Alemanha rechaça mas Itália mantém acusação de chantagem
27 de julho de 2005"Nós temos provas, caso contrário não teríamos trazido o assunto à baila", declarou em Roma um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores italiano. "Mas não vamos citar nomes, porque não estamos interessados numa briga."
A briga, de qualquer forma, já se acirrou desde que o embaixador da Itália nas Nações Unidas, Marcello Spatafora, acusou, na Assembléia Geral da terça-feira (26/07), os países do chamado Grupo dos Quatro de chantagear alguns membros da ONU com a ameaça de cortar a ajuda ao desenvolvimento a eles destinada, se não aprovassem seu projeto de ampliação do Conselho de Segurança.
"São incriminações insustentáveis", declarou em Berlim Jens Plötner, porta-voz do Ministério do Exterior. O embaixador da Alemanha na ONU, Gunter Pleuger, também já rechaçara o ataque de Spatafora. "Não é neste nível que queremos promover um debate político."
Mesmo diplomatas do grupo Unidos para o Consenso, liderado pela Itália, se distanciaram das denúncias de Spatafora. "Elas não têm o menor fundamento", declarou também um porta-voz da missão do Japão junto à ONU.
Corte de ajudas financeiras
No começo desta semana, segundo Spatafora, um "país financiador" pertencente ao G-4 teria informado o governo de um determinado país sobre o corte de 385 mil euros destinados ao financiamento de um projeto. O embaixador italiano não citou nenhum nome, mas, entre os países que compõem o G-4 – Alemanha, Japão, Brasil e Índia – só a Alemanha e o Japão são considerados "financiadores". E o país atingido pelo "castigo" seria co-autor de uma resolução do grupo Unidos para o Consenso. Ou seja, viriam ao caso, entre outros, a Colômbia, a Costa Rica, o México e o Paquistão.
"Comportamento não-ético"
Em seu discurso, criticado por muitos diplomatas da ONU, o embaixador italiano comparou o comportamento do G-4 com o presumível escândalo de corrupção no antigo programa da ONU de ajuda ao Iraque, Petróleo por Alimentos.
O comportamento "inadmissível e não ético" do Grupo dos Quatro seria uma vergonha e uma ofensa à dignidade de todos os países-membros da ONU. Ao mesmo tempo, Spatafora instou o presidente da Assembléia Geral, Jean Ping, e o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a uma sindicância do caso.
Terceiro projeto de ampliação do CS
O pronunciamento de Spatafora deu-se no contexto da apresentação à Assembléia Geral de um terceiro esboço de projeto de ampliação do Conselho de Segurança, de autoria do grupo Unidos para o Consenso, integrado também pela Argentina, Canadá, Espanha e Turquia.
Este terceiro esboço exclui a criação de novos assentos permanentes, prevendo apenas uma ampliação do grêmio para 25 membros por meio da introdução de mais dez cadeiras rotativas a serem ocupadas em ritmo de dois anos. Roma, em especial, é contra a instituição de mais assentos permanentes: se a Alemanha conseguisse seu intento, a Itália seria o único grande país da Europa Ocidental sem participação permanente no Conselho de Segurança.