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Alemanha participa indiretamente da premiação em Cannes

Augusto Valente27 de maio de 2002

A Palma de Ouro de Cannes foi para um filme cujo tema é o Holocausto. "The pianist" foi co-financiado por três instituições alemãs e realizado também nos estúdios de Babelsberg.

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O palestino Elia Suleiman, diretor de "Divine Intervention", ao lado da atriz Manal Khader.Foto: AP

Há quase quatro décadas, o francês de origem polonesa Roman Polanski conta entre os diretores mais celebrados do cinema ocidental. A lista de seus sucessos de público e crítica vai desde Repulsa ao sexo (1965, com Catherine Deneuve) e O bebê de Rosemary (1968), ao film noir Chinatown (1974) e A morte e a donzela (1994), situado numa América do Sul ainda traumatizada pelas ditaduras. Agora, mais uma distinção coroa sua carreira: nada menos do que a Palma de Ouro do Festival de Cannes, com The pianist (2002).

Polonês, mas não apenas

Ao receber a Palma das mãos da atriz francesa Juliette Binoche, Polanski declarou-se orgulhoso em recebê-la por uma película que retrata a Polônia. Este sentimento é compartilhado por seu colega Andrzej Wajda, que recebeu o mesmo prêmio em 1981, com o político O homem de ferro: "The pianist foi feito na Polônia: as imagens, os figurinos, a música, os atores, a equipe", afirmou Wajda. O roteiro é igualmente de um polonês, Krzysztof Piesiewicz.

Contudo, o ator norte-americano Adrian Brody é quem defende o papel-título nesta co-produção franco-alemã: o "pianista" é o judeu Vladislav Szpilman, que conseguiu escapar do Holocausto e do gueto de Varsóvia. Ele acaba perdendo toda a família e tem que esperar o fim da guerra em diferentes esconderijos, padecendo de fome e outros flagelos. No fim, é salvo por um oficial alemão (Thomas Kretschmann).

A película foi rodada em grande parte nos tradicionais estúdios Babelsberg, de Berlim, e financiada com 1,69 milhão de euros por instituições alemãs: o Filmboard Berlin-Brandenburg contribuiu com 660 mil euros, e, respectivamente com mais de 510 mil euros, o Instituto de Fomento ao Cinema (FFA), de Berlim, e o FilmFernsehFonds da Baviera.

O jornal de Zurique Neue Zürcher Zeitung lembrou que, para boa parte da crítica, The pianist é acadêmico demais, "um drama convencional com perseguição de judeus, horror nazista e muito Chopin". Para Le Monde, cada cena é filmada com veemência excessiva, de forma que nada "consegue vibrar".

Uma vida turbulenta

Na mesma medida em que tem sido semeada de sucessos artísticos, a biografia de Polanski é plena de momentos trágicos. Nascido em 18 de agosto de 1933 em Paris, de origem judia, sua família logo mudou-se para a Polônia. Diversos parentes seus, inclusive a mãe do cineasta, foram deportados para campos de concentração nazistas e assassinados. O próprio Roman conseguiu sobreviver no gueto de Cracóvia.

Em 1969, sua esposa grávida, a atriz Sharon Tate (A dança dos vampiros), foi trucidada, juntamente com quatro amigos, pela quadrilha do maníaco Charles Manson. A chacina ocorreu na mansão do casal, em Beverly Hills e durante algum tempo, o próprio Polanski esteve suspeito de envolvimento. Na década de 80, ele voltou a ser manchete, pois sua predileção por ninfetas valeu-lhe uma acusação de abuso de menores.

Dinheiro alemão em Cannes

Além de The pianist, outras duas participações alemãs mereceram reconhecimento no mais importante festival europeu de cinema. A co-produção teuto-hispano-britânica Sweet sixteen, de Ken Loach recebeu um prêmio por seu roteiro. Já a franco-alemã Divine intervention, do palestino Elia Suleiman, arrebatou o Prêmio do Júri. Ambas foram em parte financiadas pela Filmstiftung NRW, respectivamente com 322 mil e 281 mil euros.