar a eficácia do tratamento.

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Alterações de bioindicadores revela estágio inicial da doença
Alterações de bioindicadores revela estágio inicial da doençaFoto: picture alliance/dpa

O Mal de Alzheimer é uma doença neuro-degenerativa debilitante, associada à perda de memória, demência e eventualmente perda de funções motoras. Frequentemente é difícil diagnosticá-la antes que ela já tenha progredido em um paciente. De acordo com o Centro Internacional de Alzheimer, cerca de 10 milhões de pessoas sofrem de demência apenas na Europa, sendo que o Alzheimer responde pela maioria dos casos. Durante anos, cientistas em todo o mundo têm tentado encontrar novos tratamentos ou mesmo a cura para ao mal, mas poucos até agora se mostraram realmente efetivos.

Em um novo relatório científico publicado na edição do dia 1º de janeiro deste ano na revista Archives of General Psychiatry, um grupo de pesquisadores suecos mostrou ser possível detectar indivíduos com alto risco de desenvolver Alzheimer dez anos antes de eles apresentarem qualquer sintoma. Se essa técnica mostrar êxito, ela poderia se tornar uma importante ferramenta para tratar futuramente os pacientes.

Para saber um pouco mais sobre o assunto, a Deutsche Welle conversou com Oskar Hansson, professor de neurociência da Universidade de Lund, na Suécia, coautor do estudo.

Hansson: 'doença começa muito mais cedo do que a gente pensava'
Hansson: 'doença começa muito mais cedo do que a gente pensava'Foto: Hansson

Deutsche Welle:Suas pesquisas sobre Alzheimer realmente sugerem que é possível detectar a doença dez anos antes de os sintomas aparecerem?

Oskar Hansson:Sim, o que temos mostrado é que é possível detectar as pessoas que têm alto risco de desenvolver o Mal de Alzheimer dez anos antes de elas desenvolverem a demência. O teste não é 100% preciso, então não é que se possa diagnosticar os pacientes antes de desenvolverem a demência, mas se pode identificar aqueles que têm alto risco de terem a doença no futuro.

Como se chegou a essa teste?

A pesquisa vinha nesta área havia dez anos. Estes bioindicadores, como os chamamos – os beta-amiloides e as proteínas tau – são conhecidos por sua associação com o Mal de Alzheimer. Mostramos que eles se alteram durante os estágios bem iniciais da doença.

Então, em outras palavras, a presença de alterações nestes bioindicadores aponta aumento da probabilidade de alguém desenvolver a doença.

Sim, é isso.

Anteriormente sua pesquisa fizera uma descoberta semelhante, mostrando ser possível detectar a tendência cinco anos antes dos sintomas. Agora, fala-se em dez anos. O que mudou?

Temos acompanhado os mesmos pacientes por um período adicional de cinco anos. O que mostramos é que a doença começa muito mais cedo do que pensávamos. Também é interessante do ponto de vista básico científico evidenciar que a patologia dos beta-amiloides parece ser um dos primeiros fatos que precedem a patologia tau, que vem logo em seguida. Mostramos isso claramente com o estudo.

O que são exatamente estas substâncias que estão observando, os beta-amiloides e a proteína tau?

Beta-amiloide é um pequeno peptídeo, uma proteína pequena que compõe as placas que se formam no cérebro de pacientes com Alzheimer. Isso é conhecido já há muito tempo. Tau é a proteína que se encontra sobretudo dentro dos neurônios afetados pelo Alzheimer. Eles formam o que chamamos de "emaranhado" nos neurônios. O que vemos no líquido cefalorraquidiano é que os níveis de beta-amiloide ficam mais baixos, por estarem presos nessas placas no cérebro. A proteína tau, no entanto, é maior no líquido cefalorraquidiano, porque os neurônios estão danificados e a tau escorre para fora deles.

Como se encontram, ou se medem, esses bioindicadores?

Alzheimer causa danos irreversíveis aos neurônios
Alzheimer causa danos irreversíveis aos neurôniosFoto: picture-alliance/ dpa

Fazemos uma punção lombar. É um procedimento simples, que leva entre 15 e 20 minutos. Não tem efeitos colaterais. Às vezes indivíduos mais jovens apresentam breves dores de cabeça. Geralmente não é feito por clínicos gerais, mas sim em clínicas neurológicas.

O valor ou a quantidade dessas substâncias varia, com o passar do tempo?

Níveis beta não variam muito com a idade, já os níveis tau aumentam levemente com a idade, de maneira geral. Mas no caso do Alzheimer eles parecem se alterar durante estágios bem iniciais – sabemos que pelo menos cinco, dez anos antes da doença. Talvez ocorra ainda mais cedo, mas isso realmente ainda não sabemos. Daí depois dessa alteração inicial, eles parecem se estabilizar durante a doença.

Quais implicações essa descoberta pode ter no tratamento do Alzheimer?

Acho que terá implicações principalmente nas avaliações clínicas. Porque muitas das avaliações quanto à efetividade dos novos tipos de terapia, com o fim reduzir ou mesmo deter a doença, não têm mostrado resultados promissores quando usadas em pacientes que já apresentam demência.

Então nós e muitos outros propomos que é preciso começar mais cedo com esses diagnósticos, quando os pacientes ainda apresentam sintomas amenos. Se se consegue identificar estes indivíduos com sintomas fracos, mas alto risco de desenvolver a doença, a probabilidade de alacançar efeitos positivos com as novas terapias será muito maior. Porque então se pode iniciar a terapia antes de danos neurológicos generalizados, e talvez antes que as alterações sejam irreversíveis.

Entrevista: Cyrus Farivar (msb)
Revisão: Augusto Valente