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Alemães de olho nas energias renováveis

Geraldo Hoffmann27 de junho de 2004

Alemanha vê no setor de energias regenerativas novas possibilidades de investimentos no Brasil. Livro traça perfil do mercado e dá orientações práticas aos empresários alemães.

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Capa do Manual de Exportação Brasil, publicado pela DENA

"Não é por falta de informações que as empresas alemãs não participam mais ativamente dos novos projetos de infra-estrutura no Brasil", disse recentemente o presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), Michael Rogowski, a 400 executivos dos dois países reunidos em Stuttgart. A troca de informações entre empresários e governos dos dois países está sendo flanqueada por novas publicações especializadas.

Um exemplo disso é o Manual de Exportação Brasil – Chances de Mercado para Energias Renováveis, publicado pela Agência Alemã de Energia (DENA), com o apoio do BDI, da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha (AHK) e do Instituto Alemão de Energia Eólica. O livro de 200 páginas (280 euros) traça um panorama do mercado energético brasileiro e mostra aos investidores alemães possibilidades concretas de venda da tecnologia das renováveis (eólica, solar e bioenergia) ao país.

Volta às origens

O primeiro capítulo da publicação contém dados gerais sobre o Brasil e sua matriz energética, além de apresentar os cinco principais programas oficiais de fomento às energias renováveis: PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), Luz no Campo, PRODEEM (Programa para o Desenvolvimento da Energia nos Estados e Municípios), o Decreto 2003 (sobre produtores independentes de energia elétrica) e resolução 223 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) sobre a universalização desse serviço.

Segundo o Ministério das Minas e Energia, o Brasil tem hoje uma capacidade instalada para gerar 80 mil megawatts, sendo que 60% da eletricidade é consumida no Sudeste. Até a metade do século 20, a biomassa era a principal fonte de energia do país. "Em 1941, 77% da energia era gerada de biomassa, 7% por hidrelétricas e 9% vinham do petróleo. Devido à industrialização e à concentração na indústria automobilística, a matriz energética do país mudou radicalmente após a Segunda Guerra Mundial", escreve a DENA.

A substituição da biomassa pelos combustíveis fósseis avançou a passos largos até a crise do petróleo da década de 70, que fez o Brasil voltar às suas fontes originais de energia. Hoje, 90% da eletricidade gerada no país é de origem hidrelétrica. Diante desse quadro, o mercado para novas fontes de energia pode parecer pequeno, mas não deixa de ser interessante para os alemães, donos de tecnologia de ponta nesse setor. A seguir, alguns números publicados no Manual sobre os diferentes segmentos das renováveis:

Energia eólica

Drache schwebt vor Windrad
Energia eólica ainda é pouco aproveitada no BrasilFoto: dpa

Segundo cálculos da DENA, somente com o vento que sopra em áreas não construídas, o Brasil poderia produzir entre 60 e 70 MW de energia eólica (50% na região Nordeste). Essa fonte ajudaria, por exemplo, a resolver o dilema do Rio São Francisco, usado para irrigação e geração de energia e que, em períodos de seca, não tem água suficiente para os dois fins. Atualmente, a capacidade eólica instalada é de apenas 22,6 MW nominais (80% no Nordeste). "Os ventos nessa região são bons, há áreas livres de sobra para instalar cata-ventos, mas o que falta é uma boa rede de distribuição", reclamam os autores do livro.

Os poucos cata-ventos em operação foram quase todos instalados a título de teste pela Wobben Windpower, subsidiária da Enercon alemã.

Energia solar térmica

As boas condições climáticas do Brasil também favorecem o aproveitamento da energia solar térmica, usada comercialmente no país desde meados do anos 90 para aquecer água. Segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA), cerca de 350 mil metros quadrados de coletores solares já estão instalados, principalmente em residências nos estados de São Paulo e Minas Gerais, mas fornecem apenas 0,5 % da energia consumida no país. A Caixa Econômica Federal, o Banco Real e o Banco do Brasil oferecem linhas de crédito especiais para ampliar o uso dessa energia, sendo que 140 empresas já atuam no setor.

Energia solar fotovoltáica

Apesar de ter uma insolação média superior à das nações industrializadas, o Brasil quase não aproveita essa fonte de energia. Calcula-se que apenas 40 mil coletores fotovoltáicos estejam instalados no país, produzindo 12 MWp, dos quais 6 megawatts foram financiados pelo PRODEEM. O restante foi viabilizado por projetos de fomento de organizações não governamentais e bancos de desenvolvimento, para a eletrificação no campo.

Segundo o Manual de Exportação, a energia fotovoltáica poderia ser usada, por exemplo, para suprir de eletricidade 20 milhões de casas no setor rural que ainda não dispõem de luz elétrica. Além disso, seria uma alternativa ecológica para fugir do apagão nas cidades, funcionando como fonte energética de emergência, concorrendo com os geradores portáteis.

Bioenergia

O mercado para geração de bioenergia a partir do bagaço da cana-de-açúcar somente no Estado de São Paulo é estimado entre 1 mil e 9 mil megawatts, dos quais 700 a 2 mil MW poderiam ser disponibilizados através das linhas de transmissão convencionais. Para o país inteiro, a geração com conexão direta à rede poderia variar entre 1 e 3,5 mil MW. Soma-se a isso um potencial inestimável de reaproveitamento de restos de madeira, biogás (por exemplo, de estrume e lixões urbanos), resíduos da indústria de papel e celulose, casca de arroz e óleo extraído da mamona para a produção de energia.

A maior fatia do bolo de bioenergia no Brasil é constituída pelos biocombustíveis. Boa parte dos 300 milhões de toneladas de cana-de-açúcar produzidas por ano é transformada em 12 bilhões de litros de álcool ou etanol, que é misturado à gasolina ou usado puro como combustível. Segundo a DENA, a Alemanha pode aproveitar esse potencial e comprar etanol pelo "acordo de 100 mil carros" firmado com o Brasil. Em troca, os alemães pretendem se livrar de 7 milhões de toneladas de CO2, vendendo ao Brasil certificados do comércio de emissões (CDM = Clean Development Mechanism) previstos no Protocolo de Kyoto.

Dicas e críticas

Apesar de estar recheado de tabelas e gráficos, o Manual de Exportação publicado pela DENA não se restringe apenas a estatísticas do mercado energético. Contém também avaliações feitas por consultores especializados e endereços de empresas e instituições atuantes no setor. O capítulo dedicado à legislação é complementado com formulários e dicas valiosas para cumprir todas as formalidades burocráticas em caso de investimento no setor de energias renováveis no Brasil. Informações adicionais sobre a publicação podem ser encontradas também na internet: www.exportinitiative.de (em alemão).

Segundo a DENA, as perspectivas para as empresas alemãs investirem no mercado brasileiro de renováveis são positivas, mas também existem certas dificuldades, como a "falta da reforma tributária, previdenciária e administrativa; juros e custos de mão-de-obra elevados; tensões sociais e altas taxas de criminalidade devido às extremas discrepâncias de renda". Além disso, o Manual inclui listas de barreiras econômicas e jurídicas específicas de cada tipo de energia (eólica, solar e bionergia) e descreve os principais passos para superá-las nos meandros da burocracia brasileira.